O governo do Rio Grande do Sul anunciou nesta quinta-feira (19/9) a decisão de não dar continuidade ao processo da venda de um lote de ações ordinárias do Banrisul. O cancelamento do processo foi divulgado em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, durante a manhã, o governador Eduardo Leite concedeu uma entrevista coletiva, no Palácio Piratini, para dar mais detalhes.
“Essa decisão se dá em defesa dos interesses do Estado”, iniciou dizendo o governador, acompanhado do vice-governador Ranolfo Vieira Júnior e dos secretários da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso, da Casa Civil, Otomar Vivian, e da Comunicação, Tânia Moreira. “Tivemos ofertas em volume mais do que do suficiente para que se vendesse o lote completo das ações, no entanto, o preço ofertado não atendia ao que nós, governo, entendíamos como razoável para que essa operação fosse levada à conclusão. Nós entendemos que o negócio era consistente, era importante para o Estado, mas jamais faríamos uma venda a qualquer preço”, completou.
Leite reafirmou que o governo havia identificado a venda das ações ordinárias, mantendo o controle do Banrisul pelo poder público, como uma oportunidade de receita extraordinária para auxiliar o Estado a superar o déficit nas contas e que poderia ser utilizada de forma a colaborar com o programa de ajuste fiscal implementado em sua gestão.
“Fizemos uma estruturação do negócio de forma muito consciente e consistente, prova disso é que três dos maiores bancos do mundo estiveram presentes e fizeram a modelagem em conjunto”, ressaltou o governador.
O secretário da Fazenda complementou dizendo que o Banrisul e o Estado foram ao mercado acompanhados do “primeiríssimo time do mercado de capitais”, com nomes brasileiros e internacionais reconhecidos em todas as etapas, desde a equipe de advocacia aos auditores independentes.
“Isso é absolutamente inquestionável e uma prova da qualidade do ativo que se tinha e da oportunidade que se tinha de carregar essa oferta ao mercado. Não era um movimento de desespero, como disse o governador, e sim uma oportunidade que foi expressivamente discutida por todos os bancos internacionais. O Banrisul tem ações em bolsa há mais de uma década e a modelagem seguiu as melhores práticas de mercado, mas a decisão final é sempre do acionista. Não significa nenhum vício no processo, houve uma ampla base de investidores domésticos e internacionais, mas houve uma contaminação do processo pela atual situação do Estado”, afirmou Marco Aurelio.
O governador não descartou novas operações ligadas ao Banrisul, mas disse que de imediato o Estado está focado em outras ações estratégicas para recuperar o quadro fiscal e manteve o compromisso de pagar o salário dos servidores em dia.
“Esse é um propósito firme do nosso governo e continua a ser perseguido. Essa operação (de venda de ações) era uma oportunidade de viabilizar recursos extraordinários em volume que ajudariam o Estado no cumprimento dessa missão. Mas jamais foi a única forma, a única ferramenta ao qual o governo se alicerçou para poder fazer esse cumprimento, que não é apenas um compromisso, é uma estratégia de gestão. São 45 meses de salários em atraso no RS, isso não afeta apenas os servidores, isso afeta nossa economia como um todo”, apontou Leite. “Lançaremos mão de outras estratégias para colocar os salários em dia e ajudar na retomada no desenvolvimento do Estado”, acrescentou.
Histórico do processo
As ações que haviam sido colocadas à venda pertencem ao Estado do Rio Grande do Sul e, mesmo com a venda dos papéis, o controle do Banrisul permaneceria com o governo gaúcho.
De acordo com a Secretaria da Fazenda, a operação foi comunicada previamente ao mercado, por meio do Fato Relevante em 9 de setembro, garantindo total transparência ao processo, conforme determina a legislação.
A operação foi coordenada pelo Bank of America Merrill Lynch Banco Múltiplo S.A. (BofA Merrill Lynch), Banco Itaú BBA S.A. (Itaú BBA) e Banco J.P. Morgan S.A. (J.P. Morgan) e foram tomadas todas as ações em conformidade com dispositivos legais e previstos pelos órgãos reguladores.