A pandemia do Coronavírus modificou a vida de toda a humanidade, de forma a fazer com que comportamentos e atitudes do “antigo normal” sejam ainda evitados como maneira de prevenção e controle da doença. Além da população adulta, quem vivencia esse momento de incerteza são as crianças, e é com o propósito de dar atenção para este público que a Universidade de Passo Fundo (UPF) desenvolve o projeto de pesquisa “A narrativa da criança no contexto da pandemia de Covid-19: deslocamentos no simbólico da linguagem”.
O estudo, realizado pela área de Letras, possui como tema a constituição da criança no simbólico da linguagem, no qual é analisado o emprego de denominações cujos sentidos são construídos com base em determinadas analogias. Exemplos dessa realização ocorrem quando a criança substitui, nas suas narrativas, a palavra "veterinário" pela expressão "médico de cachorro"; ou, durante o período pandêmico, a criança se refere ao Coronavírus usando a palavra "bichinho".
“O enfoque do Projeto, assim, se volta para essas construções, entendidas como metafóricas e metonímicas, nas narrativas de eventos reais ou imaginários produzidas por crianças de 3 a 6 anos de idade no contexto da pandemia de Covid-19”, relata a coordenadora da pesquisa, professora Dra. Marlete Sandra Diedrich.
Atividades são desenvolvidas junto aos familiares
Contemplado com auxílio financeiro em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), o Projeto conta com a participação de 10 crianças, cujas falas são analisadas. A pesquisa tem o envolvimento de bolsistas de Iniciação Científica, de orientandos do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da UPF e das professoras Dra. Patrícia Valério (PPGL) e Dra. Maristela Piva (Psicologia).
Segundo a pesquisadora responsável pelo Projeto, as ações reúnem fundamentação teórica acerca dos princípios a serem levados em conta na condução da pesquisa, na transcrição e na análise dos dados. Também há a produção, coleta e transcrição dos dados de fala das crianças, os quais são produzidos em interações dos pequenos com as famílias. “São os familiares que fazem o registro em vídeo e nos encaminham para análise. Diante disso, o grupo de pesquisadores se volta sobre os dados e os analisa a partir dos fundamentos teóricos mobilizados. Os resultados das análises são registrados em artigos científicos e em comunicação de trabalhos em eventos. Ainda estamos organizando um livro com os resultados”, destaca a professora Marlete.
O Projeto prevê uma devolutiva à comunidade em forma de exposição das narrativas das crianças, com uma espécie de exposição itinerante como forma de popularizar o acesso à ciência.
Conforme a coordenadora do Projeto, a temática proposta se volta para a constituição da criança no simbólico da linguagem em situação específica de vivência da língua na cultura e na sociedade, a qual se caracteriza pelo quadro da pandemia de Covid-19, o que afeta seu modo de estar e se deslocar na linguagem. “Acreditamos que ao final do estudo poderemos fornecer resultados concretos acerca do tema envolvendo a criança e a linguagem no contexto da pandemia, os quais poderão dar a conhecer mais acerca da criança, da língua, da cultura e da relação entre elas instituída na particularidade do período pandêmico. Por essa razão, temos a proposta da exposição”, finaliza.
Estudo integra ações de internacionalização
O projeto de pesquisa “A narrativa da criança no contexto da pandemia de Covid-19: deslocamentos no simbólico da linguagem” faz parte de ações de internacionalização desenvolvidas em caráter colaborativo com a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), no projeto maior intitulado “Linguagem na infância e subjetividade: fala e escrita em contexto de aquisição e ensino/aprendizagem”, sob coordenação da professora Dra. Alessandra Del Ré (Unesp Araraquara) em parceria com Instituições francesas, como a Université Sorbonne Nouvelle/Paris 3 e Université Paul Valéry/Montpellier 3.
A parceria é resultado do Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), criado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com o objetivo de fomentar a construção, a implementação e a consolidação de planos estratégicos de internacionalização das instituições contempladas nas áreas do conhecimento por elas priorizadas, no qual o Projeto da Unesp foi contemplado.