Revolução francesa

Jogadores se negam a treinar após corte de Anelka e dirigente pede demissão

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França é um barril de pólvora. Um dia após o corte de Anelka, por causa dos palavrões direcionados ao técnico Raymond Domenech, uma série de tumultos abalou as estruturas da seleção.

Como forma de protesto pelo corte de Anelka, os jogadores se negaram a treinar ontem, segundo carta escrita pelos próprios atletas e que foi lida pelo treinador. “A Federação Francesa nunca tentou proteger o grupo. Tomou uma decisão unilateral, baseada em relatos da imprensa. Como consequência, e para mostrar nossa oposição à medida, todos os jogadores decidiram não participar do treino”, informa a carta.

Logo depois da recusa do grupo, o lateral e capitão Patrice Evra e o preparador físico Robert Duverne quase saíram no tapa. Duverne, esbravejando e com dedo em riste, teve que ser contido por Domenech. A discussão aconteceu no gramado e sob os olhares de dezenas de torcedores que compareceram ao treino, aberto ao público. Homem de confiança de Domenech, Duverne chegou, inclusive, a lançar seu apito ao chão, antes de ser acalmado por outros colegas.
O motim terminou com o pedido de demissão de Jean Louis-Valentin, vice-presidente da Federação Francesa. <MC0>“Os jogadores não quiseram treinar. É uma vergonha. Nestas condições, decidi voltar a Paris e renunciar ao cargo”, afirmou.
Através de um comunicado oficial, Evra desmentiu categoricamente que considere o preparador físico Robert Duverne um traidor. “Não é verdade a informação divulgada por vários meios segundo a qual nossa rejeição em treinar teria sido motivada pelo fato de que teríamos considerado que Robert Duverne era o traidor de quem falei”, disse Evra.
No sábado, logo após o corte de Anelka, Evra indicou a existência de um traidor no grupo, mas não deu nomes. “O problema da seleção francesa não é Anelka, e sim o traidor que está entre nós. Precisamos eliminá-lo do grupo” disse.
Revoltado, o presidente da Federação Francesa, Jean-Pierre Escalettes, se revoltou com a atitude do grupo e disse que vai punir os jogadores. “O que eles fizeram é inaceitável”.

Aposta em boicote

Uma das principais casas de apostas da Inglaterra propôs ontem a seus clientes apostar que a seleção da França vai boicotar a partida contra a África do Sul, amanhã, horas depois de os jogadores dos 'Bleus' se negarem a treinar para protestar contra o corte de Anelka. A proporção é muito elevada, 100 por 1, e evidencia que a casa de apostas William Hill não acredita muito nessa opção. Mas faz da África do Sul a favorita da partida que será disputada em Bloemfontein. “Era difícil convencer nossos clientes a apostar na França, mas, agora, é impossível. Só um jogador francês apostou na nossa casa 125 mil euros no título da França”, admitiu um porta-voz da William Hill.

Zidane teria encorajado levante

O ex-jogador Zinedine Zidane teria sido o cabeça da greve dos jogadores contra o técnico Raymond Domenech, segundo o jornal parisiense ‘Libération’. A publicação garante que o ex-capitão francês falou com Patrice Evra, Franck Ribéry, Thierry Henry e William Gallas para que exigissem de Domenech uma mudança tática na véspera da partida contra o México. Para o quarteto, o esquema tático 4-2-3-1 deveria ser trocado pelo 4-4-2 e Sydney Govou e Yohann Gourcuff deveriam deixar o time.
Inicialmente, Domenech aceitou as mudanças em razão do diálogo aberto com os jogadores. No entanto, quando soube que a ideia veio de Zidane, ficou muito irritado e voltou atrás. Os jogadores souberam que o treinador não mudaria o time no dia do jogo.
O técnico rejeitou que Zidane montasse a equipe em seu lugar, algo que já fez no Mundial de 2006, quando o craque tomou as rédeas do grupo após uma primeira fase decepcionante. As mudanças, no entanto, levaram a França à final.

Gallas também pode ser cortado

Anelka não deve ser o único cortado na França punido por xingar Domenech no intervalo do jogo contra o México, ele retornou ontem a Paris). Gallas poderá receber o mesmo castigo, por ter mostrado o dedo médio a um repórter da emissora francesa ‘TF1’, no final da partida contra os mexicanos. O jogador se recusou a dar entrevista e, diante da insistência do jornalista, fez o gesto obsceno. A Federação Francesa cobra uma atitude enérgica de Domenech, que ontem deu sua versão para o corte de Anelka. “O problema já tinha sido resolvido internamente. No dia seguinte, dei a oportunidade de ele pedir desculpas, mas ele se recusou. Por isso, acredito que a decisão da Federação foi certa”, afirmou Domenech.
Mas as confusões não param por aí. No voo de volta de Pretória para Knysna, Ribéry teria discutido com Gourcouff. A história tomou maiores proporções depois que Ribéry interrompeu uma entrevista ao vivo de Domenech a um programa de TV para desabafar. “Todos estão rindo de nós”. Ribéry tomou um dos microfones e deu sua versão do que está acontecendo com a França. “Há alguns dias estamos passando por momentos difíceis. Estamos sofrendo. Digo isso com o coração. Estou sofrendo”, afirmou o jogador.

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