Não morreu

Decisão do Tribunal de Justiça do Estado abre possibilidade de anulação do leilão da venda do Estádio Wolmar Salton

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Gerson Lopes/ON

Após a seqüência de maus resultados que provocou a queda para a 3ª divisão, o S.C. Gaúcho teve força para buscar fora dos gramados, provavelmente uma das mais importantes conquistas nos 93 anos de existência do clube. Por três votos a zero, o Tribunal de Justiça do Estado, aceitou, na tarde de ontem, a tramitação do processo que pede a anulação do leilão de venda do estádio Wolmar Salton, ocorrida em junho de 2007. Com a decisão, a sede de um dos times mais tradicionais do Rio Grande do Sul, transformada em ruínas, tem grandes possibilidades de voltar a ser a casa do alviverde.

A mesma ação aceita ontem pelo TJE havia sido julgada improcedente pela justiça de Passo Fundo, mas o clube recorreu.  Advogada do Gaúcho, Patrícia Alovisi explica que, com a tramitação do processo, o clube vai ter condições de apontar erros e equívocos, além de revisão de cálculos das ações. Em outra fase do processo, o clube deverá solicitar uma nova avaliação do patrimônio.

Na época, o valor foi avaliado em R$ 1,7 milhão, mas a área acabou sendo arrematada, segundo a defesa do clube, com créditos indevidos, por R$ 1,1 milhão, cerca de 63% da avaliação. A sentença determinando a anulação ou não do leilão deverá ser definida em aproximadamente 18 meses. “Estamos confiantes que será favorável à anulação da arrematação”, afirma Patrícia.

A dívida que levou o estádio Wolmar Salton a ser leiloado faz parte de uma ação movida contra o Gaúcho, em 1996, quando um menino, que na época tinha 10 anos, afogou-se na piscina do clube e passou a viver em estado vegetativo. Além dela, a entidade responde por pelo menos mais 192 ações trabalhistas, atingindo aproximadamente R$ 3 milhões. “Existe a possibilidade de acordos. O Gaúcho tem um imenso patrimônio, arrematado por um valor irrisório. Tem capital suficiente para pagar o rapaz e todos as trabalhistas, é só uma questão de administrar o patrimônio” afirma a advogada. Caso a decisão da justiça seja favorável ao clube, a direção pretende realizar uma perícia para avaliar toda a área destruída do estádio e  pedir o ressarcimento dos prejuízos aos responsáveis.

Principal responsável por manter o Gaúcho em campo nos últimos dois anos, mesmo enfrentando enormes dificuldades econômicas, o presidente Gilmar Rosso não conteve as lágrimas ao saber da notícia. Emocionado, disse que chegou a ir até a estação rodoviária comprar a passagem a Porto Alegre para participar da audiência, mas desistiu com medo de não suportar a emoção. “Por várias vezes fui chamado de louco, de chato, mas sempre acreditei. O Gaúcho jamais morrerá” desabafou. Confiante, Rosso já projeta a comemoração do primeiro centenário do clube, em maio 2018, na própria casa do periquito. “Vamos torcer e trabalhar para que isso aconteça” comemora.

Patrimônio Histórico

O Estádio Wolmar Salton foi tombado com patrimônio histórico e cultural de Passo Fundo pelo Conselho Municipal de Cultura. Com isso, a área não pode sofrer alterações.

--- > Presidente ressalta que o trabalho feito desde 2009 teve mais um resultado positivo

Marcelo Alexandre Becker/ON

“Era para isso que fizemos o que fizemos, que colocamos a camisa em campo, trabalhamos para termos este resultado, acho que agora todos entenderam o meu discurso”, falava o emocionado presidente Gilmar Rosso na tarde de ontem logo após a decisão judicial favorável ao clube.

A ideia era não deixar o Gaúcho morrer

Quando em novembro de 2009 o jornal O Nacional noticiou de forma exclusiva de que o Sport Club Gaúcho voltaria com as atividades de futebol profissional, mesmo sem ter onde treinar e mandar seus jogos, a atual diretoria do ainda clube do Boqueirão destacava que a ideia era manter o Alviverde vivo, e se estruturar para que em 2018, ano do centenário, o Gaúcho esteja forte.

Gaúcho em Marau
E foi assim que passo a passo aquele que é conhecido como o “mais querido da cidade”, adotou Marau como casa, e mandou seus jogos na Segundona de 2010 no estádio Carlos Renato Bebber, já que não tinha outra opção. Mas junto com a volta ao futebol profissional, vieram também as inúmeras ações judiciais contra o clube, que pediam penhoras das rendas, e dos valores arrecadados com vendas de camisas e até adesivos, e também da marca Sport Club Gaúcho. A única fonte de renda do clube que ficou ilesa de penhoras foi a “caixinha” que o presidente Gilmar Rosso passava na arquibancada para a colaboração dos torcedores. “A nossa torcida sempre ajudou, sempre lutou junto com a gente pelo Gaúcho. Na caixinha cada um colocava quanto queria, e foi assim que fomos mantendo o time em campo”, ressaltou Rosso. Em campo o time surpreendeu ao se classificar para a segunda fase da competição.

De volta a Passo Fundo
O segundo ato da atual diretoria era faze com que o Gaúcho voltasse a mandar suas partidas em Passo Fundo. Para que isso acontecesse, ainda no final do ano passado foi proposto para os advogados do garoto acidentado nas piscinas do clube, que o Gaúcho pagaria um aluguel pelo direito de jogar no Wolmar Salton, o que não foi aceito.

Alternativa Vermelhão da Serra
Sem a possibilidade de voltar para a sua casa, mesmo pagando aluguel, surgiu a opção de em 2011 mandar os jogos no Vermelhão da Serra, justamente o estádio do rival Esporte Clube Passo Fundo. Mais uma vez Gilmar Rosso ressaltava que os objetivos do clube estavam sendo alcançados. “Primeiro queríamos colocar a camisa em campo: conseguimos. O segundo passo era trazer o time de volta para Passo Fundo, e é o que estamos fazendo agora”, afirmou o presidente na época em que anunciou que o Gaúcho jogaria no Vermelhão da Serra.  

Rebaixamento para a Terceirona não abalou o “projeto centenário”
Se em 2010 o time comandado por Ricardo Attolini surpreendeu, o mesmo não pode ser dito da campanha deste ano. Com apenas duas vitórias, ambas contra o Atlético de Carazinho, pior time da competição, o Gaúcho foi rebaixado para a terceira divisão. Na noite em que o time caiu, mais uma vez Gilmar Rosso destacou que, apesar da tristeza momentânea do fato, o principal era manter o time atuando. “Claro que estou triste. Gostaria de estar falando da nossa classificação, de reforços para a segunda fase, mas estamos rebaixados. O que eu quero deixar claro para o nosso torcedor é que não vamos parar de perseguir o sonho de estar forte, em nossa casa no ano do nosso centenário. Sempre deixei claro que o nosso trabalho é para 2018”.

O recomeço

Com a decisão judicial da tarde de ontem, o Gaúcho deu o primeiro passo para poder voltar ao Wolmar Salton. A prova da importância do fato ficou clara quando, a reportagem de ON estava em frente à sede do Alviverde e um torcedor parou seu carro e perguntou: “O Gaúcho ganhou?”, no mais típico espírito de jogo. Sim, o Gaúcho ganhou, e o projeto centenário nunca esteve tão forte.

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