O radialista Celso Costa, 82 anos, emociona-se ao sentar no mesmo lugar de onde, há 51 anos, transmitiu os discursos do então governador Leonel Brizola para as 104 emissoras de rádio que formavam a cadeia da Legalidade, em agosto de 1961. Costa foi o responsável pela instalação e veiculação das primeiras 30 horas ininterruptas de discursos e boletins que conclamavam o povo gaúcho a sair às ruas em defesa da democracia. "Aqui, nessa sala, ninguém entrava, e daqui ninguém saía", relembra.
O retorno do radialista fez parte da solenidade que comemorou o primeiro ano de criação do Memorial Rádio da Legalidade, nos porões do Palácio Piratini. A cerimônia foi realizada nesta quinta-feira (13), no Salão Alberto Pasqualini, e reuniu personagens que atuaram no movimento e representantes das entidades parceiras do projeto.
Ao lembrar a história das lutas travadas no Estado em defesa da democracia e da Constituição, o governador Tarso Genro destacou a importância da comunicação na conquista, preservação e consolidação da pluralidade do País atual. Tarso também ressaltou o papel do Memorial como um patrimônio público que reverencia personalidades importantes da política brasileira, como Leonel Brizola e João Goulart. "São quadros políticos que nunca receberam o devido reconhecimento. Eles foram esquecidos pela crônica política por suas virtudes, e não pelos seus defeitos. São personagens que estão no cerne da constituição democrática do nosso País".
Em um ano de funcionamento nos porões do Palácio Piratini, no exato local de onde o ex-governador Leonel Brizola liderou o movimento que evitou um golpe de Estado e garantiu a posse de João Goulart na presidência da República, em agosto de 1961, o Memorial da Legalidade já recebeu a visita de mais de mil pessoas. São 90 visitas por semana, em média, envolvendo principalmente estudantes, professores e historiadores.
A secretária de Comunicação e Inclusão Digital (Secom), Vera Spolidoro, destacou que o espaço revive um dos eventos mais marcantes da história gaúcha, "para que não se esqueça e para que nunca mais seja necessário um novo movimento como a Legalidade". Vera também enfatizou o ineditismo e pioneirismo de Leonel Brizola na questão da comunicação social ao lançar mão de uma rede de emissoras para falar à população. "Há meio século, Brizola teve a lucidez de perceber o poder da comunicação e, hoje, as cadeias se formam via web", disse Vera, ao lembrar de movimentos iniciados na rede de computadores, como a Primavera Árabe, o Ocupa Wall Street e o espanhol M-15.
Lançamentos
Na cerimônia, também foi lançada a revista Legalidade em Quadrinhos, que retrata os principais acontecimentos do movimento liderado por Brizola, em uma linguagem adequada aos jovens estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Pelo menos 4,8 mil unidades serão distribuídas entre as escolas estaduais pelas Secretarias de Comunicação e Inclusão Digital (Secom) e da Educação (Seduc).
O evento teve ainda o lançamento de um DVD com debates realizados durante as comemorações do cinquentenário da Legalidade, no ano passado, em parceria com o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa. Exemplares foram entregues aos participantes dos painéis, assim como placas em homenagem às entidades parceiras do projeto do Memorial. Ao final do encontro, os músicos Lourdes Rodrigues e Massaretti interpretaram o Hino da Legalidade.
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