Em julho de 2007, a CBF entregava em Zurique (Suíça) o caderno de encargos com a candidatura do Brasil como sede da Copa de 2014. Na época, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, garantia que o Brasil tinha “todas as condições, em termos de infraestrutura” para realizar pela segunda vez uma Copa do Mundo no País. Três anos depois, no lançamento oficial da Copa brasileira, o discurso do dirigente é outro: “O Brasil tem três grandes problemas: aeroporto, aeroporto e aeroporto”. No Rio, apesar da Infraero estimar mais de R$ 1 bilhão de investimentos em melhorias no Tom Jobim e no Santos Dumont, as condições ainda estão longe das ideais.“A questão dos aeroportos é preocupante. Rio, São Paulo, Belo Horizonte, entre outras capitais, estão bem abaixo da crítica. Somente com o que recebem de passageiros hoje, antes da Copa”, enfatiza Carlos Alberto Amorim Ferreira, presidente da Agência Brasileira de Agentes de Viagem (Abav). “Todo ano temos crescimento de 20% do tráfego aéreo, imagina como chegaremos em 2014? Vai ter gente saltando do avião de paraquedas”, critica ele, após 15 dias na África do Sul, de onde voltou satisfeito.Para deslocamento por terra, após mais de quatro anos, o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou o projeto para licitação do trem-bala Rio-Campinas-São Paulo. Mesmo sem ter ainda uma data para o lançamento do edital, o Governo Federal garante que os torcedores vão se deslocar de trem. No Rio, a SuperVia e o Metrô também preveem investimentos: foram comprados 39 vagões de trens e também está prevista a reforma de estações próximas ao estádio do Maracanã. O secretário Estadual de Transportes, Sebastião Rodrigues, também cita o “metrô sobre rodas” na Avenida Brasil, como parte da verba para o deslocamento interno.Quanto à acomodação de atletas e torcedores, a preocupação diminui. Uma pesquisa preliminar da Riotur prevê a chegada de quase 200 mil pessoas para ver a Copa no estado. O presidente da Riotur e secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello, espera um movimento na cidade comparável a “um Carnaval de 30 dias na cidade”. O secretário acredita que os recentes pedidos de licenciamentos de empresas privadas para a construção de hotéis cubram a exigência da Fifa de 55 mil quartos de hotéis por sede. Hoje, o Rio tem cerca de 35 mil. “Mas não podemos ter uma capacidade absurda de hotéis para depois ficar ocioso”, ressalta o secretário, que aposta em mais um Fan Fest da Fifa na cidade. Além de Copacabana — o segundo do mundo em público, de acordo com Antonio Pedro — a Apoteose receberá a estrutura da Fifa.
Até CPI atrasa estádios
Para Ricardo Teixeira, fora São Paulo e Curitiba, as demais capitais não representam problemas quanto ao cronograma de entrega de estádios. Mas, na prática, não é bem assim. A licitação do Maracanã, adiada já algumas vezes, pode finalmente ser realizada na quinta-feira. Quase 50 empresas entregaram projetos e o custo alcançará os R$ 720 milhões. Em Fortaleza, suspeitas de irregularidades e pedido de abertura de CPI atrasam o processo de licitação do Castelão, que tinha início de reforma prevista para o mês passado. Em Salvador, a nova Fonte Nova foi o primeiro estádio a ter licitação publicada. Mas nada de início das obras, pois o empréstimo de R$ 400 milhões para o projeto está sendo questionado pelo Tribunal de Contas do Estado. Em Brasília, sete meses após o prazo inicial, uma das empresas vencedoras da licitação (Via) tem nome envolvido na operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. A construtora seria favorecida do governo de José Roberto Arruda, cassado pelo escândalo político.
"Já são 47 dias na África do Sul, a maior parte desse tempo em Johanesburgo. E não dá pra dizer se a calçada em frente ao hotel Southern Sun está gasta ou não. Jamais pisei nela, tantos foram os conselhos para que não andasse na rua, por razões que a polícia conhece e que, graças a prevenções, não descobri.De carro pra lá e pra cá, sob o volante preciso do fotógrafo Marcelo Regua, na mão inglesa, não houve um só buraco no nosso caminho. As estradas são novíssimas, e, se o trânsito não ajuda muito, também não atrapalha quem tem tempo razoável para fazer o percurso num asfalto de primeiro mundo.Um desperdício! Com tanta estrada e nenhum buraco, o transporte público é dos mais precários que já vi, e talvez tenha sido o principal vilão dessa Copa do Mundo. Os poucos ônibus que circulam nas ruas caem aos pedaços, assim como as vans. É quase impossível pegar um táxi, e quase tão difícil quanto conseguir um é sair dele sem ser assaltado.“Quanto é?”, pergunta o cliente. “É tudo o que você tem”, responde, com uma faca em punho, o motorista, no curto diálogo narrado por dois jornalistas que passaram o mesmo sufoco em Pretória e Johanesburgo.A falta de segurança esbarra na corrupção. A polícia é capaz de abordar o motorista que fala ao celular, ameaça-o de reboque, mas a liberação do infrator e o perdão têm preço: 200 rands (R$ 50), um aperto de mão e satisfação garantida de ambos os lados.O que não tem preço são os estádios. Modernos, reformados, com bom estacionamento e estrutura para a imprensa, somente serão superados pelos da Copa de 2014, se os prazos começarem a ser cumpridos no Brasil. Mas ainda assim deixaram a desejar: a má qualidade dos gramados obrigou o cancelamento de boa parte dos tradicionais treinos de reconhecimento, feitos nas vésperas dos jogos.Cada Jabulani tem a grama que merece. Se muitas vezes ela alçou voos não programados pelo pé de quem a chutou, os aviões viveram um transtorno parecido na semifinal de Durban. O caos aéreo impediu que centenas de torcedores assistissem à classificação da Espanha para a final da Copa. Mas foi um fato isolado. A questão dos aeroportos, maior desespero do Comitê Organizador de 2014, foi na pior das hipóteses razoável.O mesmo não se pode falar dos hotéis. O improviso falou mais alto do que o conforto, para muitos jornalistas na África do Sul. Quem achou que era um bom negócio alugar uma casa, morreu em duas despesas, pois acabou tendo de contratar também um segurança, pois as invasões são tão comuns quanto as cercas de arame farpado e os alarmes, que pouco adiantam.Dá pra fazer melhor? Dá. Basta dar carrinho, suar a camisa, comer grama, entrar na dividida e acreditar que não há bola perdida. Faltam quatro anos. É só arregaçar as mangas e construir um país mais viável, inspirado no sonho da gente."
MARLUCI MARTINS
Subeditora de Esportes
“Os poucos ônibus que circulam nas ruas caem aos pedaços, assim como as vans”
"Para mim, cobrir a Copa do Mundo na África do Sul foi uma grande surpresa positiva. Deu para perceber que foi feito um grande esforço para que o país conseguisse suportar uma Copa. E foram muito felizes, porque conseguiram.Entre os pontos positivos, eu destaco a mobilidade do trânsito. Eu sou setorista de transportes e gostei muito do que vi por lá. Não do transporte público. Esse era um problema crônico, mas que não afetou o Mundial.A preocupação não era com transporte, mas com a mobilidade do trânsito. E isso funcionou. As estradas e vias expressas eram todas muito bem sinalizadas e conservadas. Algumas de tão novas nem apareciam no GPS.O que me preocupa para 2014 no Brasil são os aeroportos. Vi uma quantidade impressionante de gente de todas as partes do mundo que foi à África do Sul para participar de uma festa como essa.Em comparação com aeroportos de lá, Rio e São Paulo precisam melhorar muito. O Brasil vai ter de correr muito pra chegar perto de onde eles chegaram. Vai ter de suar mesmo a camisa e começar a trabalhar já se quiser fazer uma Copa à altura da África do Sul, mesmo com os problemas que o país teve.Mas o Brasil está no caminho certo. Vi pessoas daqui trabalhando em conjunto com autoridades de lá. O caminho é esse.O povo sul-africano estava vivendo a maior alegria da vida deles. Tudo que o turista precisava, conseguia com a maior cordialidade. E acho que aqui vai ser bem parecido.
Infraero prevê um investimento de R$ 1 bilhão apenas no Aeroporto Tom Jobim, no Rio"
MAHOMED SAIGG
Repórter de Cidade
“O Brasil vai ter de suar a camisa e trabalhar já”