Rugby: movidos pela paixão

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Rugby feminino é disputado com apenas sete jogadorasRugby feminino é disputado com apenas sete jogadoras
Rugby feminino é disputado com apenas sete jogadoras
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Um dos esportes coletivos mais praticados ao redor do mundo, o rugby vive uma situação diferente em Passo Fundo. Mais do que em outras modalidades, a prática do esporte é movida pura e simplesmente por amor.

 

A vida de um atleta profissional precisa ser dividida com a rotina de exercer outra profissão simultaneamente. A falta de um apoio e divulgação maior acaba esbarrando em dificuldades financeiras, em que todos os envolvidos com o time, além de não receberem salário, precisam pagar para poder manter o Planalto Rugby Clube e continuarem exercendo sua paixão.

 

Todo trabalho no Planalto é voluntário. Integrantes da equipe dedicam grande parte do seu tempo sem esperar nada em troca – pelo contrário, ainda pagam uma mensalidade para manter o rugby vivo na cidade. Cassiane Portella, jogadora do time feminino, também assume o cargo de assessora de imprensa do clube. Conciliando tudo isso com seu outro emprego na assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores, ela também é a responsável por fazer toda a divulgação das informações a respeito do time. “Depois de jogos é bem complicado. Às vezes acontecem lesões, machucados, alguma pancada no olho. Então isso são coisas que você precisa administrar”, argumentou a assessora e jogadora.

 

Treinador da equipe, Marcelo Henrique Silva, também é responsável por ser técnico em outro lugar. Ramos, como é popularmente conhecido, trabalha como técnico de informática na Câmara de Vereadores de Passo Fundo e administra a vida de voltar de madrugada dos treinos e precisar estar pronto para trabalhar na manhã seguinte.

 

Por conta da dupla ou até tripla jornada dos jogadores e demais envolvidos com o clube, os treinos da equipe masculina adulta precisam ser realizados às 22h30, no Campo do SEST SENAT, nas terças e quintas-feiras – no sábado, os treinos acontecem no Campo da Brigada Militar. “Isso aí que a gente busca mudar. Para começar, oferecer benefícios aos nossos jogadores. Claro que não vai ser do dia para a noite que isso vai acontecer, mas está entre os nossos objetivos para 2018. É uma forma de manter os jogadores. Precisamos que os que já estão conosco continuem”, salientou. Atual presidente do clube, Gustavo Bastian, também precisa resolver os problemas dentro do campo. Desde 2016, quando assumiu a presidência, exerce o papel de treinador e jogador.

 

Hoje, o clube conta com alguns patrocinadores que ajudam a sustentar financeiramente o rugby em Passo Fundo. Através deles, o time consegue ajudar os jogadores na questão logística. Como não é um esporte muito difundido no estado e as cidades possuem geralmente apenas um time, as viagens acabam sendo longas. Quando a partida acontece na sua casa, ainda existem os custos com ambulância e médicos. Os apoiadores também são fundamentais para o Planalto, através deles o clube consegue espaço para treinar, jogar e praticar academia funcional. Mesmo com o patrocínio de algumas empresas e apoio de outras, fechar as contas é sempre um malabarismo difícil de se fazer.

 

“Rugby é um estilo de vida, até por essa realidade mais difícil. Quem joga realmente quer jogar. As chances são contra e se você realmente não quiser não vai conseguir ir adiante. É uma batalha diária atrás de apoio e de jogadores. Tudo que a gente precisa, necessitamos correr atrás. Não tem uma indústria por trás. Os outros esportes já são monetizados, com imprensa. Aqui estamos engatinhando ainda”, agrumentou o presidente do clube, que pede mais apoio do poder público para o único representante de Passo Fundo na primeira divisão estadual de um esporte coletivo. Ainda na visão de Gustavo, a maior barreira no crescimento do esporte acontece pela falta de conhecimento do jogo por parte do público.

 

Planalto Rugby Clube

Em meados de 2011, a ideia de criar um clube surgiu através de um grupo de amigos que mantinham a mesma paixão: jogar rugby. Se reunindo e convidando mais conhecidos para praticarem, o Planalto Rugby Clube acabou sendo fundado. Em 2013, a equipe disputou a primeira competição: terceira divisão gaúcha. Acesso conquistado, no ano seguinte foi a vez de estrear na segunda divisão, onde permaneceu até o ano passado. Em 2017, a tão sonhada promoção: com direito a uma repescagem contra o Universitário Rugby de Santa Maria, o time garantiu sua vaga na elite do rugby gaúcho. Atualmente, a equipe manda seus jogos no Campo da Brigada Militar e do SEST SENAT.

 

Primeira divisão

Nova divisão, novos desafios e novas exigências. Estreando na primeira divisão estadual, agora o Planalto precisa conviver com uma outra realidade. Além de enfrentar adversários mais competitivos, uma das exigências da federação é manter um time juvenil, incentivando novas gerações a aderirem ao esporte.

 

A implementação e uso da base não chega a ser uma novidade, mas o foco especial na formação de atletas, sim. “O estatuto prevê eleição de nova diretoria a cada dois anos. Cada diretoria que assume tem suas prioridades. A diretoria fundadora teve a intenção de fazer um time juvenil. A diretoria seguinte deu prioridade para o time principal. Agora, o presidente Gustavo Bastian, assumiu em 2016, começou o projeto no ano passado e está sendo executado neste ano. Temos cerca de 15 jogadores na categoria. Já temos um time”, explicou o técnico Ramos.

 

A base, aliás, será o grande objetivo do Planalto para este ano de 2018. Mesmo estando na primeira divisão, o presidente Gustavo Bastian mantém os pés no chão e não pensa em título. A ideia é investir em jovens pensando em um projeto a longo prazo. “O objetivo principal é consolidar a permanência na primeira divisão e consolidar o time juvenil. Como agora temos mais custos e mais dificuldades, precisamos repensar a organização dos times e buscar mais apoio”, relatou. A consolidação da base e a permanência na primeira divisão caminham juntas, uma vez que, agora, a única maneira de ser rebaixado é descumprindo alguma das exigências da federação – como por exemplo, não manter um time juvenil. Até agora, a equipe foi derrotada nos dois jogos em que disputou na elite do rugby gaúcho.

 

Juvenil

Para cumprir a meta deste ano, os integrantes do clube buscam parcerias e realizam visitas em escolas, procurando por alunos acima de 16 anos para integrarem a equipe juvenil. A ideia é apresentar o esporte para uma nova geração que vem surgindo. “A difusão do esporte passa muito pelo time juvenil. São pessoas que vão crescer jogando e criando gosto. Isso, junto com o apoio da sociedade e do poder público é o único caminho”, afirmou Bastian.

 

Time feminino

Além da categoria adulta e juvenil, o Planalto Rugby mantém um time adulto feminino. Cerca de 15 jogadoras integram o elenco de rugby sevens. A equipe está sendo reestruturada, com jogadoras formadas no antigo time juvenil. A partir do segundo semestre, disputam pela primeira vez o campeonato estadual de rugby feminino. Jogadora da equipe, Cassiane explica que é preciso acabar com o preconceito de ser um esporte violento para incentivar o crescimento da modalidade entre as mulheres.

 


Respeito

 

Tido por muitos que ainda não conhecem a modalidade como um esporte violento, que abusa da força e dos contatos físicos, o Rugby, na verdade, tem como um dos seus principais objetivos incentivar o respeito entre os atletas e torcedores. Na Europa, por exemplo, no momento de chute de conversão todo o estádio fica em silêncio em respeito ao atleta que fará a cobrança. A discussão com o árbitro, tão comum em outros esportes, é algo não tolerado e digno até de penalidade extra-campo. Apenas um dos jogadores é designado e pode interagir com a arbitragem.

 

No Brasil, existe um tribunal onde todos os atos de indisciplinas são julgados. No entanto, grande parte do público que se dirige até o campo da BM para acompanhar os jogos não tem conhecimento das regras. Vaias e palavrões não são permitidas durante o jogo. “É uma coisa que pra nós é normal por causa do futebol. No futebol é natural algum jogador se atirar e pedir uma falta, desrespeitar o juiz. Todo mundo acha normal. No rugby isso é totalmente proibido. É um choque de cultura muito grande”, relatou o presidente do clube. O árbitro de vídeo também está presente no esporte e suas decisões não são contestadas.

 

Regras

 

O objetivo principal do rugby é cruzar a linha defendida pelo adversário – diferente do que acontece no futebol americano, não basta apenas passar: é preciso encostar a bola no chão. Para chegar até o objetivo, só é possível passar a bola, usando as mãos, para um companheiro que esteja atrás. O avanço acontece através de chutes, onde só é permitido chutar a bola para frente. Outra regra que é oposta ao futebol americano é em relação aos tackles. No rugby, quando o jogador é derrubado, o jogo não para. A bola é disputada rapidamente e os dois times seguem jogando.

 

As partidas masculinas são disputadas em 80 minutos, dividas em dois tempo de 40, e com 15 jogadores em campo. No feminino, o regulamento é distinto. Rugby Sevens, como é conhecida a categoria, acontece em dois tempos de sete minutos e é disputada no mesmo campo, mas com apenas sete jogadoras.

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