O atleta da Universidade de Passo Fundo (UPF) Tiago Perez realizou, no último final de semana, a famosa e temida travessia da Serra dos Órgãos, travessia Petrópolis x Teresópolis, localizada no estado do Rio de Janeiro. Constituída de um percurso de mais de 30 km, a atividade foi feita ao longo de três dias, atingindo mais de 2.225m de altitude.
Junto com Perez, que é natural de Getúlio Vargas, outros quatro aventureiros participaram: Vinicius Facenda, de Passo Fundo, e Carlos Hoppe, Elizandro Todeschini e Marcel Andreata de Miranda, de Marau. “A travessia foi realizada com a finalidade de caracterizar-se como preparação para grandes competições de aventura no ano de 2017, bem como para o aprimoramento das técnicas de navegação com carta e bússola, além de técnicas verticais”, disse Tiago.
Segundo ele, a Serra possui um percurso desafiador devido ao grande trajeto de ascensão, ou seja, no primeiro dia, em menos de 10 km, o atleta sai de uma altitude de 950m a nível do mar e atinge mais de 2.225m ao chegar nos Castelos do Açu, no alto do Morro do Açu. “No segundo dia, a travessia tem grande parte da caminhada executada pelos campos de altitude, vegetação de pequeno porte que, no RJ, só ocorre na Serra dos Órgãos, em Itatiaia e no Parque Estadual do Desengano. E é ai que se encontram os maiores desafios: um perigoso vão em meio a um abismo de mais de 50 metros e, posteriormente, o famoso ‘elevador’ (grampos de ferro presos na rocha em uma subida de aproximadamente 70m), e o ‘Cavalinho’, que é uma fenda rochosa na encosta do morro da Pedra do Sino, onde o aventureiro faz uma íngreme subida e ultrapassa uma grande pedra, como se montasse em um cavalo, de frente para o vale da luva”, conta o atleta.
Obstáculos que resultaram em aprendizado
Durante a travessia, o aventureiro é totalmente autossuficiente, ou seja, deve levar sua própria comida, água, itens de segurança e todos os equipamentos necessários, pois não há apoio técnico durante o trajeto. “Foi um grandiosos desafio. Carreguei mais de 20kg de equipamentos, dentre eles roupas, cordas de segurança, barraca, entre outros”, relata Tiago.
Os aventureiros partiram ainda na quinta-feira (20), às 16h20min, e alcançaram o primeiro abrigo aproximadamente às 22h, enfrentando temperaturas próximas de 0º C. Já no segundo dia, o grupo iniciou a caminhada às 8h40min, a qual foi marcada por grandes desafios e obstáculos da serra, atingindo o segundo abrigo no final da tarde, por volta das 19h. No terceiro dia, concluíram o percurso de 11 km em cerca de 4h, e saíram do Parque Nacional da Serra dos Orgãos (Parnaso) às 14h de sábado (22).
Na opinião do atleta da UPF, apesar de não ser uma competição, toda travessia em montanhas é composta pelo aprendizado. “As dificuldades enfrentadas, os desafios, os medos modificam o ser, como dizem em uma frase no Exército Brasileiro, ‘você perde o verniz’, isso é, sai da zona de conforto e descobre que o ser humano pode e é muito mais resistente do que se pensa diariamente. Eu e meus amigos bebemos água direto das fontes, enfrentamos dores musculares, machucados, bolhas, fortes dores nas costas e nas pernas, mas vencemos o desafio. Ao sair da trilha, já não éramos mais os mesmos que subiram a montanha. Saímos com ânimo e espírito renovado, com os vínculos de amizade e companheirismo reforçados e com a certeza de que a verdadeira vitória está no percurso”, finalizou Tiago.
O Parque
O Parque Nacional da Serra dos Órgãos é uma Unidade de Conservação Federal de Proteção Integral, subordinada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), cujo objetivo maior é o de preservar amostras representativas dos ecossistemas nacionais. Criado em 30 de novembro de 1939, o Parnaso é o terceiro parque mais antigo do país, representando um importante marco na história das Unidades de Conservação Brasileira. O espaço abriga mais de 2.800 espécies de plantas catalogadas pela ciência, 462 espécies de aves, 105 de mamíferos, 103 de anfíbios e 83 de répteis, e inclui 130 animais ameaçados de extinção e diversas espécies endêmicas (encontradas somente nesse local).
O Parnaso é considerado um dos melhores locais do Brasil para a prática de esportes de montanha, como escalada, caminhada, rapel e outros, além de ter várias cachoeiras. Ele também tem a maior rede de trilhas do país. São mais de 200km de trilhas em todos os níveis de dificuldade: desde a trilha suspensa, acessível até a cadeirantes, até a pesada Travessia Petrópolis-Teresópolis, com 30km de subidas e descidas pela parte alta das montanhas. Entre as escaladas, destacam-se o Dedo de Deus, considerado o marco inicial da escalada no país, e a Agulha do Diabo, escolhida como uma das 15 melhores escaladas em rocha do mundo.