Apesar da redução de 0,31% em outubro, após 16 meses seguidos de alta, o preço da carne bovina acumula um aumento de 18% no ano nas cidades gaúchas e responde por um dos maiores pontos de pressão no orçamento familiar destinado à alimentação, segundo indica o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A prévia da inflação, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último mês, monitora a variação de preços nas capitais e regiões metropolitanas em 18 tipos de corte de carne vermelha, segundo explicou a economista e professora de Universidade de Passo Fundo (UPF), Cleide Moretto. Com isso, essa porcentagem aproximada também pode ser aplicada para estimar o comportamento nos preços do alimento nos estabelecimentos comerciais de Passo Fundo. “Desde o início da pandemia, o valor dos alimentos acabou subindo mais do que outros itens porque houve um aquecimento na demanda. Por outro lado, a incerteza levou muitos produtores a diminuir a produção”, justificou Cleide.
Os dois meses de embargo comercial aplicados pela China às exportações da carne brasileira, após o diagnóstico de dois casos atípicos da doença da vaca louca em Minas Gerais e Mato Grosso, fez com que os produtos fossem direcionados ao mercado interno. “Precisamos entender que uma coisa é a carne comprada no açougue ou supermercado, que afeta o nosso bolso, e a outra é a carne cotada inclusive como uma commodity, que vai afetar diretamente o produtor”, mencionou a economista. “A suspensão de compra de um dos principais países consumidores do produto brasileiro dá um choque. Os pecuaristas e os frigoríficos precisam dar uma freada porque não pode mais abater”, prosseguiu Cleide ao mencionar, também, a perda do poder aquisitivo da população durante os últimos meses. “A produção primária é inelástica. Isso significa que, se preço mudou, eu não tenho como imediatamente responder aquela mudança. Então, é possível que agora eles tenham diminuído um pouquinho o abate para não ter mais perda no preço, mas não vão poder postergar isso porque manter o gado alimentado gera custos”, ponderou a docente da UPF.
Tendências de mercado
Essa disparada nos valores pagos pela carne bovina, aludidos pela economista, fez com que os consumidores recorressem aos cortes menos nobres do boi e às proteínas substitutas, cujo aumento no consumo também impulsionou um acréscimo de preços e a cobrança do que antes era dado ou descartado pelos açougues, como os ossos dos animais abatidos, que agora passaram a integrar o prato dos moradores na ausência da carne. “Aumentou o preço do músculo e da ave. No acumulado do ano inteiro, o frango inteiro aumentou quase 20%”, especificou Cleide. “Deslocamos o consumo da carne de primeira para outra. São peculiaridades dessa dinâmica. A tendência, agora, é de tentar estabilizar nesse patamar por conta dos movimentos do mercado externo”, observou.
O último monitoramento elaborado pelos pesquisadores da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da UPF refletiu a inclinação na mudança de consumo mencionada pela economista. De acordo com o boletim, em agosto, foram necessários R$ 1.228,75 para a aquisição da cesta básica no município, ao passo que em setembro o valor foi de R$ 1.245,48, o que representa uma alta de R$ 16,73 por cesta e cujo valor do frango sofreu um aumento de 15,08% de um mês ao outro em Passo Fundo.