Marcelo Alexandre Becker/ON
No esporte de alto rendimento é assim: todos tentam superar limites, marcas, recordes. Todos buscam ser o melhor. No tênis Rafael Nadal e Roger Federer oscilam a posição de número 1 a cada ano, a cada torneio. Na Fórmula 1, o campeão atual campeão, Jensen Button, não tem mais chance de repetir o feito em 2010, e no futebol o argentino Messi, e o português Cristiano Ronaldo praticamente dividem o mundo na escolha de quem é o melhor. Mas na contramão destes esportes está o vôlei, que conta com uma unanimidade em todo o planeta: Murilo Endres é o Melhor do Mundo.
O ano do passo-fundense com a seleção brasileira está sendo perfeito. Título do Liga Mundial, do Torneio Hubert Jerzeg, e do Mundial de Vôlei, no último fim de semana, sendo eleito o melhor jogador em todas as competições. Apesar de tudo isso, de todas as conquistas e prêmios individuais, Murilo não parece deslumbrado, fala que tudo é reflexo de muito trabalho, esforço, acredita que é um jogador completo, mas sorri, e se atrapalha ao tentar responder como é ser o melhor jogador do mundo.
O Tri na Itália
Para Murilo, o mundial disputado na Itália foi complicado para o Brasil desde o começo, quando foi diagnosticada uma doença estomacal no levantador Marlon. A partir disso, comissão técnica e jogadores da seleção tiveram que superar vários obstáculos, e agir com calma e inteligência. “O Marlon estava sem condições de jogar. Um dia antes da estreia o Bernardinho tentou trocar de jogador junto a Federação Internacional, mas não aceitaram. Assim, a primeira fase jogamos com um levantador a menos, e perdemos para Cuba por 3 sets a 2, num jogo muito bom”.
O polêmico 3 sets a 0 para a Bulgária
Na segunda fase, o Brasil enfrentou a Polônia por 3 sets a 0, resultado que classificou o Brasil antecipadamente para a fase seguinte. Assim, o jogo contra a Bulgária seria apenas para cumprir tabela. “Uma competição não deveria ter uma fórmula que fizesse um jogo não valer nada em termos de classificação, e foi o que aconteceu na Itália. Nós já estávamos sem o Marlon, e naquele dia o Bruninho (o outro levantador brasileiro) acordou com febre. Não poderíamos desgastar ele num jogo que não mudaria nossa vida, e assim o Bernardinho escalou o Théo (que joga na posição de oposto) com levantador, e o time não foi bem. É complicado, mas nós nem a Bulgária tínhamos interesse em vencer aquele jogo, mas o mundo todo só falou da gente, sendo que os titulares da Bulgária estavam na arquibancada. Enfim, ficou feio, mas nós precisávamos poupar o Bruninho.”
O Regulamento
“Fizeram um regulamento para garantir a Itália com um caminho livre até a semi-final. Foi um regulamento infeliz, o capitão da sérvia reclamou do regulamento, os americanos, os russos. Ninguém gostou do regulamento. Em 2006 foi diferente, todo jogo cada seleção precisava da vitória para ficar melhor na outra fase, mas este ano não foi assim, e já estão falando em um regulamento diferente para 2014, mas ninguém sabe como será”.
Fácil só pela TV
Tanto a semi contra a Itália, como a final contra Cuba, o Brasil atropelou. Mas Murilo falou que, apesar dos placares, os jogos só são fáceis pela televisão, pois dentro de quadra as partidas decisivas exigiram muita concentração do time. “Você vê um placar de um jogo decisivo ser 25/15 por exemplo, e pode pensar que jogo está fácil, que foi fácil, mas não. Contra a Itália, que foi 3 sets a 1, tínhamos o ginásio todo contra a gente, os árbitros de linha, mas jogamos bem, e vencemos aproveitando o nervosismo deles. Já a final contra Cuba, que é uma grande seleção, penso que a camisa, os títulos do Brasil pesaram muito. Prevaleceu a força da nossa camisa, e vencemos por 3 sets a 0.
A melhor de todos os tempos
Após o tri do Mundial, Murilo falou que a seleção brasileira é a melhor de todos os tempos, pois tem todos os títulos possíveis. Mas ele não se refere apenas a sua geração. “Eu acredito que a seleção brasileira, todos os times e jogadores da ‘era Bernardinho’, fez com que o nosso vôlei se tornasse o melhor de todos os tempos. O Brasil ganhou tudo, e se pensarmos na Itália por exemplo, que é o rival histórico do Brasil, eles não têm o ouro olímpico, e nós temos dois.”
Murilo, como é ser o Melhor do Mundo?
“(Risos) é estranho... é difícil admitir isso... é, foi uma eleição, mas eu paro para pensar, pô sou o melhor do mundo, é complicado, cara. O vôlei é muito nivelado, tem grandes jogadores... eu acho que sou um atleta completo, consigo executar muito bem todos os fundamentos, e principalmente manter uma média alta de atuação durante as competições. Ninguém vence sozinho, no vôlei a equipe é o mais importante”.