"Temos que deixar claro, nosso objetivo é classificar"

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Considerado um especialista em Gauchão, com passagens por vários clubes do interior do estado, o técnico Paulo Porto, 65 anos,  inicia neste domingo, diante do São Paulo de Rio Grande,  sua 13ª participação na competição. Ao contrário do ano passado, quando assumiu o Passo Fundo na terceira rodada, sem nenhum ponto ganho e quase conseguiu a classificação para a segunda fase, desta vez, Porto acertou com o clube antes do início da temporada 2017. Chegou ainda em dezembro e teve participação efetiva na escolha do elenco, juntamente com um colegiado. Na pré-temporada, comandou quatro amistosos (uma vitória, um empate e duas derrotas) e disse estar satisfeitos com o desempenho e correção dos erros.  Porto já tem a equipe definida para estreia deste domingo, mas faz mistérios. “Vou revelar apenas momentos antes da partida”. Na quarta-feira à tarde, ele recebeu a reportagem do ON no estádio Vermelhão da Serra. Numa conversa de aproximadamente 30 minutos, definiu o Gauchão como uma das competições mais importantes do país, ao mesclar força e técnica. Fez um resumo do trabalho, desde o início da temporada, elogiou o empenho e o foco do grupo de jogadores e disse que haverá briga pela titularidade. Quando questionado sobre as  pretensões do Passo Fundo no Gauchão 2017 foi enfático: “Temos que deixar bem claro que o Passo Fundo tem como objetivo classificar para a segunda fase. Esse é o nosso objetivo”.

 

 

 

ON - No ano passado você assumiu o Passo Fundo na terceira rodada, sem nenhum ponto ganho. A equipe se recuperou e quase classificou para a segunda fase. Este ano, sua chegada ocorreu antes do  início da temporada para auxiliar já na formação do plantel.  Como foi esse processo de escolha do grupo?

Paulo Porto - Acertamos nossa vinda para o clube e passamos a falar sobre planejamento. Entre outras coisas, a contratação do grupo de jogadores. Ano passado tivemos alguns problemas aqui com atletas que vinham se recuperando de lesão e demoraram muito para entrar em forma. Este ano, não poderíamos repetir o mesmo erro. Para o trabalho de pesquisa e análise dos nomes montamos um colegiado entre comissão técnica e direção. Um grupo fechado em que as decisões das contratações seriam responsabilidades de todos. Tanto na hora do acerto como no erro. Evidente que o treinador tem uma responsabilidade um pouco maior porque, na verdade, a última palavra é dele e do presidente. Falamos alguns nomes que haviam trabalhado aqui no ano passado e  acabamos os contratando, casos do Gustavo e Dagoberto. Fomos atrás de jogadores que estavam disputando as  séries C,D e B, portanto, em atividade. Este foi um dos critérios.

 

ON - O fato de o clube oferecer contrato apenas para a disputa do Gauchão dificultou o acerto com alguns jogadores? 

Paulo Porto – Encontramos dificuldades porque o Passo Fundo não tem calendário cheio (dois semestres de atividades). Tem jogadores que nem abriram negociação porque queriam contrato de um ano. Outros sinalizaram interesse e acabaram não vindo. Teve um grupo que acertou com a gente, inclusive, mandamos passagens, chegou na hora de viajar, acabou acertando contrato de um ano com outros clubes. Em outra situação, um atleta já estava treinando aqui e acabou indo embora pelo mesmo motivo. Este foi o caminho que percorremos na contratação. Na avaliação que temos até o momento, evidente sem a competição ainda, é de que contratamos um grupo sem lesão, atletas em atividades e focados no trabalho. A pré-temporada foi muito bem feita.

 

 

ON – Como há boas opções para cada setor, haverá  briga pela titularidade?

Paulo Porto -  Sem dúvida. Nos amistosos cada goleiro iniciou duas partidas. Na lateral direita ocorreu o que comentei anteriormente. Tínhamos dois contratados, com passagem marcadas, mas não vieram. A gente teve que buscar solução de última hora, foi o caso do Maicon. Embora ela tenha  jogado em Caxias, não está no mesmo ritmo dos demais por ter chegado depois. Na zaga temos três jogadores do mesmo nível: Rodolfo, Sosa e Gustavo, além do Saimon, que chegou recentemente e vai estabelecer uma concorrência grande ali.  Na lateral esquerda, tínhamos o  Cazumba e Ruan. Cazumba machucou e trouxemos o Xaro. Será uma briga boa também. No meio, temos três jogadores do mesmo nível, Kasado, Rodrigo Possebom e o Jessé. Temos o Danilo,  que é de São Paulo, e está se adaptando rapidinho. Tem o Felipe Chagas, jogador jovem. Na meia, temos o Felipe Nunes e o Mikael, recém-chegado, o Emerson, Saldanha e  Grandão, ambos de velocidade. Contamos com dois camisa nove, Giovane e James.  Estamos esperando ainda a  situação de um meia que está por chegar. Com isso, completamos o plantel. Todos têm condições de assumir a titularidade.

 

ON – Você comentou que a pré-temporada foi muito boa. O grupo já assimilou sua forma de jogar, em termos táticos?

Paulo Porto - Temos que entender não se faz uma equipe pronta em 45  ou 50 dias. É difícil dar entrosamento, principalmente num grupo totalmente novo. O que eles demonstraram neste período foi uma evolução significativa. O pessoal está procurando fazer aquilo que a gente quer. Evidente que nossa equipe já tem uma maneira de jogar. Temos opções treinadas tanto para defender como para atacar.

 

 

ON – Qual sua avaliação do desempenho da  equipe nestes quatro amistosos?

Paulo Porto - Eu sempre tive a convicção que se deve fazer amistosos com equipes qualificadas. Equipes que irão disputar o mesmo campeonato ou coisa parecida. Não gosto de fazer amistoso para me iludir. Pegamos o Veranópolis que estava trabalhando há mais tempo, tinha feito dois amistosos. Jogamos na casa deles. Nos primeiros 15 minutos eles jogaram melhor que a gente, o restante do jogo foi igual e terminou 0 a 0. Contra o Caxias em casa fizemos uma boa apresentação, embora, a característica de uma equipe em formação é não manter a regularidade no jogo todo, mas vencemos. Jogamos bem o primeiro tempo e relaxamos um pouco no segundo. Lá em Caxias aconteceu  o contrário. Jogamos mal o primeiro e melhoramos no final. Acabamos perdendo, mas poderia até ter empatado. Na verdade, o amistoso que nos  testou e nos deu mais ensinamentos foi contra o Inter de Lages.  A equipe entrou em campo numa situação cômoda, acomodada, num ritmo muito lento. Num descuido tomamos  um gol. Depois,  numa virtude individual de um jogador deles tomamos o segundo. Quando vimos estávamos perdendo por 2 a 0 jogando em casa. Nós com uma expectativa boa em relação aos últimos três jogos, a equipe vinha evoluindo. Aquilo fez com que a gente se prevenisse para evitar este tipo de situação, de equipes que vêm muito fechadas aqui. O mais avançado deles era um meia. Fizeram um gol de bola parada, acontece. Nos trouxe bastante ensinamentos, a partir dali, conseguimos trabalhar alguns detalhes. Alguns times virão fechados.

 

 

ON – Como está o nível das demais  equipes para o Gauchão? 

Paulo Porto - Temos que deixar Inter e Grêmio de fora. Juventude vem com uma base boa. Brasil renovou bastante. O São José já vem com uma sequencia de trabalho, muito bem entrosada. Acho uma equipe diferenciada em relação às outras. A partir daí, temos o Ipiranga, que mudou bastante, acrescentou um jogo mais veloz, que a equipe anterior não tinha. As outras estão todas no mesmo nível. Na verdade temos cinco ou seis equipes com uma certa vantagem teórica, as outras seis no mesmo nível que podem classificar ou cair.

 

ON – E qual o objetivo do Passo Fundo, apenas lutar para não cair ou ambiciona algo mais?

Paulo Porto - Temos que deixar bem claro que o Passo Fundo tem como objetivo classificar. Esse é o nosso objetivo. Agora, temos que ter a humildade de reconhecer que o campeonato é difícil e precisamos batalhar muito para conseguirmos isto. 

 

ON – Por ser uma competição rápida, com poucos jogos, como você trabalha a projeção em pontos com o grupo

Paulo Porto -  Depois que o Gauchão ficou com esta fórmula, um turno só, trabalho de três em três jogos. Claro que o objetivo é ganhar o jogo de domingo, mas faço uma projeção de pontos para estes três primeiros jogos. Falei para os jogadores assim: se fizermos quatro pontos, dos nove, é bom. Se a gente fizer seis pontos, é muito bom. E se fizermos  nove é ótimo. Depois, vamos passar para os próximos três jogos. Tem que ser por etapa. O campeonato não termina no domingo, está apenas começando.

 

 

 

 

 

 

ON- Você é um especialista em Gauchão, qual tua opinião sobre a competição?

Paulo Porto - É um campeonato que o pessoal denomina de força e não é bem assim. Ele mescla força e qualidade técnica. Acho um dois mais fortes do Brasil. Tem demonstrado isso nos últimos anos. Sempre que a dupla Gre-Nal vai mal no brasileiro dizem que o Gauchão é fraco. Agora, ninguém vai dizer que o Grêmio foi campeão da Copa do Brasil porque participou do Gauchão. Ninguém diz que o Gauchão foi importante para a formação da equipe do Grêmio antes de chegar ao título. Antes diziam que não chegava lá porque se enganava no Gauchão. Não é bem assim. Existe muita justificativa de erros em cima desta competição. É um campeonato com muita qualidade técnica e força. Outra coisa que eu falo é, por exemplo, vamos dar mérito para o São José, para o técnico  China, olha o Cruzeirinho há dois anos fazendo belas campanhas. A gente tem visto trabalhos muito bons, de apenas 45 dias para enfrentar a dupla Gre-Nal com uma folha de pagamento de R$ 8 milhões. O RS é uma escola de treinadores. Há quanto tempo estão no comando da Seleção Brasileira? Temos que valorizar o que a gente tem de bom aqui. Bons treinadores, gente jovem e talentosa chegando. Não aceito esta história de que Inter e Grêmio se enganam com o Gauchão.

 

ON – O Passo Fundo estreia neste domingo diante do São Paulo. Largar com uma vitória  é importante para a pontuação e também para dar mais confiança ao grupo. Para isto, a presença do torcedor será fundamental.

Paulo Porto - Tenho certeza que o fator local não é o gramado. As dimensões hoje são todas iguais. O fator local é a torcida. Nós estamos contando com nossa torcida. Ela tem que vir e nos ajudar. Vai fazer parte da nossa vitória. O Passo Fundo contando com sua torcida é mais forte. Se o torcedor quer  o clube com calendário anual ou disputar competição nacional, ela é o 12º jogador. Tem que vir e inibir o adversário, não cometer selvageria contra ele, mas torcer para o Passo Fundo. Contamos com isso. Sabemos que aqui a torcida vem. Vamos fazer de tudo para começar bem a caminhada e tornar mais prazerosa a vinda dele no Vermelhão. Domingo é fundamental a presença do torcedor. 

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