A dor de uma despedida precoce

Jordana Jandrey abandona a carreira de atleta

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Em 14 de janeiro Jordana Jandrey completou 22 anos de idade, dos quais dez foram dedicados ao voleibol. Tempo suficiente para que ficasse conhecida como a ‘Jordana do Vôlei’. Ela nasceu em Ibirubá e estudava no Colégio Sinodal quando entrou em quadra pela primeira vez. Ali começou o sonho de ser uma atleta profissional. Uma trajetória que teve impulso no Sacada Inteligente, projeto de fomento ao voleibol do Colégio Notre Dame de Passo Fundo, obteve passagens por seleções gaúchas e conquistou um bicampeonato Estadual pela BSBIOS/UPF. Atleta símbolo do vôlei feminino de Passo Fundo, Jordana abandonou a carreira de jogadora. Uma trajetória vitoriosa interrompida precocemente. Ela, que sempre foi uma atleta com muita garra e vibração, acabou sufocada pela dor. Agora, enquanto a dor física deixa as quadras, ela segue os estudos e encara o trabalho como educadora física. Mas, claro, carregando uma dor no coração. 

Sacada inicial
“Foi o professor Leandro Bitello quem me trouxe de Ibirubá para o Notre Dame. Aí o Giba (professor Gilberto Bellaver) me mostrou o Projeto Sacada Inteligente”. Jordana vinha a Passo Fundo uma vez por semana para treinar. “Faltava aula, mas estava realizada por vir treinar com o Giba. Tinha 13 anos e aí, em 2009, ele me convidou para estudar no Notre Dame e participar do Sacada Inteligente. Meus pais aceitaram e eu vim”. Com uma bolsa de estudos que cobria 80% dos custos, ela completou o ensino fundamental e todo ensino médio. “Mas a única coisa que eu queria era ser jogadora profissional. Passei por dificuldades no início pela distância da família. Fiquei três meses sem voltar para casa. O vôlei era a minha vida. Era só o que eu queria fazer. Treinava com as equipes infantil, infanto e adulto. Tudo pelo sonho de ser atleta”. Um sonho que tinha o apoio da família, um ânimo e lhe acompanhava do saque à recepção.

 

Convocações e lesão
Mas não foi apenas o olho clínico do professor Bellaver que detectou o talento da jovem. Atuando na posição de central, Jordana teve várias convocações para as seleções gaúchas de base em 2010 e 2011. Em 2012 foi chamada para disputar o Brasileiro de Seleções e, ainda, para uma seletiva da Seleção Brasileira. No ano seguinte integrou novamente a Seleção Gaúcha. Jordana tem 1m80. “Não tenho altura para uma central. As centrais têm em média de 1m86 a 1m90. Então em 2014 pedi para ser ponteira, pois como central ficava limitada para tentar um grande clube do Rio ou São Paulo”. Era a hora para integrar a seleção e buscar uma seletiva em um time forte. Nessa época Jordana já cursava Educação Física na UPF, contando com bolsa e alguns auxílios por integrar o time de vôlei da instituição. “Nos JUGs (Jogos Universitários Gaúchos) lesionei o bíceps e parei. Chorava de dor. Aquilo me machucou e foi difícil”. Depois de uma cirurgia, ela recuperou-se junto da família em Ibirubá, mas sentia-se frustrada. 

Bicampeã gaúcha
Mas nada como um ano após o outro. Bem recuperada e com ótimo condicionamento físico, Jordana teve em 2015 um ano gratificante. Retornou como central, porém, com base técnica para outras funções, ainda era opção como oposta ou ponteira. A BSBIOS/UPF conquistou o título estadual em casa, superando a Sogipa. “Extraordinário. Ter sido campeã não tem explicação, ainda mais com aquele público. O jogo todo eu só vibrava, pois o sofrimento do ano anterior valeu a pena”. Em 2016 o time de Passo Fundo repetiu a dose e chegou ao bicampeonato, quando Jordana superou uma limitação física: a dor. “Desde que voltei atacava e sacava com uma dor muito forte. Tinha que aquecer antes das outras. Jogar no frio? Nem pensar”.

 

Compromissos e correria
Mesmo chegando ao vice-campeonato gaúcho, no ano passado o time não repetiu as grandes temporadas dos anos anteriores. Mas Jordana teve um acúmulo de atividades: o time, a faculdade, o trabalho no Sesc e o estágio no Colégio Conceição. “Dava aula para alunos dos quatro aos 12 anos no final da tarde. Aí começou um conflito, pois saía às 19 horas e ia de bike correndo para o Notre Dame, porque o treino também começava às 19 horas”. Graças ao seu talento e dedicação em quadra, teve condições para realizar um curso superior. Assim, ela concluiu a licenciatura em Educação Física na UPF e já iniciou o bacharelado. “Agradeço um monte. Foi o Giba que me deu esse caminho, oportunidades da base à BSBIOS/UPF, faculdade, estágios, contatos... Sou o que sou por conta deles”. 

Uma dolorida decisão no jogo da vida

“Sou durona. Não sou de reclamar. Mas dor crônica não tem como tirar com a mão. Torcia por dias quentes para não sentir tanta dor”. Além disso, após estágio, ela foi efetivada no Sesc como auxiliar de cultura e lazer. “Muitos eventos no final de semana. Ou abre mão do jogo ou do trabalho”. Chegou a hora da decisão, que veio no final do ano passado: parar de jogar. “Só tive coragem de falar com o Giba agora no início de janeiro. Não foi fácil, pois vou sentir muita falta. Bater uma bolinha eu fazia com muita facilidade, pois eu amo muito. Foi assim que cresci como pessoa. Sair de casa aos 13 anos, aprender tudo, pessoas diferentes, morar dentro de um colégio e se virar sozinha. Isso para mim foi um crescimento fantástico. Já são nove anos em Passo Fundo e as pessoas me conhecem como a Jordana do Vôlei. O que eu sou é tudo graças ao vôlei.” 

Agarrar oportunidades
Uma menina com o perfil que traduz a essência do Projeto Sacada Inteligente, sua imagem está identificada ao vôlei feminino de Passo Fundo, pois representa uma nova geração de campeãs. Definitivamente, a vida de Jordana gira em torno do esporte. Faz bacharelado em Educação Física, trabalha no lazer do Sesc e o namorado é o atleta William Lago, goleiro do União Frederiquense. E o futuro? “Agarrar oportunidades. Foi o que eu fiz até agora. Até a lesão eu queria ser atleta. Agora o foco é a profissão”. E será que essa profissão poderia ser a de técnica ou formadora de atletas de voleibol? Um largo sorriso deixou explícito o desejo. “Trabalhei com voleibol, tenho facilidade. No Conceição dei aula, foi uma grande experiência. Gostaria muito de trabalhar somente com vôlei”. Então, se aparecer uma oportunidade com certeza essa capricorniana vai agarrar. Agora, aquela menina cheia de garra e vibração está saindo da quadra do Notre Dame para brilhar em outro espaço. Ou, quem sabe, no mesmo?

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