Quase 37 anos após a morte de João Goulart, peritos iniciaram esta quarta-feira (13), em São Borja, a exumação dos restos mortais do ex-presidente. O trabalho vai esclarecer a causa da morte de Jango, cercada de questionamentos políticos e históricos. O governador Tarso Genro e os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, acompanharam durante a manhã de ontem (13) o início dos trabalhos.
"Represento aqui o povo gaúcho para prestar uma homenagem ao presidente e também estabelecer uma relação com a família. Saber a causa da morte, se foi acidental ou se foi resultado de uma ação criminosa, é um direito que a família tem, e este é o princípio elementar que nos traz aqui", afirmou o governador.
Acolhido pelo presidente no exílio, Tarso lembrou suas razões pessoais para homenagear Jango: "Meu pai tinha relações políticas e de amizade intensas com ele. Isso também é um resgate histórico. É preciso esta atenção que o poder público, a sociedade e imprensa dão para uma pessoa que foi um grande presidente do Brasil, e que a sua época levantou reformas importantíssimas. Jango foi pioneiro de um grande processo de transformações sociais que redundou na constituição de 1988, na normalização democrática e num projeto hoje de democratização da vida pública e de desenvolvimento para o nosso país".
Como ministro da Justiça, o Tarso determinou em 2007 a abertura de inquérito policial para averiguar se o ex-presidente havia sido vítima de ação criminosa ou não. Em 2008, foi assinada e decretada a anistia do Jango.
Participação dos familiares
O neto de Jango e advogado da família, Christopher Goulart, disse que a exumação é uma contribuição ao direito à memória, verdade e justiça. "Isso não é nenhum capricho ou sentimento de saudosismo, mas sim o direito de um presidente da República". Para ele, a exumação é um dos caminhos, já que existem outras formas de contribuição e linhas investigativas. "Nada disso isenta a perseguição política que meu avô sofreu durante a ditadura e todo período que ficou no exílio, além da perseguição exaustiva, já comprovada, enquanto era presidente".
"Nós vivemos um momento simbolicamente muito especial para o povo gaúcho e brasileiro. O início dos trabalhos de investigação, o fato de os restos mortais serem recebidos em Brasília com honras de chefe de Estado, marcam um momento muito importante para a história brasileira", disse o ministro José Eduardo Cardozo.
Ministros
A ministra Maria do Rosário vê a exumação como o cumprimento de uma missão de Estado: "Mobilizamos perícia técnica que está trabalhando desde 2011, e este é o terceiro processo exumatório que atendemos das vítimas da ditadura militar. Além de uma missão humanitária, é também de Estado, por se tratar de um ex-presidente que também simboliza a defesa da constitucionalidade do Brasil e a retomada do Estado Democrático de Direito no nosso país".
Depois da exumação, o corpo de Jango será levado a Santa Maria, de onde sairá na quinta-feira (14) rumo a Brasília, com recepção pela presidente Dilma Rousseff. No dia 5 de dezembro, os restos mortais de Jango serão trazidos de volta ao Estado, com cerimônia no Palácio Piratini. No dia seguinte, data que marca os 37 anos de sua morte, o ex-presidente será levado de volta ao túmulo da família no Cemitério Jardim da Paz, em São Borja.