RS registra desistência de pelo menos 20 mil produtores no último ano

Dados são da Fetag-RS. Na região, concentração de desistência foi menor, mas ainda significativa. Motivo é por baixa no valor do litro do leite e aumento da importação ilimitada do produto do Uruguai

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Protesto foi realizado em Palmeira das Missões nesta sexta-feiraProtesto foi realizado em Palmeira das Missões nesta sexta-feira
Protesto foi realizado em Palmeira das Missões nesta sexta-feira
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Pelo menos 20 mil produtores de leite desistiram da função desde 2016 no RS. De acordo com dados divulgados pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), o motivo está na baixa do preço do produto: o litro varia entre R$ 0,65 e R$ 1,08 - o que gera prejuízo aos produtores. A questão foi motivo de protesto na sexta-feira (24), em Teutônia e Palmeira das Missões, onde estão localizadas as sedes das empresas Lactalis e Nestlé, respectivamente. Conforme o diretor-geral da Fetag, Pedrinho Signori, o maior motivo para a desistência dos produtores é que, com a queda do preço, não há como pagar os investimentos feitos na cadeira do leite. Segundo ele, estão, literalmente, pagando para trabalhar. “Outra dificuldade que encontramos é em relação a exportação. A Nestlé é a maior captadora de leite do mundo e a Lactalis a maior do RS. As duas empresas ganham milhões em incentivos fiscais do governo do estado para se instalarem aqui e acabam fazendo um desserviço social”, começou ele. De acordo com Signori, estas empresas importam leite do Uruguai sem cota, o que beneficia a queda do preço dos produtores brasileiros. “Isso não prejudica só o produtor, mas também as pessoas que dependem da agroindústria. A produção de leite não é simples: não tem como encerrar e voltar depois, sem planejamento”, completou o diretor-geral da Fetag. Outra reclamação é pela demora no pagamento do leite. “Se entregamos o leite hoje, vamos receber daqui 45 dias e sem saber o valor correto. Temos que saber quanto o produtor vai receber para que também possamos nos programar. Buscamos por um modelo de contrato e pagamento até tal dia”, pontuou. Uma reunião foi marcada para o dia 29, em Porto Alegre, entre representantes sindicais e das empresas, para buscar um acordo.

Panorama regional
Na região de Passo Fundo, no entanto, o índice de desistência não é tão alto. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marau, vinculado a Fetag, Silvio Borghetti, a maioria dos produtores que deixaram a função foram de pequeno porte e aposentados. “A desistência na região foi menor, mas também teve. Estamos em uma região onde a produção de leite é forte, temos produtores profissionalizados. É que é um trabalho pesado, 365 dias, sem parar. Temos outras empresas [além da Nestlé e Lactalis] por aqui, mas a situação de preço baixo é geral”, explicou. Para os produtores, o ideal seria o pagamento de, no mínimo, mais de R$ 1 ao litro.
Um dos principais motivos para a diminuição do preço do leite no estado é a proporção de crescimento da produção, que aumentou 50% em menos de dez anos. Em 2007, eram produzidos cerca de 2,9 bilhões de litros por ano, enquanto 2016 registrou crescimento de 4 bilhões. A questão é se o investimento dos últimos anos valeu a pena. Os agricultores dizem que não: com o aumento da oferta, a demanda acaba ficando desvalorizada. Por isso muitos produtores não conseguiram cobrir os custos da produção e, consequentemente, buscam outras formas de sustento - longe da cadeia leiteira.
Dados no Brasil
No Brasil, o RS figura em segundo lugar na lista dos estados com maior produção leiteira. Fica atrás de Minas Gerais e na frente do Paraná, somente. O resultado foi lançado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE).


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