Após fechar o segundo trimestre com um crescimento de 1,4%, acima do que previam economistas (estimativas apontavam 0,9%), os analistas de mercado financeiro consultados pelo Banco Central projetam que a economia brasileira deve continuar crescendo até o fechamento do ano. As expectativas econômicas constam no Boletim Focus divulgado nessa segunda-feira (09), que aponta para uma elevação da projeção para o PIB de 2024, passando de 2,46% para 2,68%, na quarta alta consecutiva. A variação positiva nesse índice, porém, tende ser acompanhada por altas na inflação e na taxa básica de juros.
A pesquisa com mais de 100 instituições financeiras, realizada pelo BC na última semana, traz a previsão de que a taxa Selic, fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, subirá dos atuais 10,50% para 10,75% ao ano na semana que vem. Em resumo, o objetivo da instituição seria conter o crescimento da inflação, que também deverá registrar elevação.
Para este ano, a expectativa de inflação - que afeta o poder de compra do cidadão - passou de 4,26% para 4,30%, avançando pela oitava semana seguida. A meta central é de 3% neste ano, sendo considerada cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano.
Cenário econômico
Esse é o primeiro Boletim Focus divulgado pelo Banco Central após a consolidação dos dados econômicos do país no segundo trimestre do ano. Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de toda a riqueza produzida no Brasil, registrou crescimento de 1,4% no segundo trimestre deste ano em comparação ao primeiro trimestre, indicando também uma variação positiva de 3,3% quando comparado com o segundo trimestre de 2023.
O destaque da economia entre abril, maio e junho ficou com o desempenho da indústria, com alta de 1,8% no segundo trimestre em relação ao primeiro, seguida pelo setor de serviços, cujo crescimento foi de 1%. Outro dado relevante diz respeito ao consumo das famílias, que nas duas comparações de períodos, também apresenta uma forte alta.
No segundo trimestre de 2024, frente ao mesmo trimestre de 2023, a Despesa de Consumo das Famílias cresceu 4,9%. Para o IBGE, esse resultado foi influenciado pelo aumento tanto na massa salarial real como no crédito disponível às famílias e pelos juros menores. Em relação ao trimestre anterior, o crescimento foi de 1,3%.
Ao analisar esse panorama - ainda antes da divulgação do último Boletim Focus - a economista e professora da Universidade de Passo Fundo, Dra. Cleide Fátima Moretto, questionada sobre a relação entre consumo aquecido, crédito e taxa de juros, ponderou sobre a tendência de aumento da Selic. “O país ainda conta com um volume expressivo de transferências governamentais, que mantém o Consumo das famílias aquecido. As características entre oferta e demanda agregada permitiram uma expansão da demanda que não implicasse em elevação no nível geral de preços. Sem inflação, foi possível manter a taxa de juros reduzida, o que incentivou a aquisição de crédito. Todavia, a indicação de pressão inflacionária por parte da demanda acende sinal de alerta para a possibilidade de aumento na taxa de juro”, observou a docente, também diretora da Escola de Ciências Agrárias, Inovação e Negócios (Esan) da UPF.
Conforme explicou, a tendência de pressão inflacionária implica em uma política monetária que eleve a taxa de juros, o que impacta na elevação taxa Selic. “O consumo aquecido sim influencia a taxa de Selic, no sentido de, na expectativa de elevação de demanda com possibilidade de elevação na taxa de inflação, a saída para o controle, em termos monetários, é a elevação da taxa Selic”, complementa a economista.
Agro recuou
Na contramão dos outros setores econômicos, a agropecuária recuou 2,3% na comparação entre o segundo e o primeiro trimestre de 2024 e 2,9% em relação ao mesmo período de 2023. Para Cleide Fátima Moretto, essa dinâmica demonstra uma relação direta com o impacto negativo das enchentes do Rio Grande do Sul, já que estado é responsável por cerca de 6,5% da economia do país.
O reflexo da crise local na economia geral, no entanto, avalia, pode ter sido amenizado pela injeção de recursos públicos. “Os resultados do PIB trimestral sugerem que o impacto da catástrofe climática ficou abaixo do estimado, tanto na indústria como nos serviços. Umas das explicações para esse efeito atenuante na queda prevista pode estar associado ao conjunto de gastos públicos que foram implementados para evitar a queda na atividade econômica e nos gastos da reconstrução. Tais gastos são um dos componentes da demanda agregada, ou seja, o aumento dos gastos do governo para compensar os efeitos adversos das enchentes contribuiu para o aumento do PIB. E esse aumento dos gastos públicos pode se transformar em gastos de investimento, caso os recursos sejam direcionados para obras públicas por exemplo. Os resultados do terceiro trimestre de 2024 poderão confirmar essa tendência”.
Sobre a perspectiva para o desempenho da economia no restante do ano, Moretto ressalta que o país vem observando uma política fiscal expansionista, o que implica na elevação dos gastos públicos como um dos agregados macroeconômicos. “Essa tendência tende a permanecer, sobretudo no período eleitoral que a sociedade brasileira se encontra”, finaliza.