Não é só na quadra que uma jogadora de vôlei precisa passar pelos obstáculos. Quando não são os cones e bancos que estão na sua frente durante os treinamentos, aparecem as dificuldades diárias. Regina da Cruz Vieira Alves, hoje com 22 anos e jogadora da BSBIOS UPF, saiu do estado de Rondônia para morar sozinha pela primeira vez aos 15 anos de idade. Deixou pai, mãe e outros cinco irmãos para ir em busca do seu sonho: se tornar uma jogadora profissional de vôlei.
Vinda do estado de Rondônia, Regina, mais conhecida como Rezinha, conheceu a dura realidade em 2013. Ainda na adolescência, aos 15 anos de idade, encarou sua primeira mudança. Sozinha, viajou mais 1,5 milhões de km para jogar no Paraná, precisamente na cidade de Cascavel. A experiência foi curta, um ano depois de ter deixado o estado, Regina estava encarando mais três dias de ônibus para retornar para Cerejeiras, sua cidade natal. “Não dava para se manter lá porque não tinha auxílio financeiro”, explica Regina, que dependia do sustento dos pais.
Buscando realizar seu sonho, Regina foi firme e não desistiu na primeira queda. No ano seguinte, já estava morando fora e atuando novamente. Desta vez, nas areias de Rondônia. “Isso era na capital, eu sou de Cerejeiras. São 12 horas de viagem. Eu ficava morando na capital e com uma semana de férias voltava para casa”, relata. Um ano depois, o sonho novamente foi interrompido por uma questão financeira. A Federação Rondoniense de Voleibol não tinha condições de manter as viagens para participar dos torneios.
De volta para casa, a atleta trouxe a incerteza na bagagem. Com duas experiências que não tiveram continuidade, pensou em parar e levar uma vida normal. “Eu não podia mais ouvir falar da palavra vôlei. As minhas colegas me chamavam para jogar e eu não ia. Foi muito ruim. Você é acostumado a um esporte e quando fica sem parece que não tem mais ânimo pra nada”, disse. A abstinência do esporte causaram maiores consequências e em um ano longe do esporte, percebeu que sua vida está diretamente ligada ao vôlei e que não há mais como fugir disso. “Quase entrei em depressão. Eu emagreci tanto. Não tinha ânimo para fazer nada. O esporte e o vôlei me motivam a querer ser melhor. O vôlei é tudo pra mim”, completa a atleta.
Destino parece ser a palavra certa para descrever o próximo passo de sua trajetória. Anos depois, Regina estava de volta ao Paraná, agora na cidade de Irati. Sem nunca ter dado seu nome ou participado de um teste, passou a atuar no time da cidade. Em um campeonato que disputava em Curitiba, a BSBIOS estava presente. Após o confronto com a equipe de Passo Fundo, a conversa que mudou sua vida. “Minha treinadora veio até mim e falou que o técnico do time do Rio Grande do Sul queria o meu contato. Ele (Giba) já fez o contato comigo e me chamou para vir jogar em Passo Fundo”, conta. No entanto, com um contrato com a equipe paranaense, só poderia desembarcar no Rio Grande do Sul em 2016.
Previstos para acabarem somente no final do ano, os campeonatos de Irati foram antecipados e em setembro Regina estava sem vínculo com a equipe. Dois dias depois, já chegava em Passo Fundo com a responsabilidade de disputar as fases finais do estadual feminino. “Cheguei em uma pressão tremenda. O time nunca tinha sido campeão gaúcho e já estava nas quartas de final”, disse.
No final das contas, o futuro premiou Regina. A menina que saiu de casa para morar sozinha logo aos 15 anos de idade conquistou o título estadual, além do JUGs, renovou seu contrato com a BSBIOS e conseguiu uma bolsa para cursar direito na UPF. “O vôlei é um esporte coletivo que te abraça. Você está diretamente em contato com as outras meninas e pode pedir ajuda para elas. É uma família mesmo”, conta sobre a importância do time em sua adaptação. Agora, a próxima meta de Regina é conquistar mais um título estadual.
Importância do estudo
A incerteza da vida de um atleta, que depende do seu corpo para trabalhar em alto nível, fez com que Regina buscasse entrar na faculdade. Ainda em Irati, na sua segunda passagem pelo Paraná, já estudava em um cursinho buscando uma vaga na Universidade Federal para cursar Direito. A chance de jogar na BSBIOS UPF apareceu como uma oportunidade de ouro na vida da atleta, já que a equipe é patrocinada pela Universidade de Passo Fundo e oferece bolsas para o ensino superior.
“É muito importante, o estudo é tudo. Hoje você tem saúde e joga, mas amanhã pode acabar se lesionando. Ninguém consegue jogar pra sempre. Quem é profissional pode guardar um dinheiro e depois se virar, mas quem é universitário não sabe o que vai ser depois do estudo”, conta. Em Rondônia, Regina havia encontrado um time que oferecia bolsa de 50%, mas que acabou alegando não ter vagas na faculdade de direito. “Eu já tinha deixado bem claro que iria apenas se ganhasse bolsa para cursar direito. Então acabei saindo do time”, finaliza.