Há 148 anos, centenas de fiéis caminham por cerca de 5 quilômetros até chegar ao distrito do Pulador, em Passo Fundo, para reafirmar a devoção a São Miguel. O santo protetor das famílias e defensor dos oprimidos assegura, nas preces em uníssono e nas mãos erguidas em direção aos céus, a procissão cristã mais antiga do estado que, no domingo (29), deve reunir mais de 15 mil pessoas.
A preparação para a festa religiosa, no entanto, inicia três meses antes na Paróquia São Vicente de Paulo, organizadora da Romaria de modo diverso ao início das festividades, quando estivera a cargo da comunidade do Pinheiro Torto, conforme conta o padre Carlos Jaroceski. "São organizados grupos para ajudar na liturgia, na divulgação e na parte social", menciona. Esses romeiros, segundo a contagem do pároco, ultrapassa os 100 voluntários. "O povo mais fragilizado sempre manteve essa fé e essa história. Se olharmos biblicamente, Jesus faz referência a isso quando fala aos fariseus sobre acolhida", remete-se. "Por isso, acredito que essa devoção a São Miguel está mais ligada aos mais simples", observa ele.
Os cristãos, em sua maioria moradores passo-fundenses, unem-se em oração "ao Anjo enviado por Deus", como menciona o padre, desde o dia 21 de setembro, quando a programação religiosa foi, oficialmente, aberta à comunidade com a festa das crianças com o Anjo da Guarda e encerra-se, no domingo (29), com a saída da procissão, do bairro Boqueirão às 9h, e o carregar da imagem de São Miguel, justamente, na data em que a Igreja Católica celebra o dia do arcanjo. "Precisamos valorizar a dignidade das pessoas para que elas vivam, como disse o Papa Francisco, a 'alegria do Evangelho'", enfatiza Jaroceski sobre a representação do protetor aos fiéis cristãos.
Uma fé hereditária
Entre os milhares de pés que, anualmente, caminham juntos em direção à Capela de São Miguel, a devota Marisa Cecília Lago vive ambas extremidades do percurso. Se, ainda criança, era amparada pelas mãos dos pais que a levavam, junto aos 5 irmãos, à peregrinação dos romeiros, é ela que, agora, guia as filhas e os dois netos, Emanuel, de 14, e João Pedro, aos 4 anos, pela rota traçada pelos cristãos. "Nós vínhamos da Comunidade de Santa Gema [distante 15km do ponto central da Romaria] para Passo Fundo, de carrocinha. Deixávamos o animal ali e íamos com a procissão", recorda. "Eu tenho uma fé muito grande e sempre peço proteção a São Miguel", declara.
Além de peregrinar ao lado dos seus, Marisa atua, há oito anos, com outros seis voluntários na preparação dos alimentos servidos durante a festa em honra ao santo encontrado por soldados negros da família Isaías, que voltavam feridos da Guerra do Paraguai, próximo a um terreno alagado na região das Missões.