Quase anônimos

Há vidas que dão vida ao Estádio Vermelhão da Serra. São pessoas que cuidam de tudo, da estrutura, da roupa, da burocracia e da comida. Pouco conhecidos da torcida, são homens e mulheres que têm algo em comum: eles adoram trabalhar no Vermelhão.

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Um estádio de futebol é bem mais do que um campo para jogar bola. Um estádio tem muito além das arquibancadas onde sentam os torcedores. É uma estrutura complexa que exige muito trabalho. Para os jogadores entrarem em campo, a bola rolar e a torcida vibrar, tem muita gente trabalhando no estádio. Antes, durante e depois da partida. Conheça alguns desses homens e mulheres que adoram trabalhar no Vermelhão da Serra. 

Serviço pela frente

Décio Vanin, 55 anos, está aposentado. É conselheiro e diretor de patrimônio do Passo Fundo. Desde 1989 ele vai diariamente ao estádio. Não como dirigente, mas como trabalhador. Não tem horário, tem serviço pela frente. “Cortar grama, comandar os serviços de pintura, pedreiro, encanador, eletricista e o que for necessário”, enumera.

A variação de serviços é uma rotina. “Na véspera de jogo tem que examinar os vestiários”, exemplifica. Ele passa o dia caminhando pelo Vermelhão. Faz compras de material pesado, contrata mão de obra, e cuida do campo principal e mais seis suplementares. “Quando á para levar a escolinha eu sou o motorista do ônibus. Já fui bilheteiro, porteiro, maqueiro e gandula”.

Basta chegar ao estádio para ver o Décio trabalhando. E muito trabalho, mas ele encara essa rotina como da maior importância em sua vida. E já quer fazer mais. E anuncia que “pretendemos fazer arquibancadas pré-moldadas”. Será mais um servicinho para o Décio.

Melhor do que em casa

Seu Ari pode ser encontrado em todos os cantos do Vermelhão e nas mais variadas tarefas. Ari de Oliveira, 61 anos, natural de Tapejara é funcionário do clube. Quando lhe perguntam o que faz, a resposta é “tudo aí”. Depois ele detalha: “sou jardineiro, pintor, pinto o gramado, sou arrumador...” e cita inúmeras tarefas.

Na prática Ari faz mesmo de tudo um pouco. Arruma a cerca, ajeita o portão, tapa um buraco, espalha brita na entrada, conserta uma tubulação e remenda o muro. Trabalha de segunda à sexta-feira. “Mas se tem jogo fico aí ajudando, porque gosto da folia”.

Ari adora de trabalhar no Vermelhão da Serra. Para ele o difícil é sair de casa e chegar ao estádio, um longo caminho para um morador da Hípica. Além de gostar do trabalho, tem um sentimento especial pela convivência. “Aqui é bom. O pessoal é tudo educado e me tratam muito bem, até a gurizada. Aqui me sinto melhor do que em casa”.

A lasanha da Tia

Dona Nair é carinhosamente chamada de “Tia” no Vermelhão. Nair Aguiar Cardoso, 70 anos, é natural de Passo Fundo e comanda a cozinha. É personagem antiga na vida do clube. “Trabalhei aqui 15 anos, dei uma saída e voltei já faz sete anos”. Ao seu lado trabalha a Celedir. Além de cozinheira, ela também ajuda na limpeza quando necessário. São 30 pessoas servidas quando tem treino e em torno de 20 nos outros dias. “A gente faz o possível para atender eles aqui”. Os jogadores têm um carinho especial pela Tia e pelos seus quitutes. “Eles elogiam tudo que eu e a minha colega fazemos.”

Diz que o pessoal não é exigente. “O que colocar na mesa é sempre bem vindo, mas gostam mesmo é de carne”. Dona Nair explica que nunca falta arroz, feijão, massa e carne. “O cardápio é variado, às vezes faço lasanha, arroz de forma ou batatinha. A salada tem cenoura, beterraba, salada verde ou repolho, sempre três tipos por dia.”

Da convivência, surge a amizade e o carinho. “Lidar com o pessoal aqui é ótimo, pois é uma turma bem legal.”

Um trabalho diferente

Beth é a secretária. Maria Elizabeth Gomes dos Santos, 40 anos, está no Passo Fundo há três anos. Se não tudo, quase tudo passa por ela. “Sou secretária, auxiliar administrativa, telefonista, atendente e de tudo um pouco. Sou só eu aqui, então...”. Essa polivalência faz a diferença. “Quando vim para cá era algo novo, bem diferente de qualquer outro trabalho”, recorda Beth.
Ela gosta de trabalhar no Vermelhão “apesar de que quando o time não está bem, todos ficam exaltados. Agora não tem motivo e todo mundo tá contente com tudo”. Beth nunca teve problema ao tratar com dirigentes, técnicos ou jogadores. Do grupo atual convive há mais tempo com alguns. Cita Bergamin, Gláuber, Gil, Brasinha e outros com quem tem mais contato. “O relacionamento é bom com todo mundo, eles são muito educados”. Beth é feliz no Vermelhão. “É bom trabalhar aqui”, diz com um indisfarçável sorriso de felicidade.

Da chuteira à Santa

Edson Darlan é o roupeiro. A semelhança com o Zacarias lhe rendeu o apelido de “Zaca”. Edson Darlan dos Santos, 47 anos, é natural de Ijuí e trabalha no futebol desde os 12. Traz na bagagem a preparação das bagagens do São Luiz de Ijuí e da ACF no futsal.

“Preparo todo o material, chuteira, atadura e fardamento”, explica o Zaca. É o material de jogo, uma lista ampla de itens que ultrapassa o uniforme que vemos em dias de jogos. Tem fardamento utilizado nas partidas e, ainda, o usado nos treinamentos.

E quando o jogo é fora? “São 11 sacolas, levamos quatro fardamentos – dois brancos e dois vermelhos, quatro jogos de calções, quatro jogos de par de meias, fardamento para a comissão técnica, chuteiras, chinelos...”.

Na parede há uma lista com muitos itens, alguns inusitados. No romaneio está até mesmo a capa de chuva. E na última linha consta “santa, vela e fogo”. “É a Santa. São três que agente sempre leva”, explica Darlan mostrando as imagens que acompanham a delegação do Passo Fundo.

Todo mundo se ajuda

O Quico até parece parte da paisagem no Vermelhão da Serra. José Vanderlei dos Santos, 40 anos, está lá desde 1999. “Comecei de gandula e agora sou o roupeiro do juvenil”, diz com muito orgulho. Mesmo promovido, Quico continua com outras atribuições. “Em dia de jogo ajudo pintar o campo e molho o gramado”.

A experiência como gandula vale muito. “Nos jogos eu organizo os gandulas, são seis piás em campo”. Quico também participa da limpeza das arquibancadas e de outras tarefas. “É bom trabalhar, a gente vai aprendendo cada dia mais. Não é enjoativo e aqui todo mundo se ajuda.” No estádio, quico fica à vontade, se sente em casa e está muito feliz. Isso ele resume de maneira espontânea repetindo que “é muito bom trabalhar no Vermelhão da Serra”.

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