Na noite de 28 de novembro de 2015, um sábado, a BSBIOS/UPF venceu a Sogipa e conquistou o Campeonato Estadual Adulto Feminino de Voleibol. Na quadra do Notre Dame um título inédito para Passo Fundo. No lado de fora estava Gabi Be, que chorava porque não estava jogando. Com a perna imobilizada, ela torceu, gritou e orientou as companheiras. A rede que delimita a quadra não impediu uma forte sinergia. Ponto final e o grito de campeão tomou conta do ginásio. Gabi continuou chorando, agora de emoção pelo título que conquistava. Ela atuou em toda a temporada, mas esteve fora da final. Passado um tempo, ela ficou sabendo que dificilmente voltará a atuar profissionalmente como atleta. Muitas lágrimas? Nem tanto. Agora Gabi já tem outros projetos.
Sempre titular
Gabriela Parodi Be, 20 anos, nasceu em Passo Fundo. Cursa o primeiro semestre de Psicologia na Imed e trabalha no escritório do seu pai, Altair Be. Sua mãe, Liliane Parodi, é funcionária pública. “Tenho namorado, é o Henrique”, contou a bem articulada Gabi. “Comecei no vôlei com cinco anos. Jogava na AABB com o Giba (Gilberto Bellaver) e no Círculo Operário com o professor Vandeir. A partir da sétima série fui levada como bolsista do Notre Dame, onde estudei até a terceira do segundo grau”. Gabriela fez parte do grupo de alunas que iniciou o Projeto Sacada Inteligente. Além do vôlei, ela também praticava judô. “Mas me sobrecarregou e então optei pelo vôlei. Sou mais do esporte coletivo”. Das equipes de base do Notre Dame chegou à BSBIOS/UPF. Gabi Be é ponteira, aquela que mais passa a bola, recebe e também ataca. Iniciou como oposta, função em diagonal à levantadora, para usar um braço de força. E a Gabriela era titular da equipe? A pergunta foi como uma bola levantada na rede para uma resposta forte e enfática: “sempre”!
Embolia pulmonar
Na final dos Jirgs, Gabriela rompeu os ligamentos cruzado e colateral. Por isso estava com a perna imobilizada na noite da grande decisão diante da Sogipa. “Estava aguardando para operar o joelho quando tive uma embolia pulmonar. Fiquei 13 dias no hospital e sete meses em tratamento. Agora vamos saber sobre os danos pulmonares”. Parada desde novembro, ela ainda espera por um diagnóstico, mas já sabe que há uma diferença respiratória que, provavelmente, não permita mais que seja uma atleta profissional. “É tudo muito relativo. A chance é muito pequena. Após a recuperação fiquei traumatizada. Agora eu estou cuidando da minha saúde psicológica para me recuperar”. Gabi ainda aguarda pela cirurgia no joelho. “Que dê tudo certo e eu possa bater uma bola e torcer pela minha irmãzinha”. É Maria Lúcia, 15 anos que segue seus passos e está na base do Notre Dame. Gabriela não esconde que sente saudades de jogar e do grupo. “Profissionalmente eu não penso mais no vôlei. A vida é muito pequena. O emocional mexe, mas está mais tranquilo, pois com o tempo a gente aprende a lidar”.
Um técnico paizão
Gabriela tem uma longa trajetória ao lado do professor Gilberto Bellaver. Será que o Giba foi importante na sua carreira? “Claro. Tá loco! Além da maneira como lida com a gente, para mim ele não é só um técnico. É um paizão. Vejo ele como um ser humano. Com o Giba a gente cresce, aprende valores, assimila vivência. Ah, é como pai e filha. Eu tinha 12 anos e viajei para a Argentina com as gurias de 17. É um técnico sensacional e ensina muito. Deu a cara a tapa e hoje tá colhendo os frutos. Sinto gratidão, pois fiz parte mil por cento disso. Fui formando uma escadinha para os próximos chegarem ao topo. O projeto vai continuar crescendo.”
E o que o Giba diz sobre a Gabriela? “Tem uma personalidade forte. É uma líder natural. Ela não desiste nunca, tem uma busca incessante pela vitória. É uma guerreira, desde o minivoleibol. É alta e tem uma força fenomenal. A Gabi Be sempre foi minha titular. Sua parada é muito precoce e, como sou um eterno otimista, não gosto nem de pensar. Vamos dar um tempo. Ela não pode encerrar a carreira assim. Ela vai voltar em 2018, nem que seja para uma partida de despedida”.
“ Uma busca incessante pela vitória