Impacto negativo da estiagem na produção agropecuária, efeitos da guerra na Ucrânia, inflação e juros em alta no Brasil e no mundo, além do risco de novas variantes do coronavírus e a perspectiva de baixo crescimento do país no ano, estão entre os elementos que colaboram para um olhar cauteloso sobre a economia do Rio Grande do Sul em 2022.
As perspectivas para o Estado trazidas no Boletim de Conjuntura, divulgado na terça-feira (12), apontam que após a forte recuperação registrada em 2021, com expansão de 10,4% do Produto Interno Bruto (PIB), há potencial para efeito em cadeia das perdas nas lavouras na indústria de transformação e também no comércio.
Elaborado pelos pesquisadores Fernando Cruz, Martinho Lazzari, Tomás Torezani e Vanessa Sulzbach, do Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), o documento analisa questões da conjuntura internacional, brasileira e do Estado e aponta perspectivas.
Na indústria de transformação, segmento industrial mais significativo da economia do Estado, os reflexos das perdas na agropecuária devem ser observados nas atividades ligadas aos produtos do fumo, máquinas e equipamentos e produtos alimentícios. O material aponta ainda os efeitos da guerra e do aumento de casos de coronavírus, especialmente na China, sobre o setor e também ressalta o impacto da alta no custo de operação das empresas e do "baixo dinamismo da demanda interna ao longo do ano" como possíveis empecilhos para o crescimento do setor.
No comércio, em especial no interior do RS, o material destaca a forte ligação do segmento com o setor primário e a possível repercussão das perdas nas lavouras.
"A junção de todas essas questões indica um 2022 bastante difícil para a economia gaúcha. A perspectiva de diminuição do crescimento mundial, principalmente em função do conflito entre Rússia e Ucrânia e de seus desdobramentos, se soma ao provável baixo crescimento da economia brasileira, consequência de problemas externos e, principalmente, internos", analisa Martinho Lazzari.
Cenário externo e nacional
O avanço da variante ômicron do coronavírus no último trimestre de 2021 prejudicou a retomada prevista para a economia mundial no ano passado, em especial nos países menos desenvolvidos. Por conta disso, 2022 começou com um cenário de desorganização na cadeia global de suprimento, elevação dos custos de produção e alta nos preços da energia e das commodities, ao mesmo tempo em que houve retirada dos estímulos econômicos promovidos por diversos países em função da pandemia. O documento do DEE/SPGG aponta ainda repercussões na inflação e na taxa de crescimento mundial em função do conflito no leste europeu.
"Como importantes produtores e exportadores de commodities como petróleo, gás natural, milho, trigo e fertilizantes, o conflito contribuiu para a disparada de preços, o que alimentou a inflação global e prejudica cadeias produtivas ao redor do mundo", avalia Tomás Torezani.
No Brasil, após uma alta de 4,6% no PIB em 2021, dados relativos aos primeiros meses do novo ano mostram quedas na produção industrial, nas vendas no comércio e nos serviços, um indicativo das dificuldades previstas para 2022. A inflação acima da casa dos 10% no acumulado de 12 meses, os juros elevados e o risco de novas variantes do coronavírus auxiliam a manter as expectativas para o ano cercadas de incertezas.
"O mercado tem revisado sistematicamente para baixo as projeções de crescimento para 2022 e 2023 desde o ano passado. As mais recentes, da primeira quinzena de março, apontam para crescimento de 0,5% do país em 2022 e 1,4% em 2023", aponta Fernando Cruz.
*Com informações da Agência EstadoRS.