Chega ao fim a era do 'Professor' Dunga

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Volantes em excesso, incompatibilidade total com jogadores de criação, craques na concepção da palavra, disparos contra a imprensa e a total falta de educação de um técnico que mais parecia um general. Estas palavras que resumem o trabalho de Dunga durante estes quatro anos devem se afastar da Seleção, em definitivo, nesta sexta-feira. Pelo menos é o que espera o povo. Mas resultados inquestionáveis até a derrota por 2 x 1 para a Holanda o mantiveram à frente da equipe canarinho.
Ele se manteve com vitórias expressivas, principalmente com os títulos da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações de 2008 e a classificação em primeiro lugar nas Eliminatórias. O problema é que todos os grandes triunfos não foram festejados pelo treinador, mas sim utilizados como um cala-boca contra seus críticos.
Em relação aos números, a campanha do gaúcho Carlos Caetano Bledorn Verri, como foi batizado Dunga, é fantástica: em 59 jogos, foram 42 vitórias, 12 empates e seis derrotas. Além disso, o time marcou 127 gols (média superior a dois por partida) e sofreu apenas 41 (menos de um por confronto).
Vitórias expressivas também se tornaram uma marca do trabalho de Dunga, principalmente as três contra a Argentina. A mais especial foi a conquistada no dia 5 de setembro de 2009, quando Luís Fabiano (duas vezes) e Luisão marcaram no 3 x 1 sobre os 'hermanos' em pleno Monumental de Nuñez. Vale destacar que a rival só havia perdido uma vez nas Eliminatórias, em 1993, na goleada histórica por 5 x 0 para a Colômbia.
Inesquecíveis também foram as goleadas por 3 x 0, uma em 2006, em amistoso realizado em Londres; outra um ano depois, quando a vitória garantiu à Seleção a conquista da Copa América com um time que não contou com os astros Kaká e Ronaldinho Gaúcho.
Para completar a lista de triunfos antológicos, um massacre sobre Portugal em amistoso realizado em Brasília: 6 x 2; e inquestionáveis 3 x 0 sobre a Itália na primeira fase da Copa das Confederações. Aliás, neste mesmo torneio, a recuperação do Brasil na final também tem de ser registrada. Após sair perdendo por 2 x 0 para os Estados Unidos, a equipe de Dunga encontrou forças para virar, tendo no capitão Lúcio, autor do terceiro gol, o herói da conquista.
Vale destacar: dificilmente Dunga dedicou essas vitórias ao povo, deu um sorriso ou mostrou alegria. Os resultados positivos sempre se convertiam em alfinetadas, respostas e desabafos.
Se os excelentes números, construídos sob a regra do "futebol de resultados", eram música para os ouvidos do povo brasileiro, o mesmo não pode se dizer em relação a jogadores que vestiram a Amarelinha. O goleiro Doni, hoje terceiro reserva da Roma, é um dos principais símbolos da falta de sintonia de Dunga com o povo em relação ao time ideal. Josué, Júlio Baptista, Gilberto Silva e Felipe Melo também causavam urticárias nos torcedores. Até Afonso Alves, um desconhecido na Europa, onde atuava pelo modesto Heerenveen, da Holanda, o treinador inventou.
Para piorar, o craque Ronaldinho Gaúcho, que após uma longa má fase voltou a jogar bem em 2009, foi esquecido por Dunga. A ausência do meia foi uma das coisas mais questionadas pelo povo sul-africano.
O problema é que não apenas o jogador do Milan foi esquecido, mas também dois jovens com enorme potencial que brilharam muito em 2010: os santistas Neymar e Ganso. O último, aliás, era visto como uma das alternativas para Kaká, que não se destacou na Copa, como a maioria já prevera. Ele também faz a função de Elano, que se machucou contra a Costa do Marfim.
Mas não só os "brucutus" e a repelência total aos craques fizeram de Dunga uma pessoa antipática a boa parte do povo brasileiro. Apesar de ter perdido apenas cinco vezes em jogos do time principal, ele acumulou três jogos sem gols, o que fez a torcida gritar "Adeus, Dunga" após empate por 0 a 0 com a Argentina, no Mineirão, pelas Eliminatórias. Antes do tropeço nos "hermanos", o time dele sofreu derrotas terríveis: um 2 a 0 para o Paraguai e num amistoso nos Estados Unidos, onde sua equipe conseguiu um resultado inédito na história da Seleção: perder para a Venezuela (por 2 a 0).
Para completar os maus resultados, se o trabalho de Dunga teve como ponto principal as grandes vitórias sobre a Argentina, muitos se esquecem da vexatória derrota por 3 a 0 na semifinal da Olimpíada de Pequim, em 2008, adiando mais uma vez o sonho do ouro olímpico no futebol.
Povo hospitaleiro, brincalhão e de muitos sorrisos, o brasileiro não se encantou pelos números frios e calculistas de Dunga. A derrota pode ser sofrida para 190 milhões que amam tanto sua Seleção, mas também reserva seu lado positivo: o futebol de resultados, que exclui o talento e prioriza a força foi vencido.

 

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