A expressão consagrada pelo criador do plantão esportivo no rádio, Antônio Augusto, define a situação do futebol brasileiro: “a bola parou”. A pandemia do novo coronavírus exige medidas drásticas, alterando radicalmente a nossa rotina. Uma delas é a paralisação de qualquer atividade que reúna muitas pessoas e, assim, o futebol está de quarentena nos vestiários. Uma proibição em nível mundial, nacional e, claro, também estadual. No Rio Grande do Sul foram paralisados o Gauchão e a Divisão de Acesso, enquanto o início da Segunda Divisão foi cancelado. Isso significa uma parada obrigatória para Sport Clube Gaúcho e Esporte Clube Passo Fundo. A exceção dos anos em que os clubes não estavam disputando, certamente por problemas financeiros, esse é o primeiro registro de uma interrupção oficial no futebol passo-fundense.
Gripe espanhola
Entre 1918 e 1920, o mundo sofreu a pandemia da gripe espanhola que causou 50 milhões de mortes. Conhecida à época como ‘influenza espanhola’, teve origem nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo no final da Primeira Guerra Mundial. No Brasil, foram 300 mil mortes, incluindo a do presidente Rodrigues Alves. A doença chegou a Passo Fundo ainda em 1918, levando os Vicentinos a transformar emergencialmente uma casa assistencial em hospital, surgindo, assim, o Hospital São Vicente de Paulo. De acordo com o jornalista Lucas Scherer Cardoso, escritor e pesquisador, não há registros de paralisação no futebol. “Até porque as equipes eram amadoras, formadas por jovens da cidade”. Assim, os times de Passo Fundo ainda não participavam de competições em nível estadual. “Não sei se o Gauchão em 1918 teve alguma coisa a ver com a gripe ou não. A Federação Gaúcha de Futebol foi fundada em maio, mas o primeiro campeão foi o Brasil de Pelotas no ano seguinte, 1919”.
Em Passo Fundo
Em Passo Fundo havia dois times de futebol: Sport Clube Gaúcho e Grêmio Foot Ball Club (ou Grêmio Sportivo), de curta duração. Mas os registros obtidos por Lucas Scherer demonstram que o pessoal jogou bola naquele ano. “Tanto o Gaúcho como o Grêmio recém tinham sido fundados em 1918, um em maio e o outro em julho. Era o clássico da cidade e o primeiro registro de jogo entre os dois foi em 21 de julho, com o Grêmio vencendo por 2 a 1, um amistoso apitado por Antônio Junqueira da Rocha”, relata. A gripe espanhola chegou por aqui naquele ano. Mas teve futebol, de acordo com as pesquisas realizadas pelo jornalista. “O Gaúcho jogou quatro vezes até agosto de 1918. Depois, os registros de jogos pulam para 11 de maio de 1919, jogo que marcou o primeiro aniversário do alviverde. O Gaúcho venceu por 1 a 0 na sua cancha, que ficava na mesma área do antigo Estádio Wolmar Salton. Já o Grêmio, jogou pelo menos cinco vezes até outubro de 1918, incluindo uma partida contra o Guarany de Cruz Alta. Depois, aparece o jogo contra o Gaúcho em maio de 1919. O Grêmio desapareceria muito provavelmente no segundo semestre de 1920”, detalhou.
Futebol em tempo de guerra
A bola também não parou em 1961, durante a Legalidade que agitou o Rio Grande do Sul. Nem mesmo com o golpe de 1964. “A segunda divisão começou em maio de 1964”, justifica. E durante a Segunda Guerra? “Durante a guerra jogaram direto. Foi a época de ouro do Citadino, quando começou pra valer, pela fundação da Liga Passo-Fundense de Desportos. Nesse período teve destaque o Rio-Grandense, o time dos ferroviários”, concluiu Lucas. Então, em 2020 o futebol de Passo Fundo sofre a primeira paralisação oficial. Providencial e necessária, pois agora estamos concentrados em nossos lares. Não importa o seu time, essa é a tática do momento.
Desta vez, a bola parou
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