Experiências práticas de Agroecologia foram apresentadas na tarde desta quarta-feira (26), em Porto Alegre, durante o XIV Seminário Estadual e XIII Internacional sobre Agroecologia, que acontece até sexta-feira (28), no auditório Dante Barone, da Assembleia Legislativa. "Superando desafios da produção agroecológica" foi o tema do primeiro painel, que teve a participação de Emerson Giacomelli, um dos coordenadores da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap/MST), de Nova Santa Rita, de Fábio Mayer, do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa) de Pelotas, de Fábio Esswein, da Ecocitrus de Montenegro, de Roberto Guimarães, da Emater do Distrito Federal, e de Rogério Dias, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
"Na Agroecologia não existe pacote, mas processos produtivos", salientou Giacomelli, ao falar sobre a criação do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico há mais de 12 anos. O produtor defende a importância de refletir sobre os processos de produção limpos, sem agrotóxicos, em contrapartida com o agronegócio, "cuja contaminação do ambiente e ameaça à saúde das pessoas deve ser combatida pela mobilização da sociedade, aliada da agroecologia, por demandar alimentos saudáveis", diz. Para Giacomeli, entre os desafios para o fortalecimento da agroecologia estão investir em pesquisa, criar políticas públicas de acesso ao crédito, subsidiando a transição, e investir em estrutura de comercialização. "Estamos vivendo uma disputa política que só através da luta social poderemos barrar o crescimento desgovernado do agronegócio e transformar a agroecologia num modelo de sociedade que produz e consome alimentos limpos e sadios", defendeu.
A Ecocitrus também apresentou sua experiência e destacou a produção anual de 40 mil toneladas de composto orgânico e de 20 mil litros de biofertilizantes. Com projeto de incluir pó de rocha, a empresa ensaca e vende de 40 a 60 mil toneladas de adubo por ano e doa cinza para correção do solo. “Basta pegar o produto na fábrica em Montenegro”, diz Esswein. O representante do Mapa falou sobre o Planara, Plano Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos, com adesão de nove ministérios.
O Dia Internacional de Combate aos Agrotóxicos, 3 de dezembro, será comemorado com um ato público, em Porto Alegre, na Esquina Democrática, no cruzamento das avenidas Borges de Medeiros e Andradas, para chamar a atenção da sociedade para a qualidade do alimento consumido pela população brasileira. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com 5,2 litros de agrotóxico por pessoa/ano. A concentração inicia às 17h30. “Leve panela e colher de pau e cartazes em defesa de uma alimentação saudável”, salienta Leonardo Melgarejo, representante da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan).
Relatos da juventude
O segundo painel da tarde, intitulado “A juventude vivenciando a Agroecologia”, apresentou três experiências de jovens agricultores: Bernardo Rodrigues da Silva, 22 anos, do Grupo de Agroecologia Terra Sul (Gats, Santa Maria, que tem quase 15 anos de existência), o casal Anderson Rodrigo Richert, 19 anos, e Micaela Hister, 18 anos, do Grupo Eco da Vida (agricultores em Venâncio Aires, polo nacional na produção de tabaco e o município com a maior ocorrência de suicídios do país), e Guilherme Padilha, 17 anos, da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc) e produtor em Sinimbu. Com experimentos e buscando manter os conhecimentos e estudos atualizados, os jovens garantem, com suas próprias experiências, que a produção agroecológica e o amplo acesso a alimentos saudáveis podem melhorar a qualidade de vida de toda a sociedade.
O jovem casal Richert e Micaela possuem uma propriedade de 7,2 hectares e produzem, de forma integrada, suínos e gado de leite, além de mais de 30 espécies de hortaliças. Hoje, mais de 15 anos depois, o Grupo Eco da Vida é composto por cinco famílias que participam de duas feiras semanais e fornecem para o programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e de Aquisição de Alimentos (PAA). O grupo tem certificação da Rede Ecovida. “Isso nos ajuda bastante”, diz Richert. Já para o jovem Padilha, da Efasc, o processo de transição para a agroecologia foi libertador para a sua vida: “Passei a acreditar na minha própria capacidade e a valorizar saberes locais dos membros mais antigos da comunidade”, diz.
Os seminários sobre Agroecologia prosseguem nesta quinta-feira (27, com painel sobre Processos organizativos de promoção da Agroecologia e Vivenciando a autonomia através das Agroindústrias Ecológicas. À tarde, os mais de 500 participantes estarão divididos em grupos, que participarão de Vivências Agroecológicas no Centro de Formação de Agricultores de Montenegro (Cetam); da Ecocitrus, também de Montenegro; do Sítio Pé na Terra, em Lomba Grande, Novo Hamburgo; dos Sítios Capororoca, Tio Juca, Vasco e Dodô, em Porto Alegre; do Grupo Gestor da Horta, de Eldorado do Sul; e da Coopan, de Nova Santa Rita.