O mundo que a meio-campista, Stefany Krebs, conhece é apenas visual. Do levantar das bandeiras e apitos da arbitragem para sinalizar as indicações de jogo, como faltas e escanteios, à leitura do próprio nome na relação das melhores jogadoras do mundo de futsal de surdos, a jovem de Erechim caminha para o reconhecimento de outra superfície desde que foi apresentada, em janeiro deste ano, como novo reforço do time feminino de futebol do Palmeiras.
Antes de chegar ao centro de treinamento do alviverde paulista e ensinar às colegas de elenco a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para viabilizar a comunicação, a gaúcha treinou com o time feminino do Internacional e defendeu as cores do Esporte Clube Pelotas, em 2016, no ano em que celebrou a conquista do campeonato estadual na modalidade. “É o maior desafio da minha vida”, resumiu ela sobre a contratação. “No começo foi meio difícil, tudo novo e diferente. Estou aprendendo e adaptando cada vez mais, é uma a experiência maravilhosa. Estou treinando e buscando o melhor para o campo”, contou.
Embora calce as chuteiras para correr pelo time do Allianz Parque, foi mesmo nas quadras que a Campeã Mundial pela Seleção Brasileira de Surdos deu o primeiro passo na carreira esportiva. Além de transformar a prática do esporte em profissão, Stefany encontrou no ginásio um estreitar de laços familiares. “Eu tenho dois irmãos. A primeira irmã ouvinte e o segundo irmão surdo. Ele me convidou para jogar bola com ele”, recordou. “Comecei a me apaixonar por futsal”, destacou a atleta.
Duas vezes a melhor do mundo
Se agora, aos 21 anos, a jogadora foi apresentada, em Libras, como o sétimo reforço do Palmeiras para a temporada, abrindo um importante corredor de valorização da profissionalização do futebol de surdos, foi aos 17 que o reconhecimento ao amor mencionado por ela pelas quadras foi potencializado a nível global. Defendendo as cores da Seleção Brasileira, e conduzindo a equipe ao vice-campeonato, Stefany foi eleita a Melhor Jogadora da Copa do Mundo de Futsal de Surdos, em 2015, no torneio disputado na Tailândia. Quatro anos mais tarde, em 2019, o título veio em dose dupla na carreira da jovem atleta com a conquista brasileira do mundial e eleição dela como destaque na competição, na categoria Sub 21. “A minha vida está mudando. Tenho mais responsabilidade e dependência”, avaliou. A família dela, no entanto, não se mudou para a cidade de Vinhedo (SP) – onde compartilha uma residência com algumas companheiras de equipe. É de Erechim que os pais e os irmãos, responsáveis por impulsionar essa quebra de estigma interestadual, acompanham a carreira da jogadora. “No dia da minha apresentação, a mãe veio para me ver, mas voltou. A minha família e a minha base de tudo, me motiva muito e quer me ver voando para o mundo. Eles acreditam em mim e nos meus sonhos”, assinalou Stefany.