O Rio Grande do Sul é responsável por grandes demandas de transporte agrícola e de passageiros entre estados, países e dentro do próprio território. Parte dos produtos exportados para países integrantes do Mercosul passam pelos gaúchos, principalmente quando o destino final é a Argentina. Contudo, cerca de 88% do transporte de cargas e pessoas no estado é dependente do modal rodoviário, segundo o Atlas Socioeconômico, da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do estado. No comparativo com outras regiões do país, esse número cai para 65%.
As ferrovias gaúchas, por sua vez, são responsáveis por 6% do transporte do estado. A participação desse modal no Brasil é de 30%. Outros 3% da demanda logística do Rio Grande do Sul são supridos pelos principais portos públicos: Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre e Estrela. O professor do Departamento de Engenharia de Produção e Transporte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Luiz Afonso Senna, alerta sobre a necessidade de transformar o sistema de transportes do país em multimodal.
“Sem rodovias qualificadas, nós não temos a possibilidade de termos uma economia saudável. A gestão pública tem sido muito incompetente também nas hidrovias e nas ferrovias, que seriam as alternativas, eu diria mais do que alternativas, o complemento para o sistema que deve ser, obviamente, multimodal”, afirma o professor. O estudo mostra ainda que cerca de 3.800 km de estradas federais e estaduais no Rio Grande do Sul não são pavimentadas. O Portal da Transparência, site de prestação de contas do governo, mostra que o estado investiu mais de R$ 868 milhões no setor de transportes em 2018. Do total, 75% foram destinados ao modal rodoviário, o equivalente R$ 651 milhões.
No Congresso Nacional, as pautas para melhoria do setor de infraestrutura devem ser o foco dos parlamentares após a reforma da Previdência, segundo o deputado do PP gaúcho, Jerônimo Goergen. Para os próximos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, ele defendeu que sejam feitas parcerias público-privadas (PPPs) para acelerar o processo de manutenção e recuperação de rodovias no Rio Grande do Sul. “A segunda crise já é vista pelo mercado financeiro como a crise da infraestrutura. Se a economia aquecer, começar a produzir, começar a vender, começar a consumir, nós vamos nos debater com o problema da falta de infraestrutura. Tem municípios, como Chiapetta, que é buraco para chegar até lá”, ressalta ele.
Propostas
Com o objetivo de transformar o Rio Grande do Sul no melhor estado para viver e trabalhar, um grupo de voluntários criou o projeto Agenda 2020. O estudo apresenta mais de 800 propostas para garantir o desenvolvimento do estado gaúcho nos próximos anos. No setor do agronegócio, por exemplo, o documento destaca a carência na área de logística no transporte de grãos. Em 2017, o Rio Grande do Sul produziu mais de 35 milhões de toneladas de milho, soja, arroz, feijão e trigo. Como solução, a agenda aponta o escoamento por hidrovias.
O documento propõe ainda que a competitividade do mercado estadual depende de processo de concessão, uma vez que o governo não direciona recursos para obras de infraestrutura. No gráfico de prioridade apresentado dentro do setor, as estradas levam grande vantagem sobre os outros problemas do estado. Dentre as sugestões apresentadas pelo grupo de voluntários estão ainda o fortalecimento da Secretaria dos Transportes, concessões de manutenção, conservação e aumento da capacidade da infraestrutura pública, além da instituição de um Fundo Garantidos para PPPs.