Zigmund Bauman, sociólogo e um dos grandes observadores do mundo moderno, definiu a atualidade com o conceito de Modernidade Líquida. Neste cenário, as novidades surgem em grande velocidade (o que faz com que a novidade de hoje seja a peça do museu amanhã), tornando o tempo ao mesmo tempo essencial e complexo. Diante dessa realidade, o Governo do Estado, através da Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, têm investido no desenvolvimento de Parques Tecnológicos em diversas regiões do Estado, para que a inovação esteja sempre um passo à frente, ajudando o Rio Grande do Sul a se desenvolver econômica e socialmente.
Parques Tecnológicos são ambientes dotados de infra-estrutura adequada, trabalhando com programas que estimulam a sinergia entre poder público, meio empresarial e acadêmico. Esses ambientes podem se constituir em incubadoras e condomínios de empresas de base tecnológica. Para incentivar o desenvolvimento da ciência, a promoção da inovação e da tecnologia, foi criado em 2011 pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (Scit), o programa RS Tecnópole.
“Os parques tecnológicos são a forma mais rápida de transferência de tecnologia, e estamos trabalhando para articular uma rede de ambientes de inovação em todo o Estado. Historicamente temos uma concentração desses setores tecnológicos na Região Metropolitana e na Serra, então é importante criar a possibilidade de novas regiões se desenvolverem”, diz o secretário de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, Cléber Prodanov. “O Programa Gaúcho de Parques Científicos e Tecnológicos é uma política chave do Governo, para que tenhamos um crescimento de forma equânime em todo o Estado”, completa.
No total são 26 polos tecnológicos inscritos no programa, que proporcionarão a criação de 15 Parques tecnológicos. Com a inauguração das instalações do TecnoUnisc (Sta Cruz do Sul), TecnoVates (Lajeado) e do Parque do Planalto Médio (UPF/Passo Fundo), durante este governo, seis já estão consolidados: estes três, mais Valetec (Feevale), TecnoSinos, TecnoPuc.
Os três últimos já existiam em 2010, com empresas instaladas e funcionando. Porém, também ingressaram no programa para viabilizar recursos para equipamentos, infraestrutura e ampliação física de suas instalações. Outros dois centros tecnológicos (Parque Canoas de Inovação e Ulbratech) aguardam o envio da documentação para que haja a liberação de recursos e o início das obras.
Estes parques contam com aportes de recursos públicos (Estaduais e Federais) desde seu planejamento, desenvolvimento e consolidação, quando já têm empresas instaladas e projetosem andamento. O Tecnosinos, por exemplo, já recebeu investimentos do governo estadual no valor de R$ 5,5 milhões.
Até o momento, a Scit já destinou aproximadamente R$ 67 milhões para os Parques Tecnológicos gaúchos. A meta é chegar ao final do ano com R$ 72 milhões destinados aos centros de inovação. Estes números representam um aumento de 600% nos investimentos se comparados com o período anterior. Esses valores são resultado de uma política ainda em consolidação na área de tecnologia e desenvolvimento, recente por parte do estado, já que o cadastramento dos parques iniciou apenas em 2009.
Para a professora de economia regional nos programas de Pós-Graduação em Economia eem Planejamento Urbanoe Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Maria Alice Lahorgue, o Rio Grande do Sul é, tradicionalmente, um transformador de produtos primários. O Estado tem uma agricultura forte e uma cadeia agroindustrial que representa, em grande parte, a maioria da indústria gaúcha e, inclusive, de boa parte dos nossos serviços. Essas empresas de base tecnológica, ao aportar produtos novos de alto valor agregado no mercado, têm a capacidade de redinamizar os setores mais tradicionais com novos processos, onde a eletrônica é fundamental, como as pesquisas em biotecnologia, por exemplo.
“Essas instituições têm potencial não só para desenvolver produtos de maior valor agregado, mas também têm condições para redinamizar setores mais tradicionais. Hoje, elas ainda são pequenas no sentido de empregabilidade, mas, por meio desse setor pequeno, é que podem surgir grandes oportunidades dos setores tradicionais”, comenta Maria Alice.
Susana Kakuta, coordenadora do Tecnosinos, de São Leopoldo, diz que o grande desafio para o Estado crescer economicamente está atrelado à modernização dos setores tradicionais da economia gaúcha, ao mesmo tempo em que se inserem novas economias, aquelas denominadas portadoras de futuro, pois estarão definindo a liderança global nos próximos 50/100 anos.
“É , especialmente, na inserção dos setores baseados na economia do conhecimento que se expressa a importância dos Parques Tecnológicos, assim é no mundo inteiro. Neste sentido, a rede de Parques Tecnologicos que está sendo implantada com suporte do Governo do RS é de fundamental importância para garantir o desenvolvimento e a empregabilidade de alto valor agregado e de longo prazo”, ressalta Susana.
No Rio Grande do Sul, o investimento nesses parques vem ganhando força nos últimos anos, e se tornando não apenas um local de desenvolvimento tecnológico, mas também uma saída econômica para os municípios onde estão inseridos.
Impulso regional
Investimentos privados e públicos garantem a sustentação dos parques, como acontece no Tecnosinos, ligado a Universidade do Vale do Sinos (Unisinos). O Tecnosinos gera aproximadamente 5.200 empregos de forma direta e indireta nas 75 empresas instaladas, com uma média salarial de R$ 3.600,00.
Susana Kakuta, ressalta que o impulso regional causado pelo parque é enorme, fazendo com que municípios próximos também se beneficiem. “Essa média salarial causa um impacto municipal e regional, 30% das vagas são preenchidas por moradores de São Leopoldo, as outras 70% acabam sendo ocupadas por moradores de outros municípios da região, um entorno com raio de50 kmdo parque”, explica.
Ela destaca ainda que o dinheiro do programa estadual possibilitou a construção da segunda incubadora do parque. “Ser privado é uma vantagem competitiva, pois garante mais solidez ao parque. Porém, seria impossível investir em inovação sem este apoio por parte do poder público”, lembra Susana.
Processo mais eficaz
Para o diretor administrativo do Tecnovates, Eloni José Salvi, os parques tecnológicos estão modificando o perfil de inovação das empresas, que passam do modelo de adoção para o modelo de geração da tecnologia. Os parques tecnológicos, ao aproximarem as empresas, as universidades e os governos, permitem a atenuação do risco de buscar a inovação, por ajudarem a dividir o risco entre estes segmentos, e tornando mais eficaz o processo inovativo.
“O Tecnovates está gerando empregos de alta qualificação profissional, e por isto melhor remunerados que a média salarial da região. Com os projetos de P&D e os novos negócios, que estão sendo gerados no ambiente do parque, estamos gerando novas fontes de emprego e renda para a região”, comenta Salvi, falando do parque localizado no Vale do Taquari, que já gerou 200 empregos diretos e 11 de forma indireta.
A vinculação com universidades locais, vital para o funcionamento de um parque de acordo com gestores experientes, é quase regra. Dos 15 cadastrados, apenas em Canoas e Pelotas os projetos estão ligados com os governos municipais. Jáem Santa Maria, o parque tecnológico é uma ação composta por três universidades, sindicatos e associações, além do poder público.
Descentralização
Uma das apostas atuais é a instalação de parques no interior do Rio Grande do Sul, em cidades mais afastadas dos grandes centros urbanos. Isso acontece em razão da crença de que os parques podem atrair investimentos de empresas e gerar empregos. Embora esse fato seja realidade, o coordenador do Valetec, Alexandre Peteffi, adota uma postura cautelosa quanto ao grande número de parques nascendo no estado.
Para ele, é preciso ter cuidado e pensar na viabilidade técnica destes empreendimentos: “Se não existe apoio de fato (universidades), tornam-se loteamento industrial. É preciso pesquisa competente para dar suporte. Tenho minhas dúvidas se todos (parques cadastrados) vingarão ao longo do tempo. Não é uma coisa simples de administrar e o retorno financeiro é demorado. Fica a preocupação de se criar parques, e em dois ou três anos eles encerrarem suas atividades.”
A coordenadora do Tecnosinos, Susana Kakuta, chama atenção ainda a uma questão que considera fundamental para o sucesso dos parques tecnológicos: a formação básica de quem ali irá trabalhar. Kakuta defende que o principal mérito de um parque tecnológico é o talento. “Um desafio importante é a especialidade. Um parque tecnológico exige foco, que você seja bom em alguma coisa. Tem que criar um ambiente competitivo nessa área. Não acreditar que a infraestrutura física seja o mais importante no parque tecnológico. O mais importante é você ter talentos em quantidade e qualidade suficiente para alimentar as empresas. Isso envolve qualidade de ensino, obviamente o ensino público, dentro da educação fundamental. Em nosso parque nós temos permanentemente vagas abertas. Se o estado quer alavancar essas novas economias, é fundamental fortalecer o ensino das ciências exatas.”
Conheça os Parques Tecnológicos do Rio Grande do Sul que já tiveram investimentos públicos:
- Tecnopuc (PUC – Porto Alegre): Tecnologia da informação e comunicação, eletrônica, energia e meio ambiente, ciências biológicas, da saúde e biotecnologia, indústria criativa. Empregos gerados: 6.037. Investimento Estadual: R$ 7.511.400,44
- Parque Canoas de Inovação – PCI (ainda depende de documentação) - Tecnologia Aviônica e Naval; Soluçõesem Economia Verde; Logística e Transporte Intermodal; Tecnologia da Informação e Comunicação; Soluções em Biotecnologia; Tendências em Maquinas e Equipamentos. Investimento: R$ 3.209.615,00
- Tecnounisc (Santa Cruz do Sul) - Oleoquímica e Biotecnologia; Tecnologia Ambiental; Tecnologia da Informação e Comunicação. Empregos gerados: 322. Investimento: R$ 4.048.282,23
- Tecnovates (Lajeado) - Alimentos e Meio Ambiente. Empregos gerados: 300. Investimento: R$ 5.646.588,94
- Tecnosinos (São Leopoldo) - Tecnologia da Informação e Comunicação; Automação e Engenharias; Comunicação e Convergência Digital; Semicondutores; Alimentos Funcionais e Nutracêutica; Tecnologias socioambientais e Energia. Empregos Gerados: 5.200. Investimento: R$ 16.566.234,24
- Tecnoucs (Bom Princípio) - Cerâmica, Fruticultura, Floricultura e Biotecnologia. Investimento: R$ 2.912.622,19
- UPF (Passo Fundo) - Tecnologia da Informação e Comunicação/Software, Alimentos, Metal-mecânica, Biotecnologia, Energia (Biocombustíveis), Saúde. Empregos gerados: 70. Investimento: R$ 6.860.761,78
- Oceantec (Rio Grande) - Logística, Naval e Offshore; Obras Costeiras e Portuárias; Biotecnologia e Energia Obra e equipamento. Investimento: R$ 9.910.685,03
- Pampatec (Alegrete) - Tecnologia da Informação e Comunicação/Software; Engenharias: Agronomia; Energia Renovável; Alimentos; Química; Floresta. Empregos gerados: 10. Investimento: R$ 1.255.229,47
- Santa Maria Tecnoparque - Tecnologia da Informação e Comunicação; Eletroeletrônico; Nanotecnologias; Fármacos e Biotecnologia; Área da Defesa; Petróleo, Gás e Energia. Empregos gerados: 790. Investimento: R$ 2.921.996,24
Total de Investimentos: R$ 67.758.828,34