“Vamos trabalhar fortemente a questão social”

Candidato pelo PCdoB, Juliano Roso defende a promoção do desenvolvimento econômico de Passo Fundo atrelado a questões sociais, culturais e ambientais

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“Se o Estado não leva ao bairro as políticas públicas, a violência leva”“Se o Estado não leva ao bairro as políticas públicas, a violência leva”
“Se o Estado não leva ao bairro as políticas públicas, a violência leva”
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Dando continuidade à série de entrevistas com os nomes que disputam a Prefeitura de Passo Fundo, na edição desta sexta-feira (22), o jornal O Nacional entrevista o candidato pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Juliano Roso. Ele concorre ao lado da candidata à vice-prefeita, Valquíria Bispo (PT), através da coligação “Passo Fundo no Coração”, apoiada pelos partidos Rede Sustentabilidade (REDE), Partido Republicano da Ordem Social (PROS) e Avante. 

Aos 47 anos de idade, Juliano Roso é professor de História, formado pela Universidade de Passo Fundo. Na trajetória política, agrega experiências como líder estudantil, vereador do município em três mandatos, deputado estadual no ano de 2014 e vice-prefeito de Passo Fundo durante o primeiro mandato do atual prefeito municipal, Luciano Azevedo.


ON: Após três mandatos de vereador, um de deputado estadual e a experiência como vice-prefeito de Passo Fundo, qual sua principal motivação para concorrer ao cargo de prefeito nesta eleição?

Juliano Roso - A minha motivação é poder ajudar mais Passo Fundo com minha experiência e trajetória. Eu me sinto amadurecido, me sinto no meu ápice de formulação intelectual, conhecendo os problemas da cidade, entendendo as necessidades do município e me sinto em condições de liderar a cidade em um momento extremamente difícil que estamos vivendo, que é o momento da pandemia e o momento de uma crise econômica. Então, o que me motiva é isso. É poder contribuir com a minha cidade, com a minha terra, com a nossa população, a partir da minha experiência política. Antes disso, fui também líder estudantil aqui na cidade, o que eu considero fundamental para a minha trajetória política, e sou professor de História. Todo esse acúmulo me coloca em condições de poder estar à frente da Prefeitura e contribuir com a cidade a enfrentar essas duas grandes questões.


ON: O senhor foi vice-prefeito no primeiro mandato do atual prefeito. No mandato seguinte, o PC do B seguiu na base governista, ocupando alguns cargos nas secretarias. Como o senhor avalia esse período do seu partido no governo?

Juliano Roso – O PcdoB contribuiu muito com o governo. Todos os secretários que nós indicamos ajudaram a cidade e tinham formação técnica e formação social, que eu considero muito importante. Eu não acho que um governo deva ser composto só por formação técnica. Muitas pessoas que têm formação técnica, não têm uma visão dos problemas da cidade, não têm sensibilidade para entender o que o povo precisa. Eu acredito em um governo que alia a questão técnica com a questão social. Os secretários que nós indicamos, como o Arthur Rosa Filho, que foi secretário da Saúde, implementaram projetos importantes. Como o “Meu bebê, meu tesouro”, “Um olhar de criança”, a construção de novas Unidades Básicas de Saúde... O professor José Ernani ajudou a implementar a primeira Secretaria de Cultura de Passo Fundo, o Funcultura – uma lei que eu fiz quando fui vereador e que não havia sido implementada ainda pelos governos anteriores – e foi ele quem criou o Conselho Municipal de Cultura. Nós tivemos a secretária de Planejamento, Ana Paula Wickert, que deu uma vida nova para a cidade, construiu as ciclovias. E tivemos dois secretários do Meio-Ambiente, o Enilson Gonçalves e o Rubens Astolfi, que construíram o Banhado da Vergueiro e implementaram programas importantes, como o de plantio de árvores.

Eu também ajudei muito quando fui vice-prefeito da cidade. Vou dar um exemplo: essa obra que está acontecendo até hoje na Avenida Brasil foi um PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] da presidenta Dilma. As pessoas, às vezes, acham que o dinheiro cai de paraquedas ou vem da lua. Não… Era um recurso que nós corremos atrás e buscamos junto com técnicos da prefeitura. Foi uma luta política e é o que sustenta, praticamente, as obras de asfalto que a prefeitura tem hoje na cidade. Foi o maior recurso buscado na história do município e passou também pelo nosso trabalho. Então ajudamos naquilo que foi possível e, claro, chegou um momento em que chegou ao limite. Houveram avanços no governo do prefeito Luciano Azevedo, óbvio. Ele foi e é um bom prefeito, nós reconhecemos isso. Mas é necessário avançar um pouco mais, especialmente nas questões sociais.


ON: Um de seus projetos prevê erradicar o analfabetismo em Passo Fundo. O senhor pode comentar um pouco sobre a estratégia para enfrentar esse problema?

Juliano Roso – São cerca de 6,5 mil passo-fundenses com mais de 15 anos de idade que são analfabetos. Esses são dados do IBGE. Nós queremos construir um projeto que envolva, primeiro, as faculdades, a Universidade de Passo Fundo, as escolas públicas e privadas e as entidades do município para que possamos fazer brigadas coletivas para erradicar o analfabetismo na nossa cidade. Queremos produzir um material feito aqui, pelas nossas faculdades de Pedagogia, que têm o conhecimento de como fazer esse trabalho para alfabetizar a população, e nós vamos fazer um trabalho, sobretudo, voluntário. Eu acredito que é uma causa que a cidade toda vai abraçar para que possamos, em quatro anos, erradicar o analfabetismo em Passo Fundo. Uma cidade que é Capital Nacional da Literatura, que tem uma universidade gigantesca, faculdades importantes e escolas de referência, não pode conviver com isso e achar isso natural. 


ON: Em relação à pandemia, o próximo prefeito de Passo Fundo terá, desde o início do mandato, o desafio de enfrentar os reflexos provocados pelo novo coronavírus nos mais diversos setores da economia do município. Que avaliação o candidato faz sobre esse tema?

Juliano Roso – Quando nós começamos a construir o nosso plano de governo, optamos por construir dois planos. Um para o futuro de Passo Fundo e outro para enfrentar e superar a pandemia. Construímos um plano emergencial para superar e vencer a pandemia que prevê, número um, a construção de um centro de referência e atendimento a pessoas que tiveram a Covid e que têm algum tipo de sequela do coronavírus. A gente tem visto muitas sequelas psicológicas, inclusive de pessoas que não tiveram a Covid, mas que tiveram de ficar muito tempo em casa, sem convívio social. Então vamos construir um centro de referência para atendimento psicológico, fisioterapêutico, fonoaudiológico e para outras sequelas que, eventualmente, as pessoas podem ter. Em segundo lugar, nós estamos montando um plano para organização da vacinação da população. Vamos ter que vacinar, para a Covid, 120 mil pessoas em duas semanas. Então já estamos pensando e elaborando a questão dessa logística, porque em janeiro nós teremos a vacina, quer o governo queira ou não. Em terceiro lugar, a questão do emprego e da renda. Muitos passo-fundenses perderam renda e emprego e, em janeiro, termina o auxílio emergencial. Isso vai ter um impacto na nossa economia, no nosso comércio e na renda do passo-fundense. Então nós vamos construir um plano radical de microcrédito e um plano emergencial de emprego, ajudando a formar cooperativas de emprego e de trabalhadores. Por fim, a questão da assistência social – não menos importante, porque nesses tempos de pandemia, de crise econômica, ela precisa ter uma atuação mais forte. Nossa candidatura tem esse diferencial. Nós pensamos, desde o início, o nosso plano de governo dividido em dois pedaços.


ON: Sendo eleito prefeito, qual a principal mudança que sua coligação fará na cidade de Passo Fundo?

Juliano Roso – Nós imaginamos que Passo Fundo teve três grandes prefeitos no último período. Cada um deles tem um mérito. O primeiro foi o prefeito Fernando Carrion. Ele que pensou a urbanização futura, construiu obras que nos permitem andar na cidade. Se não fosse o prefeito Carrion, a cidade estaria cheia de nós. Está muito difícil a mobilidade urbana, mas seria muito pior. Ele construiu as radiais, as perimetrais, as pontes. Nós imaginamos que o governo tem que ter esse dinamismo, essa visão de futuro que o Carrion tinha. Em segundo lugar, o prefeito Airton Dipp, de quem eu fui líder na Câmara de Vereadores. Ele foi quem resgatou a economia de Passo Fundo. Nós tínhamos perdido a Brahma, a Pepsi, a Coca Cola, o Quartel do Exército, a cervejaria Colônia. A cidade estava em um declínio, Dipp veio e colocou de novo nos trilhos. Então nós queremos a forte retomada da economia, um governo que tenha muita força no atrativo de empresas para cá. A prefeitura tem que ter um papel pró-ativo de atração de investimentos e de fortalecimento de setores econômicos que estão adormecidos.

Em terceiro lugar, o prefeito Luciano Azevedo. Ele foi o prefeito que cuidou da cidade. Ele cuidou da saúde, ao criar unidades básicas de saúde; da educação infantil, ao criar escolas; e da beleza da cidade, possibilitando praças e espaços públicos importantes. Nós queremos construir essas três visões – porque não temos sectarismo, nós reconhecemos o que de bom foi feito por outros governos –, mas nós queremos trazer um quarto pilar, o pilar social, que vai vir muito forte conosco. A minha visão e da Valquíria é uma visão de que nós precisamos construir políticas públicas para as pessoas mais vulneráveis. Nós não vamos abrir mão disso. Vamos fazer a modernização da cidade na gestão, construir um aplicativo para as pessoas poderem solicitar todos os serviços da prefeitura por telefone, radicalizar na modernização, trabalhar a questão do desenvolvimento econômico e o cuidar da cidade, mas também vamos trabalhar essa questão social.

Vou dar um exemplo concreto. Nós vamos criar aqui em Passo Fundo o programa “Territórios da Paz”, para que os jovens de periferia tenham acesso à cultura. Eu acredito muito na transformação pela cultura, que o jovem possa ter acesso ao cinema, à música, ao teatro, à dança, ao esporte. E nós temos tudo isso aqui em Passo Fundo, não precisamos buscar fora. Temos lideranças, estudantes, pessoas já formadas que podem fazer oficinas nesses bairros. Nós estamos disputando essa juventude com o crime, com a droga, a violência. Se o Estado não leva ao bairro as políticas públicas, a violência leva. O jovem é promovido pelo tráfico lá e recebe as benesses do crime organizado. Então, nós precisamos disputar essa juventude. Eu não posso mais conviver numa cidade que se desenvolve, mas que tem 60 ocupações urbanas, onde as pessoas não têm água, luz, saneamento básico, calçamento na frente de casa, não têm moradia digna. 


ON: Qual a mensagem que o senhor deixa para os eleitores de Passo Fundo?

Juliano Roso – Nós construímos um plano de governo muito qualificado para a cidade. Nós sabemos onde queremos e podemos chegar. Passo Fundo pode evoluir muito mais do ponto de vista econômico, só que esse desenvolvimento econômico tem que ser também social, cultural e ambiental. Temos que fazer com que a cidade resolva o problema da reciclagem do lixo, temos que valorizar as cooperativas e os catadores para que tenhamos uma cidade cada vez mais limpa e com menos geração de resíduos. Temos que resolver a questão cultural. Nós queremos trabalhar pela questão social, como eu dizia antes, na questão da habitação, do transporte público mais acessível e mais barato, emprego e renda para todos. Para isso, precisamos radicalizar o crescimento econômico. Nós vamos trabalhar fortemente na atração de investimentos, fortalecimento das empresas que existem aqui. Tem uma terceira coisa que nós vamos fazer: quando eu fui vice-prefeito, nós implementamos um setor de projetos. Agora, vamos bombar esse setor de projetos para buscar recursos internacionais e privados. Não podemos ficar apenas buscando recursos do governo federal ou migalhas do governo estadual. Então, a palavra final que eu dou ao passo-fundense é que, de forma humilde, eu e a Valquíria estamos pedindo o apoio das pessoas. Ninguém chega a lugar nenhum sozinho. Nosso projeto é coletivo, não é um projeto pessoal. Estamos preparados, em condições de liderar esse processo e queremos uma oportunidade para que possamos governar a cidade, melhorar a vida de todos e deixar esse legado importante, de resgatar as marcas dos governos que consideramos como bons, mas também trazer a questão da inclusão social. Sem ela, nós não vamos construir uma cidade melhor para todos e para todas.


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