"Vou continuar agindo com a razão"

Entrevista- Gilmar Rosso, presidente do Gaúcho

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“Deus está guardando coisa melhor para mim” a célebre frase dita pelo centroavante Baltazar, após perder um pênalti no primeiro jogo da final do Brasileirão de 1981, no estádio Olímpico, contra o São Paulo, foi citada pelo presidente do Gaúcho, Gilmar Rosso, para ilustrar o momento em que o clube atravessa a maior sequência de derrotas de sua história quase centenária. São 11 jogos e nenhum ponto somado pela Divisão de Acesso. No último deles, diante do Inter de Santa Maria, no estádio Vermelhão da Serra, a equipe vencia por 1 a 0, mas cedeu a virada, mesmo com dois jogadores a mais em campo. Com o resultado, o técnico Leco pediu demissão. Além dele, outros nove atletas foram dispensados. 

Para quebrar o jejum de vitórias, o Gaúho terá mais quatro jogos pela frente. O primeiro deles será no domingo, diante do Glória de Vacaria, no estádio Altos da Glória. Matematicamente, a equipe ainda tem chances remotas de classificação. Em entrevista ao ON ontem à tarde, Gilmar Rosso falou sobre a situação do clube na competição e voltou a enfatizar que o projeto de construção do estádio continua sendo prioridade.

ON – O Gaúcho passou por sérias dificuldades nos últimos anos em razão das dívidas. Com a venda do estádio, elas foram sanadas e ainda restou uma quantia para os cofres do clube. Agora, a crise maior acontece dentro de campo, como o senhor analisa este momento?
Gilmar Rosso – Quero dizer que vou seguir à risca o planejamento anunciado no ano passado. Não vamos investir nenhum tostão do que sobrou com a venda do estádio na equipe. Esse recurso será empregado na construção do estádio. Vou continuar agindo com a razão e não com a emoção. Não podemos repetir erros do passado.

ON – O Gaúcho não tinha a intenção de disputar a Divisão de Acesso este ano, mas a classificação acabou acontecendo. Como o clube está mantendo as despesas?
Gilmar Rosso – Temos uma folha de pagamento de R$ 25 mil, enquanto outros clubes estão investindo entre R$ 100 a R$ 150 mil. Recebemos um recurso no valor de R$ 100 mil da Federação Gaúcha de Futebol, mas com os descontos, reduzem a R$ 69 mil para toda a competição. Conseguimos arrecadar uma quantia com a venda das camisetas e, principalmente, com nossos patrocinadores, que continuam nos apoiando.

ON – Mesmo com essa sequência de derrotas a direção não pensa em investir na equipe.
Gilmar Rosso – É injusto comparar o Gaúcho com outros clubes. Nós não temos estádio. É como não ter identidade. A sede administrativa do Gaúcho é minha casa, isso é inadmissível. Primeiro precisamos de uma casa, para depois pensarmos em futebol. Poderia muito bem usar o dinheiro para salvar a equipe desta situação. Seria reconhecido nas ruas como herói. Mas e como ficaria o clube no próximo ano?É preciso planejamento. O futebol está cheio de exemplos. O Borússia Dortmund, da Alemanha, é um deles. Desfez-se do seu patrimônio para poder dar a volta por cima.

ON – Sem resultado dentro de campo, o torcedor acaba se afastando?
Gilmar Rosso – No jogo contra o Inter de Santa Maria, tinha cerca de 180 torcedores. Eles me chamaram, me entregaram diversos chaveiros com o símbolo do clube. Pediram para continuarmos. Fiquei muito emocionado. Se tem alguém que quer ver o Gaúcho na primeira divisão, esse alguém sou eu. Estamos há quatro anos superando as dificuldades, inclusive cheguei a ter meus bens penhorados, mas temos que agir com a razão. Não sou de enganar ninguém.

ON – O técnico Leco pediu demissão e outros atletas saíram. O clube vai reeditar o colegiado que assumiu o comando da equipe na reta final da Terceirona ano passado?
Gilmar Rosso – Logo após a derrota para o Brasil de Pelotas, no domingo, o Leco conversou comigo e disse que pediria demissão, caso perdesse na quarta para o Inter-SM, o que acabou acontecendo. A partir de agora a equipe será comandada por quatro pessoas, o Marco Aurélio, Chiaparini, o Sandro Sotilli e por mim.

ON – E por falar em Sandro Sotilli, que avaliação o senhor faz do trabalho dele como técnico em dois jogos.
Gilmar Rosso – Foram as melhores atuações da equipe. Merecíamos ter vencido em Pelotas, diante do Farroupilha e, em Santa Maria. A equipe teve uma postura tática em campo. Sotilli tem contribuído muito com o Gaúcho.

ON – Matematicamente o Gaúcho ainda tem chances de classificação. Como trabalhar o emocional do grupo num momento como este?
Gilmar Rosso – Passamos por uma situação muito semelhante no ano passado. Cada atleta precisa olhar e ver quem segue ao lado dele nessa caminhada. Somente nós podemos mudar isso. Enquanto tivermos chances vamos continuar lutando.

ON – O senhor ressaltou a importância do estádio, como está o projeto de construção?
Gilmar Rosso – Deveríamos ter iniciado ainda no ano passado, mas em função das questões jurídicas não foi possível. Já protocolamos na prefeitura o pedido para o trabalho de terraplanagem e estamos aguardando resposta. Com o estádio pronto, o Gaúcho vai voltar ao lugar que merece.

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