Muitos gaúchos já devem ter visto a Oxalis brasiliensis G.Lodd, também conhecida como “Trevo” ou “Azedinha”. Uma espécie muito comum no Rio Grande do Sul. E foi exaltando essa plantinha e toda a sua beleza e interação com a natureza, que a acadêmica do curso de Ciências Biológicas Bacharelado da Universidade de Passo Fundo (UPF), Júlia de Moraes Brandalise, de 20 anos, venceu, em primeiro lugar, o Concurso de Fotografia do I Encontro de Botânicos da Região Sul do Brasil, realizado de 3 a 5 de novembro e promovido pela Sociedade Botânica do Brasil.
Apaixonada por botânica, Júlia fez o registro da planta no quintal da casa dela. A estudante revela que participar do concurso de fotografia foi uma maneira de destacar a beleza das espécies da flora nativa. “Neste caso, a Oxalis brasiliensis G.Lodd foi a protagonista, uma espécie nativa do Pampa e Mata Atlântica que se distribui no Rio Grande do Sul. A foto ganhadora do concurso foi de um indivíduo presente no jardim de casa, registrada com uma câmera semiprofissional. O que é um fato peculiar, já que estamos cercados por tanta beleza proporcionada por espécies nativas e, muitas vezes, subestimadas”, revela a acadêmica da UPF.
Nesta época do ano, as “Azedinhas” ficam floridas. “Elas começaram a florir e atrair os insetos, daí consegui fazer esse registro. Eu ando pra lá e pra cá com minha câmera, pra tirar fotos de toda planta e bicho que acho bonito. Como futura bióloga e apaixonada por botânica, a fotografia se torna uma valiosa ferramenta de divulgação da beleza e conservação destas espécies”, declara Júlia.
A acadêmica realiza estágio no Museu Zoobotânico Augusto Ruschi (Muzar) e também é voluntária no Laboratório Multidisciplinar Vegetal (Multiveg) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UPF). “No laboratório realizamos diversas pesquisas voltadas à botânica. Nosso combustível é a curiosidade e admiração pelas interações ecológicas e as espécies botânicas nativas. Essa foi minha primeira experiência com concurso de fotografias, mas com certeza se tornou o pontapé inicial para seguir traçando o caminho da divulgação de nossas espécies, compartilhando a imensidão que a diversidade de plantas pode nos proporcionar”, declara a estudante.
Ambiente de pesquisas e novas descobertas
O Multiveg/UPF, no qual a Júlia é voluntária, é uma oportunidade de os acadêmicos terem contato com todo esse universo botânico. O local possui uma estrutura para apoiar pesquisas em morfologia, sistemática vegetal e biologia da polinização, em projetos de iniciação científica e de pós-graduação, estágios voluntários e remunerados. “Os objetivos do laboratório são estudar a diversidade vegetal sob o ponto de vista taxonômico e suas interações com a fauna e realizar estudos florísticos e fitossociológicos de áreas nativas da região. Os projetos são desenvolvidos por alunos da graduação em Ciências Biológicas e do mestrado em Ciências Ambientais. Com base nesses estudos, conseguimos conhecer a flora nativa e promover ações voltadas à sua conservação”, explica o coordenador do Laboratório Multiveg, professor Dr. Cristiano Roberto Buzatto.
O professor destaca que os estudantes que integram o Multiveg são muito ativos nas pesquisas e atividades promovidas. “Sempre estimulamos os alunos para que eles participem de eventos, publiquem seus dados e sejam protagonistas, tanto na pesquisa quanto na extensão. Isso fortalece e contribui para a formação pessoal e profissional de cada um deles”, garante Buzatto.
E é utilizando toda esta estrutura que Júlia está pesquisando neste momento uma outra plantinha para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que deve ser finalizado no próximo ano: a Aristolochia sessilifolia (Klotzsch) Duch ou Aristolochiaceae no Rio Grande do Sul. Essa também é bem conhecida dos gaúchos e pode ser encontrada no Campus I da UPF. “Ela é uma espécie muito interessante, porque ela engana seus polinizadores. Ela mimetiza fontes de alimento para moscas, se passando como alimento em decomposição, por exemplo. Utiliza compostos químicos e a coloração vinho. Além de prender o animal temporariamente para liberar o pólen sobre seu corpo”, explica a acadêmica.
Segundo ela, essas relações ecológicas entre polinizador e planta são muito importantes, porque esses animais podem servir como restrição para a morfologia das flores. Júlia explica que, por exemplo, algumas plantas evoluem e se adaptam às características do animal e vice-versa. Além disso, Júlia destaca que a polinização no geral é um serviço ecossistêmico muito valioso para a alimentação da fauna silvestre e também para os seres humanos. “Essa (Aristolochiaceae) é uma espécie nativa do Pampa, um dos biomas que mais sofrem pela antropização e perda de habitat pela agricultura. Então, muitas vezes nossa biodiversidade está sendo perdida e nem sequer foi registrada ou estudada”, observa Júlia.