Com uma alta de 44,39% nos mercados passo-fundenses no mês de junho, o leite ultrapassou a marca dos R$ 7,00. O aumento está relacionado à baixa produção durante o inverno e ao aumento do custo de produção, que tem refletido na menor oferta do produto no mercado. Os valores, no entanto, não se traduzem no que é repassado aos produtores, que vem recebendo pelo litro de leite cerca de R$ 3,00.
Falta de alimento e aumento do custo de produção
De janeiro a junho, o preço do leite em Passo Fundo registrou uma alta de mais de 100%, passando de uma média de R$ 3,20 para R$ 7,20, influenciado por fatores que vêm de dentro e de fora das propriedades rurais. No sistema de produção, o desenvolvimento das pastagens, uma das principais fontes de alimento dos animais durante o inverno, sofreu com os grandes volumes de chuva e a falta de sol, o que atrasou o seu desenvolvimento. “A pastagem diminui e ao diminuir a pastagem, a produtividade das vacas leiteiras também diminui. Isso afeta a quantidade e a oferta de leite disponível ao mercado. Uma oferta menor, faz com que o preço do leite se eleve”, explicou o economista e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Julcemar Zilli.
Com a pastagem prejudicada, a alternativa é recorrer a alimentos como a silagem, que teve sua qualidade e armazenagem prejudicada durante as estiagens dos últimos verões, e a ração, que tem como matéria prima commodities que apresentam preços internacionais que estão em alta, como a soja e o milho. “Então temos o baixo desempenho das pastagens de inverno, limitação do uso de silagem e além disso a elevação dos preços dos principais componentes das rações. Isso provoca a elevação dos custos de produção da alimentação do rebanho que reflete em uma menor oferta de leite no mercado”, esclareceu o extensionista rural da Emater RS, Vilmar Leitzke.
Vivendo no limite
Esse aumento no custo de produção é sentido por produtores de leite como Mauro Girardi, do interior de Passo Fundo, que comercializa leite há 14 anos. Com cerca de 32 vacas em lactação e uma produção de 22 a 25 mil litros por mês, Mauro conta que desde o início da pandemia os preços de produtos como fertilizantes, medicamentos e o sal mineral, utilizado na alimentação do gado, dobraram. “O sal mineral, a principal fonte de vitaminas para as vacas, do ano passado pra cá passou de R$89 o saco de 25kg para R$180. E no início do ano, trabalhamos no vermelho por três meses. Queremos que melhore, mas sabemos que vai sobrar para o consumidor”, comentou o produtor de leite.
De acordo com ele, a diferença do mercado e do que é pago para os produtores é muito grande, apesar de terem sentido um aumento de cerca de 35% no preço pago pelo litro nos últimos meses. No momento, Mauro recebe R$3,07 pelo litro. “Tivemos um aumento nos últimos quatro meses, todo mês subiu um pouco. Mas diferente do mercado que subiu mais de 100%. A diferença ficou no caminho, no transporte, na fábrica”, disse, acrescentando que ele e outros produtores têm observado é a falta do produto, o que acaba refletindo em um interesse maior das cooperativas, que oferecem e pagam mais para que o produtor permaneça vendendo para a mesma empresa. “Todos querem comprar, todos querem leite e eles precisam oferecer e pagar mais. Mas não há segurança. Eu nunca sei o que vou ganhar ou receber. É pra ter um aumento, mas não vamos saber quanto”, relatou Mauro.
Os produtores de leite entregam sua produção durante todo o mês, para então entre 10 a 15 dias receber, com a variação do mês sendo recebida só no mês subsequente. “Demora para chegar ao produtor esse preço. Vários degraus e pessoas trabalhando no limite. Para ter reflexo, deveriam ter preços consistentes por seis meses a um ano, para que o produtor consiga repor equipamentos e, remunerar melhor a mão de obra, começa a mudar o sistema”, explicou o extensionista rural da Emater, Vilmar Leitzke.
Para o leite chegar até a mesa
Nessa esfera, fora das propriedades e extra sistema de produção, Vilmar acrescenta que também foi observado o aumento dos custos de produção indiretos, como o preço do diesel, que impacta na distribuição do leite. “Nós precisamos do diesel dentro da propriedade e para preparar as pastagens, para produzir o leite. Dependemos para transportar o leite da propriedade até o resfriamento, depois à indústria, ao atacado e ao mercado. E isso tudo é transporte terrestre”, disse, acrescentando que isso se soma aos reflexos da inflação, que tem sido maior sobre os alimentos e ao preço da energia elétrica.
Cenário a curto prazo
A tendência é de que nos próximos meses, com as pastagens apresentando um melhor desempenho e a produção de leite atingindo volumes maiores, a oferta de alimento seja mais favorável e os preços baixem. No entanto, conforme afirmou o economista Julcemar, ele não voltará aos patamares do início do ano.