A classificação da Seleção às quartas de final da Copa aumentou a confiança dos torcedores que estão na África do Sul. Aliviados com a eliminação prematura das fortes seleções da França, Itália, Inglaterra e Portugal, muitos brasileiros que haviam se programado para voltar para casa no meio da competição estão refazendo seus planos. Esbanjando confiança na conquista do hexa, há até quem já está comprando ingressos para a final do Mundial, antes mesmo do confronto com a Holanda, pelas quartas de final.
“Estou confiante de que a nossa Seleção vai chegar lá! O time está melhorando a cada jogo, a bola começou a entrar e até a combinação de adversários está do nosso lado. Basta ver os jogos que a Argentina terá pela frente para chegar à final e os nossos. Talvez o adversário mais complicado que temos pelo caminho seja a Holanda, mas não me assusta”, garantiu o carioca Kadu Pereira, 28 anos, que depois da vitória sobre o Chile pagou US$ 2 mil (cerca de R$ 3.900) por um ingresso para a final da competição.
“Estava com a viagem toda programada para voltar depois das oitavas de final, mas não vou conseguir ir embora e perder a chance de ver o Brasil ser campeão aqui. Esta é uma oportunidade única que estou tendo, por isso estou indo para o sacrifício gastando todas as minhas economias”, justificou Kadu, que também comprou uma entrada para a semifinal da Copa, pela qual pagou mais US$ 700 (aproximadamente R$ 1.365).
Os ingressos foram comprados nas mãos de cambistas que atuam livremente na porta da central de vendas oficial da Fifa, em Johanesburgo. Destinados a cadeiras localizadas na parte inferior do estádio, eles foram vendidos pela Federação por US$ 400 (R$ 780), como mostra o valor impresso no próprio bilhete.
Apesar do superfaturamento no preço dos ingressos, que chega a 500%, os cambistas acabam se beneficiando da empolgação e do fanatismo dos torcedores. “Desmarquei audiências, adiei outros compromissos, fiz de tudo para ficar aqui até o fim da Copa. Sei que é caro e que é um risco que estou correndo, mas tomara que eu traga sorte para a nossa Seleção”, comentou o advogado baiano Carlos Augusto Siqueira, 36, que também deixou a emoção falar mais alto e pagou US$ 1.800 (cerca de R$ 3.500) para garantir seu lugar no Soccer City, na final do dia 11 de julho.
Cambista brasuca faz a festa
Como se estivesse interessada na compra de ingressos para as partidas decisivas da Copa, a equipe conversou com os cambistas. E, no meio dos agenciadores italianos, ingleses, franceses e americanos, descobrimos a presença de alguns brasileiros que também fazem parte do esquema. Sem saber que conversava com um repórter, um deles, que se identificou apenas como Juraci, disse que está em sua quarta Copa do Mundo.
“Em todas, fui para trabalhar. E sempre deu pra fazer um bom dinheiro”, contou Juraci, que explicou por que os policiais sul-africanos não os incomodam. “É simples, eles também ganham a sua parte. Todos os dias a gente gasta uns 700 Rands (cerca de R$ 175) com o ‘cafezinho dos guardas’. Mas, como trabalhamos com uma margem de lucro de 400%, 500%, às vezes até mais na venda de um ingresso, vale a pena”.
Determinado a faturar com mais uma venda, ele propôs o que chamou de “pacote especial”. “Se a Seleção não chegar à final, eu vendo o seu ingresso. Garanto que consigo repassá-lo por até US$ 3 mil (R$ 5.850) no dia da final. Você só terá que me dar uma comissão de US$ 200 (R$ 390)”.