Iniciativas da Prefeitura Passo Fundo, lançadas a partir do Plano de Combate à Desigualdade Educacional ainda em 2021, chamaram atenção da empresa Google e da Prefeitura de Sobral, no Ceará, município que é destaque no país, no IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
Nos próximos dias 9 e 10 de novembro, coordenadoras e diretoras de quatro escolas: EMEI André Zaffari, EMEI Santa Isabel, EMEF Senador Pasqualini e EMEF Professor Arno Otto Kiehl irão visitar a Prefeitura de Sobral, no Ceará e o Escritório do Google, em São Paulo. Eles participaram do Desafio Cidade Educadora, que consistiu na produção, por parte de cada escola, de um banner contendo os motivos pelos quais consideram Passo Fundo uma cidade educadora. Os banners foram submetidos à avaliação de uma comissão julgadora.
No Google, será apresentada uma ferramenta tecnológica criada pela Prefeitura para mapeamento das demandas pedagógicas das escolas municipais por aluno e por educandário. Em Sobral, será apresentado o Plano de Combate à Desigualdade Educacional, que busca mapear e desenvolver ações para atender às principais dificuldades dos alunos da rede pública municipal.
Como tudo começou
A pandemia aguçou a desigualdade estrutural das famílias e afetou diretamente o aprendizado e a rotina das crianças e adolescentes. Buscando acelerar o processo de tratamento dos prejuízos cognitivos e estruturais aos estudantes, a Prefeitura de Passo Fundo lançou o Plano de Combate à Desigualdade Educacional. Composto por quatro iniciativas, o plano traça diagnóstico individualizado dos alunos a partir de recursos tecnológicos, auxiliando os setores pedagógicos a focar nas maiores dificuldades em cada escola do município e já demonstra avanços e perspectivas.
O sucesso foi tamanho que o grupo foi convidado a apresentar uma ferramenta desenvolvida no município para outras cidades brasileiras na sede do Google em São Paulo. A iniciativa mapeia escolas e alunos de forma individualizada, focando nas dificuldades a fim de concentrar o trabalho naquilo que o aluno mais precisa. É um olhar apurado e certeiro sobre o que cada um deles precisa, pedagógica ou cognitivamente.
O Plano demonstra a assertividade e inovação por parte da Prefeitura, através da Secretaria de Educação, no entendimento de que não é adequado traçar um mesmo plano para todas as escolas, visto que há desigualdades sócio-educacionais que mudam os perfis e as demandas dos estudantes para além da sala de aula.
Investimento de R$ 12 milhões
Pensando em todas as consequências da desigualdade educacional, o prefeito Pedro Almeida autorizou um investimento de R$ 12 milhões na compra de televisões 50 polegadas para todas as salas de aula, notebooks e tablets para utilização dos estudantes. “Entendemos que a tecnologia não é o mais importante, mas é base para as ações do plano”, afirmou o prefeito.
As quatro iniciativas do Plano de Combate à Desigualdade Educacional
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
A base de todo o Plano Municipal de Combate à Desigualdade Educacional é a “Avaliação Diagnóstica”. Com um olhar individualizado sobre cada aluno, é estratégico o uso de ferramentas para obter diagnósticos e, assim, elaborar um planejamento específico por escola, conforme observa o secretário municipal de Educação, Adriano Canabarro Teixeira. “Precisamos olhar para o futuro! Por isso uma avaliação individualizada a partir de diagnósticos por escola e por aluno, nos oportuniza auxiliar a escola na construção de um plano específico para sua demanda. Não podemos comparar escolas pois as realidades sempre são diferentes, então não tem sentido termos um mesmo plano para todas as escolas. Embora a tecnologia não seja o mais importante, ela é elemento basilar do Plano de Combate à Desigualdade Educacional. A ferramenta diagnóstica desenvolvida por nós, que será apresentada no Google, por convite deles, nos possibilita conhecer em detalhes a realidade de cada escola. A avaliação diagnóstica mapeia habilidades desenvolvidas e não desenvolvidas e tem isso no detalhe, por aluno. Estamos na quarta avaliação diagnóstica, duas ocorreram em 2021”, destacou o secretário Adriano.
PROJETO APOIAR
Focado na alfabetização presencial, com atendimento de pequenos grupos de aproximadamente cinco alunos, quase que uma aula particular para podermos atender as crianças com maior dificuldade em áreas específicas como leitura e numeramento, competências fundamentais para que se possa aprender.
Os alunos João, Renan e Milena participam periodicamente das atividades do Projeto. O João tem 11 anos e está no 4º ano. Ele foi transferido para a EMEF Senador Pasqualini no ano passado. Ele, com orgulho, apontou para o seu progresso. “Eu tinha dificuldade para ler e hoje estou muito bom. Gosto de leitura, matemática e brincadeiras”, contou, enfatizando que, durante a pandemia, participou de todas as aulas remotas.
A EMEF Senador Pasqualini, fica no Bairro Vera Cruz, e por meio do Projeto Apoiar atende cerca de 30 crianças dos anos iniciais, mais de 10% do total de estudantes do primeiro ao quinto ano. De um total de 480 estudantes, a escola tem 250 alunos nesta etapa de ensino.
A professora Jaqueline Timm explica que o Apoiar é um suporte pedagógico, que substituiu as antigas aulas de reforço. “Os alunos realizam aulas no turno inverso e o atendimento é específico para a dificuldade que apresentam. As atividades, que envolvem recursos lúdicos e formas de interação, são em grupos de até cinco crianças, e os grupos são organizados de acordo com a dificuldade dos alunos. A maior dificuldade é com a alfabetização. Alfabetizar envolve falar, gesticular, tocar, o que foi prejudicado pela pandemia com o ensino remoto ou híbrido. O Apoiar é uma iniciativa de extrema importância porque o aluno que supera a dificuldade na aprendizagem terá mais condições para se desenvolver na sala de aula e fora dela. Aqui também trabalhamos a autoestima, porque nem sempre a dificuldade está relacionada com algum transtorno. Às vezes, ela acontece porque o aluno se sente incapaz, porque já vem para a escola com algum esteriótipo que temos que trabalhar. A autoestima é decisiva para a aprendizagem”.
CYBERLIGA
O projeto forma alunos heróis na aprendizagem. A iniciativa atende estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental, do sétimo ao nono ano, com atividades no turno escolar inverso focadas na resolução de lacunas no conhecimento. Eles têm a oportunidade de sanar suas dificuldades nas diversas áreas do conhecimento, com professores experts em áreas de Ciências Humanas e da Natureza, Matemática e Linguagens e ainda com apoio de colegas com competências digitais.
As escolas municipais de Ensino Fundamental Fredolino Chimango, que fica no Bairro Integração, e Wolmar Salton, localizada no Bairro São Cristóvão, fazem parte do projeto-piloto da iniciativa. Em 2022, o projeto funcionou como piloto e teve 3 fases em que as práticas foram aperfeiçoadas. “Ao final de cada fase, fazemos avaliações sobre o funcionamento do projeto com os estudantes e coordenadores pedagógicos para que possamos implementar modificações que tornem mais produtiva a experiência. Para 2023, a ideia é chegar a toda a rede”. Consiste, basicamente, em uma dinâmica de sala de aula invertida, aprendizagem baseada em projetos e gamificação.
O secretário enfatiza que para além das metodologias, as equipes trabalham com as ferramentas Google e essa experiência será apresentada para outras prefeituras do Brasil que demonstraram interesse em conhecer o projeto.
Os cybermestres, professores responsáveis pelas atividades:
Matemática - Tárcius Alievi Pinheiro
Linguagens - Patrícia Guterres
Ciências Humanas - André Martinelli Piasson
Ciências da Natureza - Camila de Moraes
CENTRO PÓS-COVID
Um espaço especializado com equipe multidisciplinar dedicada ao tratamento de questões psicopedagógicas decorrentes do processo de isolamento social, que tenham tido efeito direto sobre a aprendizagem dos estudantes.
O Centro visa implementar medidas voltadas ao desenvolvimento integral de seus usuários, com base na equidade e nos direitos humanos, propondo ações de qualificação da educação a partir do atendimento multidisciplinar, do cuidado aos estudantes, à escola e às famílias.
No Centro Pós-Covid, a Sala de Recursos oferece suporte às crianças com algum tipo de condição psicológica que as impede de aprender melhor. O Centro oferece suporte multiprofissional, com 17 profissionais de diferentes áreas que irão tratar do caso da criança a partir de um olhar clínico, entre eles médicos psiquiatras, pediatras, psicopedagogos, nutricionistas, entre outros, que avaliam cada caso e poder fazer atendimentos até que ela consiga recuperar a condição para retornar para a sala de aula.
Júlia, de 12 anos, foi encaminhada pela escola ao Centro Pós-Covid de Combate à Desigualdade Educacional em maio deste ano. Ela, que está no 6º ano do EF, apresentava dificuldades na aprendizagem em decorrência da ansiedade. Júlia vai ao centro uma vez por semana acompanhada pelo pai, Álvaro Rezende Mainardi, que já consegue ver na filha uma evolução na aprendizagem. “Só tenho a agradecer. O espaço é maravilhoso e a equipe é de profissionais competentes, participativos e amigos. Ela vem melhorando muito no aprendizado, o que era algo que não conseguíamos fazer em casa porque não sabemos como transmitir e resgatar eles. A professora está desembaraçando ela na aprendizagem e já conseguimos obter resultado positivo também em uma prova de matemática”, comemora.
“A pandemia agravou a desigualdade”
O secretário Adriano salienta que a desigualdade educacional é algo histórico e na pública foi mais acentuada . “No ensino privado os pais conseguiram manter seus filhos em contato com a escola. No público, tivemos uma resolução federal chamada progressão, determinando que durante a pandemia nenhum aluno poderia reprovar. Aquele aluno que migrou para outra cidade ou que não teve condições de ir para a escola voltou para a sala de aula como se tivesse participado de todas as atividades durante os dois anos e sido aprovado. Alguns alunos foram para o terceiro ano do EF sem saber ler e escrever. O nível de desigualdade com os alunos dentro de uma mesma sala de aula é enorme, o que é absolutamente complexo para um professor trabalhar, por isso a importância desse grande projeto”, disse.
“Dentre tantos impactos negativos, a pandemia ocasionou o rompimento dos laços sociais e um afastamento de processos educativos formais, o que tem implicações diretas sobre a capacidade de aprendizagem das crianças. No mundo inteiro, a previsão de recuperação destas aprendizagens é de quase uma década! Pode ser que este prazo se consolide, mas não podemos simplesmente aceitar! Nossa responsabilidade é criar estratégias de aceleração de ações de minimização da desigualdade educacional. É isso que estamos fazendo em Passo Fundo”.
A Rede Municipal de Ensino de Passo Fundo conta com 17.904 alunos, 1.800 profissionais da Educação, 72 escolas.