Abrir um pacotinho, tirar uma figurinha e colar em um álbum. Algo que parece simples para quem olha despercebido, tem um significado todo especial para os colecionadores. Os pacotes criam a expectativa, despertando milhões de pensamentos sobre qual jogador está inserido. As figurinhas não são jogadores, são ídolos que aparecem na televisão todo final de semana. O álbum, por sua vez, é onde toda lembrança fica eternizada.
Leonardo Subtil, hoje professor da escolinha de futebol Sotigol, embarcou na vida de colecionador durante a copa de 1994, quando tinha apenas nove anos. Desde então são seis copas do mundo finalizadas e uma que se inicia no próximo mês. Enquanto a seleção conquistou mais dois títulos mundiais, Léo já conseguiu o hepta na sua coleção: são sete álbuns completos. Nestes 24 anos de colecionador, acompanhou diversas mudanças. O hábito de bater nas portas dos amigos deu lugar as trocas vias aplicativos, o filho virou pai e o colecionador também se tornou um vendedor.
Primeira Copa
Em 1994, enquanto desfrutava da dupla Romário e Bebeto desfilando seu talento pelos campos norte americanos, Léo formava uma outra dupla de sucesso em Viamão. Junto com seu pai, Sideron, o menino que já tinha uma vida totalmente ligada ao futebol, herdou o hábito de colecionar. Foi um sucesso dentro e fora de campo, enquanto o Brasil conquistou o tetracampeonato mundial, a dupla Subtil completou seu primeiro álbum. “Não me recordo com detalhes, mas era muito complicado de conseguir figurinhas na época. Ia de porta em porta na casa dos meus amigos atrás de figurinhas. Não era tão fácil como era hoje. Lembro bem da nossa famosa dupla de ataque, Argentina tinha o Maradona no auge”, conta Leonardo.
Bater figurinhas
Quatro anos depois, já era um exímio colecionador. “Eu lembro muito bem. Ronaldo vivia o auge. Era a figurinha que todo mundo queria”, completa. Dentro de campo, o camisa nove da seleção brasileira não conseguiu cumprir toda a expectativa criada, perdendo a final para a dona da casa França. Com dois gols na final, a imagem de Zinedine Zidane já estava colada no álbum completo. Tradicional já na época, Léo se reunia com os amigos para a bater figurinhas: quem conseguia virar os cards primeiro ganhava. “Sentava no chão do colégio para bater figurinha. A mão ficava toda esfolada. O negócio era ganhar, não importava como. Se o colega olhasse para o lado, eu dava um lambidão na mão para ficar mais fácil”, brinca.
Ídolo Ronaldinho
Referência de toda uma geração pelos momentos mágicos protagonizados com a camisa do Barcelona, Ronaldinho Gaúcho é o grande ídolo do colecionador. Em 2002 e 2006, o brasileiro esteve presente na copa e no álbum. “Eu já vi muita coisa e acho que não vou ver nada igual, nem meus filhos e meus netos. Era algo mágico”, ressalta. A frase foi usada para descrever o talento do pentacampeão mundial, mas também serviria para expressar a emoção de encontrar o card do seu ídolo.
Na África do Sul, em 2010 um dos momentos mais curiosos desses 24 anos. Ronaldinho Gaúcho não foi convocado para o torneio. No entanto, como o álbum é feito antes da convocação final dos treinadores, Ronaldinho estava no álbum. Para Léo, a ausência e a presença do ídolo causaram uma mistura de sentimentos.
Filho colecionador
Sem dúvidas a Copa do Brasil foi a mais emocionante para o colecionador. Exatamente 20 anos após ter herdado o hobby do pai, viu seu filho Davi nascer no dia da estreia no mundial. “Nós estávamos assistindo o jogo do Brasil e estourou a bolsa. Eu fiz esse álbum para o meu filho”, lembra. Em 2018, perto de completar quatro anos de idade, Davi Subtil já mostra os primeiros indícios que também será um colecionador. “Ele já quer colar comigo. Eu começo a colar e deixo ele terminar, sempre tentando estimular. Claro que eu não deixo totalmente nas mãos dele, mas dentro possível ele me ajuda”, brinca. Antes mesmo de começar o mundial da Rússia, os dois já completaram o álbum e estão fazendo um secundário.
Colecionador e vendedor
A paixão por colecionar tomou uma proporção tão grande que Léo passou também a vender em 2018. Não para arrecadar lucros, mas para difundir a paixão para os frequentadores do bar onde trabalha. “Já falei com os fornecedores para dar seguimento no álbum do Campeonato Brasileiro e outros álbuns. Vou tentar estimular para que as pessoas conheçam”, pontua. A ideia é trazer diversos tipos de coleções sobre futebol, não se limitando apenas a copa que acontece de quatro em quatro anos.
Encontros
Embora muita coisa tenha mudado durante esses 24 anos, o tradicional encontro entre amigos para troca de figurinhas continua acontecendo. Nos meses que antecedem a Copa do Mundo da Rússia, o sábado à tarde é reservado para isso. Às 16 horas, o grupo de amigos se encontra na Arena Sotigol. A ideia é uma só: ajudar uns aos outros. “Há uns cinco sábados começaram os encontros aqui na quadra. Primeiro começou com cinco ou seis pessoas, hoje já vem mais de vinte”, conta Leonardo Subtil.
A idade é apenas um detalhe. Pessoas de todas as faixas etárias mantém o hábito de colecionar. As crianças aproveitam o tempo livre antes dos treinamentos da escolinha de futebol para completarem seus álbuns. Os pais, por sua vez, acompanham os filhos e quando não estão colecionando também, aproveitam para tomar uma cerveja gelada. “Tudo começou com o intuito de motivar a escolinha de futebol”, finaliza Léo Subtil. Para incentivar as crianças a colecionarem, álbuns eram distribuídos. Com a facilidade da tecnologia, através dos grupos de WhatsApp o hobby foi crescendo rapidamente. Hoje, quase 100 pessoas participam do grupo.
E.C. Passo Fundo entra no clima da Copa
A pouco mais de um mês para o início da Copa do Mundo da Rússia, o Esporte Clube Passo Fundo também entrou no clima da competição. Aproveitando do hobby dos integrantes da equipe, o clube promoveu um encontro de troca de figurinhas da copa. Nas horas que antecederam a partida de sábado contra o União Frederiquense, o pré-jogo deixou de ser nos bares para acontecer no salão de eventos do Vermelhão da Serra.
De acordo com a diretora Social do Clube, Janaina Capellari, a ideia é aproximar o clube do seu torcedor. “Toda direção está colecionando. Sabemos que hoje todo mundo está na empolgação das figurinhas. Futebol é a nossa vida. Trazer para dentro do Passo Fundo é melhor ainda”. A iniciativa surtiu efeito rapidamente, em poucos minutos, a direção e seus familiares, jogadores e também funcionários sentavam lado a lado com os torcedores para completar o álbum. Se depender da diretora social, os encontros se repetirão. “Vamos fazer até o final da copa, além de outras ações que vamos fazer durante a copa”, encerra.