Presidente da Fiergs preocupado com a desindustrialização
Empresário reforçou o alerta durante encontro com dirigentes da Associação dos Diários do Interior - ADI
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, Heitor José Müller, tem feito seguidos alertas sobre o processo de “desindustrialização” do Estado. A falta de infraestrutura e de políticas mais amplas de estímulo ao setor produtivo vem afugentando empresas. Na área coureiro-calçadista, para ficar em apenas um exemplo, é flagrante a migração de indústrias para outros estados, onde os incentivos fiscais criam um ambiente mais amigável aos investimentos.
Semana passada, durante uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social gaúcho, Müller fez uma importante advertência ao governador Tarso Genro. Destacou que a falta de ações concretas contra a perda da competitividade está provocando o que classificou como “Custo RS”. Para debelar as dificuldades, sugeriu uma atuação rápida e intensiva em três frentes: melhoria da infraestrutura, por meio de parcerias público-privadas; instrumentalização dos órgãos ambientais, para garantir melhor atendimento às empresas; e ampliação do Fundopem, para que ele possa ajudar as indústrias, emergencialmente, a sobreviverem, antes de se expandirem.
“Temos custos sobrepostos ao do Brasil, que oneram a decisão de uma empresa em se instalar aqui, e produzir, gerar renda, empregos, e impostos no território gaúcho”, explicou o presidente da Fiergs. Ele destacou que o Rio Grande do Sul é um dos poucos Estados que ainda pratica o Piso Regional, cujo reajuste este ano foi de 14,75% para um período de 10 meses (equivalente a uma taxa de 18% em 12 meses), enquanto o INPC até março ficou em 6,65%. A massa salarial aumentou 12,6% e a indústria estabelecida no território gaúcho teve crescimento zero. “Há 26 meses, o setor industrial rio-grandense está igual, operando no mesmo nível de dois anos atrás. E de janeiro a abril deste ano, a produção industrial caiu 1,2% e o faturamento teve queda de 1,3%”, acrescentou. “Completando este cenário, somos o estado mais meridional do País, portanto pagamos mais frete.”
Müller lembrou que, ao assumir a presidência de uma das maiores entidades representativas da indústria do Brasil, firmou um compromisso: alertar os governos para as dificuldades que o empresário gaúcho enfrenta, melhorar a competitividade do setor e, assim, contribuir para a promoção do desenvolvimento do Estado.
“Estamos presentes com o Sesi e com o Senai nas cidades do Rio Grande do Sul, preparando mão de obra. O empreendedor tem o nosso apoio na formação profissional e a indústria retorna aos municípios a geração de empregos e tributos, movimentado a economia”, resumiu Müller. Ele também traduziu em números o tamanho da entidade que representa: “Somos uma entidade sindical criada com base na CLT e representamos 114 sindicatos patronais da Indústria. Integramos a diretoria da Confederação Nacional da Indústria e recentemente fui nomeado membro do Conselho de Desenvolvimento do governo Federal.”
No encontro com os dirigentes da ADI, o empresário de 72 não só recordou os motivos que o levaram a aceitar o desafio de comandar a entidade, mas reafirmou a palavra dada na posse, em julho de 2011. “Eu já estava tranquilo, viajando por aí com a minha esposa, quando foram me buscar em casa (para presidir a entidade). Se não fosse para ser assim, para colaborar, eu não teria aceitado”, resume.
Na oportunidade, o empresário fez uma avaliação do cenário econômico atual. Confira algumas reflexões:
Modernização do Estado:
“É preciso dar condições competitivas para a indústria gaúcha, é necessário aumentar significativamente os investimentos em infraestrutura. Nesse sentido, o capital privado é fundamental para reduzir o déficit acumulado pelo Estado diante da falta de investimentos nos últimos anos. Devemos priorizar as Parcerias Público-privadas, agilizando os investimentos necessários para a melhoria dos negócios do Estado.”
Política ambiental:
Para garantir melhores condições de atendimento às empresas, é necessário que os órgãos ambientais sejam bem instrumentalizados, informatizados, com estrutura moderna de gestão e com recursos humanos suficientes para atender a demanda. O Estado informatizou todo o setor de arrecadação há anos, mas não o atendimento ao empresário e à população. A Fepam, por exemplo, não está informatizada. Empresas desistem de se instalar porque não podem esperar mais de dois anos por uma licença ambiental. A morosidade em adotar soluções, ou pela burocracia ou pelo estruturalismo, emperra a expansão do parque industrial.
Política industrial:
O novo Fundopem apresenta significativos avanços e incorpora pontos extremamente positivos para o estímulo à expansão e atração de indústrias. O alerta que se faz necessário está na questão da conjuntura atual, quando, antes de se expandir, as empresas privadas necessitam de apoio emergencial para "sobreviver". “Historicamente o Estado não dispõe de fundos constitucionais criados para regiões específicas do País, nem temos estímulos como aqueles da Sudene e Sudam, além das desonerações de tributos federais que privilegiam algumas regiões. Isso gera um desequilíbrio no Pacto Federativo, ou seja, já começamos a corrida da competitividade nacional em desvantagem.”
Competividade:
“A indústria não cresce, enquanto o comércio vive expansão às custas dos produtos importados. Além desse quadro, nas medidas federais adotadas para neutralizar os efeitos da crise internacional — todas muito positivas - não foi incluído um segmento de peso na nossa economia: a agroindústria.
Segmentos importantes para a indústria gaúcha sofrem desequilíbrio tributário, como calçados, móveis e indústria avícola, que perdem competitividade frente aos incentivos concedidos por outros Estados.
Além de tudo, temos ainda uma incidência tributária visivelmente concentrada no setor industrial, o que muitas vezes explica o desempenho fiscal, mas onera um mesmo setor duplamente. Nesse caso, nossos produtos chegam mais caros no mercado consumidor do que os importados comparativamente aos países onde a tributação incide no consumo e não sobre a indústria.”
Crise e exportações:
“Precisamos de ações que enfrentem as dificuldades externas, não só advindas da crise internacional, mas aquelas bem próximas de nós, que são as barreiras impostas pela Argentina. O vizinho país vem pressionando a transferência de fornecedores do Rio Grande do Sul para a Argentina, como acontece com parte das plantas de produção de máquinas e implementos agrícolas, fazendo encolher esse importante segmento na economia gaúcha. Em vez de exportarmos máquinas agrícolas para a Argentina, passaremos a comprar máquinas desse país.”
Descentralização:
“É necessária uma descentralização industrial. Desde a criação do Fundopem se busca, através de recursos estaduais e federais, beneficiar as regiões economicamente deprimidas. As cidades do interior acabam ‘encolhendo’ por conta da migração. E isso ocorre por uma diversidade de fatores, como o custo de mão de obra. A Fiergs incentiva, treina a mão de obra no interior e, depois de formado, esse profissional acaba migrando para outras regiões, como a Capital. É por vezes a mesma posição simplista que tem o empresário. Ele migra para regiões economicamente vantajosas. Por isso precisamos de incentivos.”
Postura governamental:
“A perda de fábricas tem impacto estrutural no setor produtivo. Não perdemos apenas competitividade. Perdemos desenvolvimento como um todo. Existe boa relação com os governos, percebemos boa vontade, mas existe ainda muito fanatismo em algumas posições no Brasil. Temos que vencer isso, discutir melhorias que proporcionem desenvolvimento, emprego e renda. Por isto, acreditamos que o diálogo, franco e aberto, se transforme em ações eficazes. Acreditamos que será possível transformar essa conjuntura adversa e montarmos juntos um processo estruturado de defesa e de desenvolvimento da economia do Rio Grande do Sul. As oportunidades fogem na lentidão das decisões, e uma fábrica fechada não se recupera mais. As instalações são depredadas e só restam fantasmas na ex-indústria.”
BOX
Diários do interior apóiam as reivindicações do setor produtivo.
A direção da Associação dos Diários do Interior do Rio Grande do Sul (ADI-RS) participou de reunião-almoço com o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul. Encontro debateu o desenvolvimento industrial das cidades do interior e os entraves ao crescimento do setor produtivo gaúcho.
A presidente da ADI, Mara Rúbia Flores, diretora do Jornal Ibiá, em Montenegro, destacou o papel da Imprensa no apoio ao trabalho do empresariado durante a reunião-almoço com o presidente da Fiergs, Heitor José Müller. Para ela, os jornais têm de dar repercussão e espaço para abordagem e debate das reivindicações e dificuldades enfrentadas pelos setores produtivos gaúchos.
Em nome da diretoria da ADI, Eládio Vieira da Cunha, do Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, agradeceu a recepção oferecida pela Fiergs e exaltou a representatividade da entidade industrial nas cidades do interior. “Que a Fiergs esteja cada vez mais presente no interior, colaborando com o desenvolvimento do nosso Estado.”
“Estamos presentes com o Sesi e com o Senai nas cidades do Rio Grande do Sul, preparando mão de obra. O empreendedor tem o nosso apoio na formação profissional e a indústria retorna aos municípios a geração de empregos e tributos, movimentado a economia”, resumiu Müller. Ele também traduziu em números o tamanho da entidade que representa: “Somos uma entidade sindical criada com base na CLT e representamos 114 sindicatos patronais da Indústria. Integramos a diretoria da Confederação Nacional da Indústria e recentemente fui nomeado membro do Conselho de Desenvolvimento do governo Federal.”
Também participaram do almoço Fábio Badra (A Plateia – Santana do Livramento), Maria Luiza Szulczewski (Ibiá - Montenegro), Raul Petry (Diário da Encosta da Serra - Ivoti), Ricardo Mateus Silberschlag e Sérgio Klafke (Folha do Mate – Venâncio Aires), Jones Alei da Silva (Gazeta do Sul – Santa Cruz), Alexandre De Grandi (A Razão –Santa Maria), Fernando Tólio (Minuano – Bagé) Virgínia Fetter (Diário Popular - Pelotas), Miriam Teresinha Destefani (O Informativo do Vale – Lajeado), Roberto Gomes (Grupo CG de Comunicação - Gravataí) e as diretoras Sandra Vieira da Cunha e Fernanda Ostrowski, do Grupo de Diários.
Texto e fotos: Cristiano Abreu
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, Heitor José Müller, tem feito seguidos alertas sobre o processo de “desindustrialização” do Estado. A falta de infraestrutura e de políticas mais amplas de estímulo ao setor produtivo vem afugentando empresas. Na área coureiro-calçadista, para ficar em apenas um exemplo, é flagrante a migração de indústrias para outros estados, onde os incentivos fiscais criam um ambiente mais amigável aos investimentos.Semana passada, durante uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social gaúcho, Müller fez uma importante advertência ao governador Tarso Genro. Destacou que a falta de ações concretas contra a perda da competitividade está provocando o que classificou como “Custo RS”.
Para debelar as dificuldades, sugeriu uma atuação rápida e intensiva em três frentes: melhoria da infraestrutura, por meio de parcerias público-privadas; instrumentalização dos órgãos ambientais, para garantir melhor atendimento às empresas; e ampliação do Fundopem, para que ele possa ajudar as indústrias, emergencialmente, a sobreviverem, antes de se expandirem.“Temos custos sobrepostos ao do Brasil, que oneram a decisão de uma empresa em se instalar aqui, e produzir, gerar renda, empregos, e impostos no território gaúcho”, explicou o presidente da Fiergs.
Ele destacou que o Rio Grande do Sul é um dos poucos Estados que ainda pratica o Piso Regional, cujo reajuste este ano foi de 14,75% para um período de 10 meses (equivalente a uma taxa de 18% em 12 meses), enquanto o INPC até março ficou em 6,65%. A massa salarial aumentou 12,6% e a indústria estabelecida no território gaúcho teve crescimento zero. “Há 26 meses, o setor industrial rio-grandense está igual, operando no mesmo nível de dois anos atrás. E de janeiro a abril deste ano, a produção industrial caiu 1,2% e o faturamento teve queda de 1,3%”, acrescentou. “Completando este cenário, somos o estado mais meridional do País, portanto pagamos mais frete.” Müller lembrou que, ao assumir a presidência de uma das maiores entidades representativas da indústria do Brasil, firmou um compromisso: alertar os governos para as dificuldades que o empresário gaúcho enfrenta, melhorar a competitividade do setor e, assim, contribuir para a promoção do desenvolvimento do Estado.
“Estamos presentes com o Sesi e com o Senai nas cidades do Rio Grande do Sul, preparando mão de obra. O empreendedor tem o nosso apoio na formação profissional e a indústria retorna aos municípios a geração de empregos e tributos, movimentado a economia”, resumiu Müller. Ele também traduziu em números o tamanho da entidade que representa: “Somos uma entidade sindical criada com base na CLT e representamos 114 sindicatos patronais da Indústria. Integramos a diretoria da Confederação Nacional da Indústria e recentemente fui nomeado membro do Conselho de Desenvolvimento do governo Federal.”No encontro com os dirigentes da ADI, o empresário de 72 não só recordou os motivos que o levaram a aceitar o desafio de comandar a entidade, mas reafirmou a palavra dada na posse, em julho de 2011. “Eu já estava tranquilo, viajando por aí com a minha esposa, quando foram me buscar em casa (para presidir a entidade). Se não fosse para ser assim, para colaborar, eu não teria aceitado”, resume.