Inédita no país, a pesquisa conduzida no Rio Grande do Sul para traçar as características da população gaúcha diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) a nível estadual, regional e em cada localidade revelou que, de junho de 2021 a março de 2022, Passo Fundo registrou 32 solicitações da carteira de identificação que assegura a atenção integral, o pronto atendimento e prioridade no acesso aos serviços de saúde, educação e assistência social aos autistas.
Os dados coletados a partir dos 4.358 formulários emitidos por 259 municípios do Estado indicam um fluxo maior de cadastros nos meses de junho do ano passado, quando o Ciptea foi lançado, e fevereiro deste ano sendo que, deste total, 284 foram recusados por ausência de laudo médico não caracterizando TEA.
Na análise regionalizada, apresentada na manhã de terça-feira (24) pela diretora técnica da FADERS Acessibilidade e Inclusão, Ana Flávia Beckel Rigueira, os municípios gaúchos mais populosos encontram-se, principalmente, na Região Metropolitana, que fazem parte do Corede Metropolitano Delta do Jacuí, apresentando 33,36% no geral de carteiras aprovadas no Rio Grande do Sul.
O segundo Corede com maior índice de solicitações foi o Vale do Rio dos Sinos com 12,62% e o terceiro foi o Corede Sul com 10,33% de aprovações. Os menores números foram verificados nos Coredes: Campos de Cima da Serra com 0,29%; Rio da Várzea, com 0,32%; Nordeste com 0,39%, enquanto o Corede Produção, responsável por abranger a zona geográfica regional de Passo Fundo, figura na 18ª colocação com 1,01% das emissões do documento. “É a partir desta pesquisa que nós conseguimos construir uma base de dados e informações para que possamos propor políticas públicas que sejam adequada e atendam às demandas da população”, ressaltou Ana Flávia.
A nível local, indica o estudo, o município com maior número de solicitações foi Porto Alegre, que apresentou um percentual de 18,19%, seguido por Viamão com 5,35%. Caxias do Sul, que pertence ao Corede Serra, ficou em terceiro lugar com 4,15%; seguido por Rio Grande, Corede Sul, com 3,98%; Canoas, Corede Vale do Rio dos Sinos, com 3,88% e Pelotas, Corede Sul, com 3,56%.
Perfil
Além do monitoramento sobre a adesão ao documento, a pesquisa também traçou o perfil dos gaúchos diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista nesta fase preliminar, cujas atualizações do banco de dados, a partir de agora, serão periódicas nos meses de abril de cada ano, período de conscientização sobre o TEA.
Conforme mencionou a diretora técnica da FADERS, 80% da população do Rio Grande do Sul com o distúrbio do neurodesenvolvimento são do sexo masculino, enquanto o autismo é identificado em 20% dos casos entre o sexo feminino. Isso significa que, menciona Ana Flávia, para cada quatro meninos, existe uma menina com TEA no Estado. “Essa informação é significativa porque podemos pensar qual é o motivo para esta diferença e há duas hipóteses segundo o estudo. A primeira, ligada à questão genética, e a outra à questão de gênero. Talvez, a gente tenha uma subnotificação de casos de meninas com autismo”, frisou.
O diagnóstico, prosseguiu ela, também é mais frequente entre os pacientes de 0 a 15 anos de idade onde, em 57% dos casos, foi realizado em crianças de 0 a 3 anos. “Tendo um diagnóstico precoce, mais cedo essa pessoa pode ser atendida e iniciar as suas terapias para ter um melhor prognóstico em relação ao seu desenvolvimento”, ressaltou Ana Flávia. “Constatamos, ainda, que 21% do nosso universo possui alguma outra deficiência além do autismo e 25% de familiares com TEA. Isso também corrobora com pesquisas realizadas que trazem a influência da hereditariedade no diagnóstico”, destacou.