Raymond Domenech não é mais técnico da França. Mas, para a torcida francesa — inclusive os jogadores —, trata-se de uma boa notícia. Pivô de todas as crises e vexames que envolveram a França nesta Copa, Domenech encerrou seu ciclo no comando dos Bleus não só com uma derrota, mas com uma atitude incompatível com o fair play.
Logo após os 2 x 1 para a África do Sul, o brasileiro Carlos Alberto Parreira foi cumprimentá-lo, mas Domenech lhe deu as costas. Parreira ainda o agarrou pelo paletó, mas ouviu uma série de acusações acompanhadas por gestos incompreensíveis.
Segundo Parreira, Domenech reprovou supostas declarações suas sobre a classificação da França à Copa da África do Sul, conseguida na repescagem contra a Irlanda e graças a um lance em que o atacante Thierry Henry usou a mão duas vezes para dar o passe para o gol de Gallas.
Só após falar com um auxiliar é que soube que a bronca era por causa de uma suposta declaração de Parreira de que a França nem merecia ter se classificado para o Mundial.
“Praticamente não teve diálogo. Por educação e gentileza, fui cumprimentá-lo. Disse alguma coisa, mas não entendi. Ele fala um inglês muito imperfeito. Um assistente dele, uma pessoa muito mais educada e gentil, foi até o vestiário. Então eu perguntei o que tinha acontecido. E ele explicou que, antes da Copa, quando a França se classificou, eu teria dito que a França não merecia estar no Mundial. Mas eu não me lembro de ter dito isso. Foi um fato lamentável. Ele não é querido na França e há razões suficientes para isso”, disse Parreira.
Já Domenech se recusou a comentar o episódio e disse que a França cumpriu seu papel com dignidade. Ontem, à noite, ele embarcou para Paris junto com a delegação francesa. A partir de hoje, Laurent Blanc é o novo treinador.
Capitão recusa prêmio e promete dizer a verdade
Os jogadores da seleção francesa abriram mão das gratificações que receberiam pela participação na Copa, depois de terem sidos eliminados na primeira fase. “Vamos renunciar a todas as gratificações, não aceitaremos nem um centavo”, afirmou o capitão Evra.
O anúncio acontece depois de a Federação Francesa anunciar que não distribuiria prêmios caso a França não se classificasse.
Evra, que começou a Copa com a braçadeira de capitão, terminou a competição no banco de reservas. Depois de brigar com o preparador físico e liderar o motim de jogadores, que se recusaram a treinar, Evra foi barrado por Raymond Domenech no jogo de ontem e agora garante que vai revelar a verdade dos bastidores do fiasco francês na África.
“É hora de pedir desculpas ao povo da França. Mas o que machuca mais ainda é que esse pedido de desculpas deveria ter sido feito ontem, mas o técnico não deixou. A França vai saber a verdade. A França precisa de uma explicação. Agora não é a hora certa, mas vou fazer isso o mais rápido possível. Há uma razão para esse fracasso, e várias coisas virão à tona”, disse Evra.