Os gols mais bonitos não são necessariamente marcados com uma bola de futebol atravessando a linha do gol. Os grandes dribles não precisam ser feitos contra um adversário. As grandes marcas não são apenas traduzidas em recordes. Na Apae de Passo Fundo, diariamente os usuários praticam esportes, driblam suas dificuldades, marcam um golaço para para combater qualquer tipo de preconceito e estabelecem grandes feitos.
Os usuários que frequentam a escola são especiais, mas não por possuírem algum tipo de deficiência. Independentemente da faixa etária, eles podem ser considerados diferenciados justamente pela capacidade de passar pelas adversidades. Com a ajuda dos professores de educação física, a escola que tem por objetivo fornecer educação, também se tornou uma formadora de atletas.
Diariamente, com chuva ou sol na cidade, cerca de 80 alunos frequentam as atividades físicas comandadas pelos professores Fabiano Oliveira, Eduardo Matos e Mariluza Santos. Entre os principais esportes, aparecem o tênis de mesa, futsal, atletismo, salto em distância, arremesso de peso e dardo, além da capoeira. Apenas por estarem estarem batalhando para praticar as atividades e deixarem o sedentarismo de lado, já seria um grande feito. No entanto, os usuários vão além e participam para competir em campeonatos organizados pela Apae.
Para as competições são levados cerca de 12 atletas. A ideia é fazer um rodízio e revezar os alunos que participam. Assim, todos conseguem conhecer novos municípios do Rio Grande do Sul e do Brasil, além de estarem vivenciado o espírito de competição, aprendendo a perder e ganhar. "?"Às vezes vamos para uma competição sem saber se teremos medalhas, mas teremos vitórias de autoestima, vivência e autonomia"?", contou Fabiano. As palavras do professor refletem bem o sentimento e a importância da experiência. Até mesmo quatro anos depois de conquistarem suas medalhas, seja por participação ou por vitórias, os alunos ainda carregam em suas mochilas.
Integração
Há alguns anos, os professores e atletas marcaram mais um gol na busca pela vitória. Com os usuários já habituados aos esportes e as competições, resolveram inscrever-se em um torneio de tênis de mesa realizado na Universidade de Passo Fundo (UPF), mas sem anunciar que eram especiais. O objetivo era justamente não fazer os adversários olharem de uma maneira diferente ou até mesmo não dificultarem o jogo. "?"Em algumas competições externas eu procuro não anunciar que é um grupo especial?"", colocou Fabiano. O resultado obtido na mesa, pouco importa. A integração como pessoas normais foi a grande vitória.
Na corrida de rua, os atletas também já estão integrados. Em uma parceria com o Sesc e o colégio Tiradentes, já participaram de uma prova de 2 km e conquistaram medalhas participativas. "?"Agora o foco é participar das atividades de rua que a prefeitura vou algum órgão particular oferece"?", ressaltou Fabiano. Os treinamentos são feitos meses antes das competições e visam preparam os atletas para os torneios. Na Apae, há oito meses um grupo já treina para correr nas ruas.
Um dos atletas que incorporou o espírito competitivo e vencedor é Mauricio Romeiro. ?""Ele tem muito a questão de atleta no sangue. Qualquer modalidade que você colocar ele, vai conseguir se desenvolver"?", elogiou o professor. Aos 41 anos, Mauricio Romeiro já conquistou três medalhas: no Parajirgs em 2014, futsal em 2017 e em arremesso no ano passado. Além dos prêmios, Mauricio já é jogador de um time de futebol de salão, fora da Apae. Mauricio representa uma parte do público da entidade que já desenvolve atividades fora da instituição.
Bocha
Apesar da ideia de integrar os alunos em esportes não adaptados, a bocha é uma atividade que sofre modificação na sua prática e só participam atletas com cadeira de rodas e limitação no membro inferior. O esporte já é bastante divulgado no Brasil e está crescendo no estado. Na Apae, por enquanto, é disputado apenas em nível de recreação. De acordo com o professor Fabiano, geralmente os alunos que praticam a mobilidade possuem uma deficiência intelectual múltipla. Isso acaba acarretando na perda de mobilidade e no uso da cadeira de rodas. ?""Esse esporte depende muito do atleta. O treinador é só um simples auxiliar. Na hora do jogo, por exemplo, ele não fica de frente para não incentivar o atleta. Se ele tiver a mobilidade de um dedo, é esse dedo que vai ser a questão do jogo"?", completou.