O futebol é uma ferramenta para formar atletas e cidadãos. Foi dentro das escolas inglesas que ele surgiu, como uma forma de moldar o caráter de alunos para uma sociedade, que precisa de líderes para um país em expansão comercial e territorial.
Mais de 160 anos depois, o futebol ainda mantém sua característica de oportunizar que jovens de todas as classes sociais busquem uma vida melhor, seja dentro ou fora das quatro linhas.
Dois exemplos de atletas que saíram de situações adversas para vencer no esporte e na vida, são Carlos Caetano Bledorn Verri, conhecido como Dunga, e Paulo César Fonseca do Nascimento, o Tinga.
Na última sexta-feira (1), eles estiveram em Passo Fundo para interagir com crianças de projetos sociais apoiados pela Rede de Farmácias São João, e puderam falar sobre suas experiências dentro e fora de campo, e que fizeram com que eles tivessem a condição de vida melhor.
Exemplo de trabalho
Os mais de 500 jovens que estiveram no Centro de Treinamento do Vila Nova puderam conhecer a história de superação de uma criança que nasceu na Restinga, em Porto Alegre, mas que hoje fala três idiomas e já morou em diversos países da Europa.
Tinga falou aos jovens que considera que tem duas bases, uma é o esporte, meio pelo qual foi educado. A outra base é a família, que sempre lhe serviu como exemplo. Ele contou aos jovens que quando tinha sete anos, seu pai foi embora de casa, e desde aquele momento, ele nunca mais voltou. Sua mãe ficou responsável por prover tudo o que Tinga precisava. “Eu via todo o dia minha mãe sair de manhã bem cedo para trabalhar com uma sacola vazia, e voltar durante a noite com duas sacolas cheia de comida. E quando chegava no final de semana, ela pedia para eu brincar bem quieto em um canto, porque ela precisava dormir, pois fazia trabalhos extras no sábado e domingo”, contou ele.
Tinga disse aos jovens que sabe que muitas crianças são criadas como ele, onde o pai e a mãe não estão em casa de dia, porque estão trabalhando. E se isso acontece, essa criança está tendo a melhor base que alguém pode ter. “As crianças precisam aproveitar as oportunidades, e dar orgulho para os pais, valorizando o tempo que estão fora”, disse ele.
Disciplina
Dunga, natural de Ijuí, disse que sua infância foi na “enxada”, e que tinha o sonho de ser jogador de futebol. Ele destacou que muitas pessoas têm este mesmo sonho, e muitos com talento para jogar, mas ter talento não é o mais importante, pois o que mais pesa é ter disciplina. “A disciplina vai te levar a lugares que o talento não leva. Pois nem todo dia você vai estar bem, feliz, motivado, mas se você tiver disciplina de acordar cedo, fazer o melhor que puder em casa, na escola, no treino, as coisas vão acontecer”, disse ele.
Para Dunga, independente do aspecto da vida, ter um bom comportamento, chegar no horário, respeitar o pai e mãe, professores, colegas, são características fundamentais de um líder, e que não são percebidas por palavras, mas sim pelo exemplo. “Na vida, assim como no futebol, um dia você vai ganhar, outro dia você vai perder, mas é importante levantar todo o dia para trabalhar”, enfatizou.
Atletas e cidadãos
Pedro Henrique Kappaun Brair, presidente da Rede de Farmácias São João, disse que o incentivo financeiro da empresa para os projetos desenvolvidos na cidade, não tem somente o objetivo de formar atletas de futebol, mas também de formar cidadãos com os valores moldados pelo esporte. Ele disse que queria dar a oportunidade para que as crianças conhecessem a história do Tinga e do Dunga. “Muitas vezes eles são vistos como um sucesso dentro de campo, mas é necessário ter sucesso na vida. Todas as conquistas são baseadas em muita disciplina e muito esforço. A base de tudo é a pessoa correr atrás dos seus desejos, mas com muito esforço”, disse ele.
Ao todo aproximadamente 1050 jovens atletas são atendidos em duas escolhias de futebol mantidas pela Rede de Farmácias São João.
Paulo César Monteiro é um dos dirigente da escolinha Militis, que é um projeto social, que existe desde 2021, e que atua no bairro São José, no antigo Patronato, com meninos de 13 a 17 anos. Ele diz que esse projeto atende 40 jovens de diversas partes do Brasil, inclusive do Nordeste e Rio de Janeiro.
São jovens carentes que vem até Passo Fundo, onde recebem moradia, quatro alimentações por dia, escola, e treinam para ser atletas de futebol. O projeto oferece atendimento médico, odontológico, psicólogico, e de assistente social. “A interação com Dunga e Tinga é um sonho para os jovens, e como nós trabalhamos principalmente com o futebol, eles acabam sendo uma referência. A história deles é a história destes meninos, buscando sonhos, saindo das dificuldades e os meninos se espelham nestes craques”, disse ele.
Beto de Oliveira é responsável pela equipe do Vila Nova. Segundo ele, por meio da parceria com a Rede São João, hoje os projetos sociais do clube atendem mais de mil crianças em diversos bairros da cidade. E os ensinamentos que Dunga e Tinga tem para repassar para estes jovens atletas são fundamentais. “Esse é um momento único, recebendo uma dupla de atletas que foi multi-campeã, e é uma oportunidade ímpar”, disse ele.