Se, em campo, a Seleção ganhou da Costa do Marfim no braço e na bola, fora dele corre o risco de pagar caro pela língua de Dunga. Acostumado a desafiar repórteres, ironizando-os, dessa vez o técnico foi longe demais. Ao xingar covardemente, por entre os dentes, o jornalista Alex Escobar (da Rede Globo), Dunga não imaginava que seu áudio estava sendo ouvido por boa parte da torcida brasileira, em casa.
O vexame de Dunga, na sala de entrevistas do Soccer City, pode render-lhe uma duríssima punição da Fifa. A demonstração da falta de educação do técnico da Seleção não ficou nisso. Em campo, ele chamou o árbitro francês Stephane Lannoy de “ladrão”.
A imagem foi captada pelo circuito interno do Estádio e, mostrada várias vezes em câmera lenta, tornou possível a leitura labial, sem margem de erro. Dunga xingou também o atacante Didier Drogba, autor do gol da Costa do Marfim.
Dunga corre o risco de ser enquadrado no artigo 57 do Código Disciplinar da Fifa, que prevê punição para seu destempero e boca suja: “Qualquer pessoa que ofenda alguém de forma ofensiva por gestos ou linguagem, violando a boa conduta, corre o risco de sofrer sanções”.
São três as punições previstas para o caso: multa, advertência ou repreensão. Questionado sobre a situação de Dunga, o porta voz-da Fifa, Nicolas Maingot, não deu nenhuma pista: “Não tenho conhecimento desse assunto. É a primeira vez que estou ouvindo falar disso”, desconversou.
Maradona, ao contrário, sabe muito bem qual é o risco que Dunga corre por ter desrespeitado o Código Disciplinar da Fifa. O técnico passou por situação parecida após o jogo contra o Uruguai, que garantiu sua seleção na Copa. Na comemoração, Maradona xingou os jornalistas e, como punição, foi proibido de participar do sorteio dos grupos da Copa da África do Sul. Maradona foi suspenso por dois meses e teve de pagar multa de R$ 42 mil.
Diário de grosserias
Passatempo preferido do técnico da seleção brasileira é atacar a imprensa na África do Sul
27 de maio
Desde que assumiu a Seleção, há quase quatro anos, Dunga vem tendo uma relação apimentada com a imprensa. Na África do Sul, não passa uma entrevista coletiva sem provocar os repórteres, acusando-os de torcer contra o Brasil. O ataque gratuito ao jornalista da TV Globo, Alex Escobar, após a vitória de domingo, foi apenas mais um de seus destemperos, que dessa vez teve eco porque, no auge de sua falta de educação, Dunga balbuciou um xingamento que vazou na transmissão de TV para todo o Brasil. Mas o ‘diário de grosserias’ de Dunga em Joanesburgo é bem mais extenso.
O Brasil chega a Joanesburgo. Dunga, que não falava aos jornalistas desde a convocação do dia 11, recebe a imprensa para uma entrevista coletiva e já manda seu recado.
“Falo o que penso. E digo na frente. Não espero vocês saírem para falar (...). Quando eu era jogador, ninguém falava que meu português não era bom. Agora, falam do meu português e da minha roupa. Atacam a minha família para ver se me desestruturam, masvai ser difícil.”
Num raro momento de bom humor, ele opina sobre a decisão de Maradona de liberar sexo na Copa.
“Temos que respeitar as individualidades. Nem todo mundo gosta de sexo, de tomar seu vinho e seu sorvete”.
03 de junho
Dunga perde a linha com o secretário geral da Fifa, Jérôme Valcke, que ironizara as críticas do goleiro Julio Cesar à bola Jabulani.
“Um cara que nunca entrou em campo, que não dá um chute na bola, só sabe falar. Vamos botar uma bola pra ele dominar”.
No mesmo dia em que ataca Valcke, Dunga acusa os jornalistas de torcerem contra a Seleção.
“Tudo que foi feito antes ficou para trás. Não conta mais. No Brasil, é preciso provar sempre no próximo jogo. Seguramente, aqui temos 300 jornalistas do Brasil, esperando a Seleção perder”.
14 de junho
Na véspera da estreia, a Seleção pisa pela primeira vez no Ellis Park e, na entrevista coletiva, Dunga é questionado sobre o treino fechado da véspera. Dessa vez, destila sua ironia contra o assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, que não estava na sala.
“Talvez o Rodrigo não tenha explicado bem, porque ele é um cara muito educado e não quis o conflito. O treino não é fechado. É privado. Essa é uma forma nova de trabalhar. Talvez, vocês não estejam acostumados. Vocês não falam em criatividade em relação ao jogador? É hora de ter criatividade nesses momentos e criar alguma coisa para escrever.”
Na mesma coletiva, Dunga chama sua relação com a imprensa de “confronto”.
“Dificuldade, a gente tem a todo momento. Sempre que comecei a jogar futebol vejo esse confronto com a imprensa. Apanho de manhã à noite, né? Aí, quando respondo uma vez, sou rancoroso. Será assim até o fim. Se dou uma resposta, sou rancoroso. Vocês são simpáticos, alegres, divertidos... .”
Dunga insiste em medir forças com a imprensa, e considera-se em desvantagem.
“Se você me perguntar, vou ter que responder. Posso não gostar da tua pergunta e, você, da minha resposta. Só que você tem uma grande vantagem: 24 horas para continuar me batendo. E eu só tenho um segundo.”
O alvo da vez é o jornalista da TV Globo, Mauro Naves, que faz uma pergunta a Dunga.
“As críticas maiores que recebo são porque aqui não tem entrevista exclusiva ou treino privado. Se fosse dar bola pra tudo que escrevem, quando disseram numa manhã que o Julio Cesar estaria fora do jogo, meu coração teria ido a 200 por hora. Eu ia ficar com o cabelo branco igual ao seu, num dia só.”
15 de junho
Após a vitória sobre a Coreia do Norte, ao responder a uma pergunta sobre a boa atuação de Robinho, Dunga aponta para o jornalista Sílvio Barsetti, do Estado de S. Paulo, e provoca-o, com ironia.
“Robinho tem uma versatilidade muito grande, sabe jogar em diversas posições. Ano passado, quando ele estava no Manchester, não queriam a convocação dele. Você aí... É... Você mesmo... Você foi um deles... Sabe qual é o meu defeito? Eu tenho memória de elefante, isso me prejudica.”
19 de junho
Dunga demonstra ter ficado aborrecido com a notícia de que Gilberto Silva sofrera uma pancada no treino e que corria o risco de não enfrentar a Costa do Marfim.
“A cada dia se cria uma fantasia e se coloca todo mundo em pânico. Não estou aqui para apagar incêndio criado por vocês.”
O técnico reclama da imprensa em acompanhar o treino secreto.
“Amanhã, quando o time entrar em campo, vocês vão saber a escalação. Pode ter uma novidade... Vocês vão se machucar, cair do prédio, por nada...”
20 de junho
Dunga interrompe a coletiva após o jogo com a Costa do marfim para interpelar o jornalista Alex Escobar, da TV Globo, que balançava a cabeça.
“Algum problema?”, pergunta.
O jornalista nega educadamente e, em seguida, quase que murmurando, o técnico Dunga olha para Jorginho e xinga o repórter sem imaginar que seria ouvido, mas o áudio vaza para o telespectador na transmissão da televisão. Quando a coletiva chega ao fim, o treinador se dirige ao jornalista João Ramalho, também da TV Globo, e manda um recado para Alex Escobar. “Tem que olhar no olho. Ser macho”.
O vídeo abaixo é o boletim feito ao vivo no Fantástico sobre a visão, a opinião da Rede Globo sobre o fato.*
http://www.youtube.com/watch?v=Lum7vY7jo8A&feature=related
* A postagem desse vídeo, não teve intenção de ficar de um ou de outro lado, mas permitir aos que não viram, a ferramenta para que possam vê-lo, porque a polêmica teve parte de seu início ai.
Quem desejar ver a coletiva sem a "defesa" da Rede Globo, clique no link abaixo e veja o desenrolar da história.
http://www.youtube.com/watch?v=0nvIdl_NQ5U&feature=related
---> Na coluna do Editor de Esportes de hoje, (24) ele comenta sobre o assunto. Clique aqui e veja.