O incêndio que matou e feriu centenas de pessoas na cidade gaúcha de Santa Maria causou indignação na vizinha Argentina, onde um acidente parecido causou 194 mortes há oito anos. “Mais uma vez, vemos que a vida dos jovens não é levada em consideração, o que importa é o lucro”, disse um comunicado emitido pela organização Que No Se Repita Mas (Que Não Se Repita Mais), formada por sobreviventes e pais de vítimas da tragédia do Cromanon – a boate do centro de Buenos Aires que pegou fogo em 2004.
“Sentimos que a história está se repetindo e que ninguém aprendeu com os nossos erros”, disse Eduardo Azevedo, em entrevista à Agência Brasil. Desde que seu filho de 19 anos morreu no incêndio do Cromanon, o advogado tem dedicado o tempo a buscar os culpados para levá-los ao banco dos réus. “É triste reconhecer isso, mas temos muita experiência em lidar com a dor da perda e com a busca e punição dos responsáveis. Vamos colocar nossa experiência à disposição do Brasil”.
A Boate Cromanon, que fica a metros da sede do governo de Buenos Aires, continua fechada. Ao lado, foi erguido um altar em homenagem aos mortos e 700 feridos da tragédia. O incêndio ocorreu no dia 30 de dezembro de 2004, quando milhares de jovens assistiam ao show do grupo Callejeros. Minutos depois de começar o espetáculo, soltaram um sinalizador, que provocou um incêndio. Quando os jovens tentaram escapar, descobriram que a porta de emergência estava trancada com cadeado – uma proteção contra penetras, que não pagam entrada.
“As coincidências das duas tragédias são enormes: um show público, em um lugar lotado de gente, sem suficientes saídas para escapar em caso de emergência”, disse Azevedo. “No fundo, o culpado é um só, a corrupção. Se os locais noturnos fossem controlados como devem ser, esse tipo de imprevisto não teria consequências tão graves”, acrescentou.
Por causa da tragédia do Cromanon, mais de 20 pessoas – entre elas o empresário dono da boate e os músicos do grupo Callejeros, além de funcionários públicos, policiais e bombeiros – foram presos e condenados a penas até dez anos. “O que nos chama a atenção é que cometemos o mesmo erro mais de uma vez”, disse Azevedo. Ele lembrou que houve incidente parecido no Peru.