A primeira mulher a presidir o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Gilda Galeazzi, assumiu o cargo na última quarta-feira (30), em Porto Alegre. A posse aconteceu depois de diversas polêmicas que permearam a eleição, realizada no dia 11 de janeiro: além de ter sido histórica para o movimento ao ser disputada por duas mulheres, a votação acabou empatada em 530 votos para cada chapa, motivo pelo qual foi parar na Justiça. A decisão que deu a vitória à Gilda foi proferida na semana passada pela juíza Carmen Barghouti, da 2ª Vara Cível do Fórum de Lajeado, com base no Estatuto do MTG. Conforme o entendimento da juíza, o documento determina que, em caso de empate, o vencedor do pleito deve ser o candidato mais velho.
Até que a posse da marauense Gilda fosse determinada judicialmente, o resultado da eleição suscitou uma série de incertezas e questionamentos. É que, na data do pleito, a comissão eleitoral determinou que a chapa que tivesse o conselheiro mais velho seria a ganhadora, legitimando assim a vitória da panambiense Elenir. Gilda, no entanto, recorreu à Justiça para questionar o critério de desempate adotado, sob o argumento de que a decisão feria o Artigo 127 do Estatuto do MTG. O documento prevê que, em caso de empate, a vitória deve ser dada à candidata mais velha. O critério previsto no regimento garantiu, portanto, a eleição da marauense para presidir o MTG, uma vez que ela tem 65 anos e a opositora, 62.
Sem perder tempo, a nova presidente do MTG deu o pontapé inicial na nova gestão ainda na quarta-feira, logo após a cerimônia de posse, encontrando-se com o governador do Estado Eduardo Leite. A partir de sábado, ela passa a trabalhar no Rodeio Internacional de Vacaria, para onde a sede do MTG será transferida temporariamente, durante a duração do evento, a fim de aproximar-se do público. O comportamento condiz com o prometido em campanha. Em entrevista cedida à reportagem de ON, na época da disputa pelo cargo, Gilda afirmou que sua chapa tinha como compromisso tirar as entidades de “quatro paredes”. “Ainda hoje, muitas pessoas que não convivem nas entidades pensam que elas sobrevivem de churrasco e de baile, quando na verdade nós temos um forte trabalho social, de formação e de ajuda aos cidadãos, mesmo que informalmente. Dependemos muito dos recursos humanos dos departamentos artísticos, campeiros e culturais para mantermos as entidades abertas porque todo trabalho é voluntário. Queremos muito mostrar essa realidade para quem ainda não conhece”, declarou.
Força feminina
O pioneirismo de Gilda dentro do movimento tradicionalista não é novidade na vida da marauense. Inserida em manifestações artísticas ligadas à tradição gaúcha desde 1967, ela passou a assumir funções administrativas em um Centro de Tradições Gaúchas em 1992, ao lado do marido. Depois, em 1995, desafiou padrões ao se tornar a primeira mulher a liderar a 7ª Região Tradicionalista, órgão responsável por coordenar a fiscalizar entidades tradicionalistas de Passo Fundo e de outros quarenta municípios da região. Foram 18 anos à frente do cargo que, segundo a própria, garantiram-na a experiência necessária para presidir o movimento a nível estadual. “Eu entendo que a mulher tem mais sensibilidade para administrar as coisas. Nós fomos conquistando nosso espaço com muito trabalho, o que nos permitiu ganhar o respeito de todos envolvidos”.