Personagem fundamental na conquista dos três títulos brasileiros do Internacional, sendo o último deles, em 1979, de forma invicta, o ex-jogador Valdomiro não só acredita na conquista do tetra no próximo domingo, diante do poderoso Flamengo, no Maracanã, como aponta alguns caminhos para se chegar a vitória e quebrar um jejum de 41 anos.
Radicado em Criciúma, onde mantém um Centro de Treinamentos, Valdomiro conversou por telefone com a reportagem do ON na terça-feira à tarde, véspera de completar 75 anos. Com a credencial de quem mais vezes vestiu a camisa do Inter (803 jogos), e se acostumou com grandes decisões, o então ponteiro-direito, como eram chamados os atuais atacantes, diz que o time precisa ter postura semelhante ao jogo recente contra o São Paulo, onde marcou a saída de bola e aplicou uma goleada de 5 a 1 em pleno Morumbi.
“Esses jogos são bons de jogar. Claro que será uma partida difícil, mas tem que entrar sem medo e atacar o Flamengo. Não dá para ficar só se defendendo e tentando os contra-ataques. É preciso muita atenção e vontade. Cada pedacinho do Maracanã tem que ser um prato de comida para os jogadores do Inter”, afirma.
Sobre o desafio e as dificuldades de decidir no Maracanã, Valdomiro lembra dezembro de 1975, quando o Inter venceu o Fluminense, à época apelidado de “Máquina Tricolor”, comanda por Rivelino e Paulo César Caju, diante de 100 mil torcedores. A vitória, pelo placar de 2 a 0, gols de Lula e Paulo César Carpegiani, levou o Colorado para a primeira final do Brasileiro contra o Cruzeiro.
“Quando chegamos no Rio, só se falava na vitória do Fluminense. Diziam que a Máquina Tricolor iria amassar o Inter. O técnico deles era o Didi, estavam muito confiantes. Fomos para cima e matamos lá dentro. Neste domingo temos que fazer a mesma coisa. Sair marcando lá na frente, mesma estratégia usada contra o São Paulo e Vasco. O Flamengo tem grandes jogadores, mas não pode ficar com medo deles. São onze contra onze. Acho que perdi apenas umas duas ou três vezes contra eles”.
Para ser campeão no domingo, o time de Abel Braga precisa apenas da vitória. Qualquer outro resultado adia a decisão para a última rodada. O Inter fecha a participação no Brasileirão diante do Corinthians, no Beira-Rio, outro adversário bastante conhecido de Valdomiro. As duas equipes se enfrentaram na decisão do Brasileiro de 76, no Beira-Rio. O Inter conquistou o bi com uma vitória por 2 a 0. Dario abriu o placar, aproveitando cobrança de falta de Valdomiro. O camisa 7 fez o segundo e sacramentou o título, em outra cobrança de falta.
“Se ficar para a última rodada contra o Corinthians, estou pensando em pedir autorização para a direção do Inter para ver o jogo presencialmente no Beira-Rio. Será uma grande oportunidade reviver aquela emoção novamente”.
Divulgando o clube pelo país
Além de manter um centro de Treinamentos em Criciúma, o ídolo colorado viaja por todo o Brasil divulgando o clube e buscando novos sócios. O trabalho em Santa Catarina já rende bons frutos. O estado tem 28 mil sócios pagantes, atrás apenas do Rio Grande do Sul.
Nestas andanças, Valdomiro se reúne com colorados espalhados pelo país e diz que o sentimento é o mesmo em todo o lugar: ser campeão brasileiro. “Por onde passo as pessoas me perguntam quando seremos campeões novamente. Esses torcedores não estão interessados em Libertadores, Mundial ou outros títulos, querem o tetra. Estivemos muito perto algumas vezes, agora não pode escapar”, revela.
Segundo ele, a cobrança pelo título não dá trégua nem mesmo quando está em casa, reunido com a família. O filho, Tales Vinícius, de 39 anos, nasceu pouco depois do título de 79 e ainda não viu o clube em que o pai defendeu por 800 vezes, levantar a taça de campeão brasileiro. “Assim como a torcida, ele me cobra muito. Temos 10 colorados na família associados. A próxima será minha netinha, de dois meses. O Inter é minha casa. Devo tudo à torcida colorada. É uma camisa muito pesada. Esse grupo atual está muito perto de entrar para a história do clube e para a memória do torcedor, como fizemos lá nos anos 70”.
Gauchão
Valdomiro também fez história nos gramado do interior do Rio Grande do Sul. Se no brasileiro o feito inédito é a conquista do tri de forma invicta, algo que, segundo ele, não se repetirá mais, no Gauchão foi a sequência de oito títulos seguidos (1969 a 1976). Além deles, também ergueu as taças de 78 e 82.
“Naquela época, o Gauchão era prioridade. Tinha mais valor para nós do que a Libertadores, que dava prejuízo para o clube, muito diferente de hoje”, comenta.