Aldeias indígenas recebem recursos, EPIs e cestas básicas durante pandemia

Uma segunda remessa levou EPIs para as equipes dos seis polos bases em Passo Fundo, Barra do Ribeiro, Porto Alegre, Osório, Viamão e Guarita

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Foto: Divulgação/SESFoto: Divulgação/SES
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Para conter a disseminação do coronavírus nas 145 aldeias e acampamentos indígenas do Rio Grande do Sul, a Secretaria da Saúde (SES) destinou recursos para a compra de água, alimentos e produtos de higiene para as famílias. O objetivo da medida é manter os índios nas aldeias presentes em 67 municípios gaúchos.

Também foram distribuídos equipamentos de proteção individual (EPIs) e cestas básicas, em parceria com a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH). Essas medidas reforçam o distanciamento social da população indígena do Estado, que hoje tem 24.399 índios aldeados das etnias Guarani, Kaingang e Charrua.

Conforme o especialista em saúde da área técnica de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas da SES, Guilherme Müller, no enfrentamento à Covid-19 "precisamos evitar a saída dos indígenas para ações comumente realizadas, como a venda de artesanato". A medida também reforça a insegurança alimentar, fortemente exposta nesse momento.

Repasses da SES

O valor mensal do repasse da SES para atendimento da população indígena varia de R$ 1 mil a R$ 4 mil por município, dependendo do número de indígenas presentes em cada uma das 67 cidades beneficiadas. O total chega a cerca de R$ 168 mil mensais. Diante da situação de calamidade pública, esse recurso é utilizado para compra de água, alimentos e produtos de higiene para as famílias.

Antes da pandemia, os recursos, previstos pela Portaria 946/2015 da SES, eram utilizados em diversas ações, como aquisição de insumos para as Unidades de Saúde Indígenas e educação permanente de profissionais das equipes. “Nos últimos anos, o incentivo tem contribuído para a redução das vulnerabilidades sociais nas aldeias e acampamentos”, salienta o especialista.

Distribuição de EPIs

Equipamentos de proteção individual (EPIs) também foram enviados para as comunidades indígenas do Estado, totalizando mais de 51 mil máscaras e cerca de 2 mil frascos de álcool gel de 100 ml entregues nas aldeias. Primeiramente foram destinados lotes de EPIs com 500 aventais, 1,5 mil pares de luvas, 1,5 mil máscaras e 30 máscaras face shields para as equipes de saúde indígena que atuam na Região Norte.

Uma segunda remessa levou EPIs para as equipes dos seis polos bases presentes no Rio Grande do Sul (em Barra do Ribeiro, Porto Alegre, Osório, Viamão, Guarita e Passo Fundo). Os polos são as primeiras referências na rede de atenção à saúde, os quais podem estar localizados dentro das áreas indígenas ou nos municípios de referência. Para essas equipes foram entregues 110 frascos de álcool gel de 1,7 kg, 450 frascos de álcool etílico, 10,7 mil máscaras, 1,2 mil máscaras N95, 5 mil luvas, 1.750 aventais e 180 máscaras face shields.

Cestas básicas

Mais de 6,6 mil cestas básicas já foram entregues a famílias indígenas pela Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, com o apoio da SES, que disponibilizou EPIs para os profissionais da saúde e indígenas que receberam os alimentos. Essas entregas foram realizadas nos seis polos bases da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). A ação compartilhada entre SES e SJCDH garantiu, também, que grande parte das famílias indígenas pudesse permanecer dentro das aldeias, sem o risco de contágio.

A especialista em saúde Jéssica Rosa Paranhos, integrante da equipe técnica da política de saúde dos povos indígenas da SES, considera que as medidas tomadas para a população em geral normalmente não podem ser transpostas para a realidade indígena sem observar as especificidades desses povos. “No momento de pandemia, isso se torna ainda mais evidente e complexo porque envolve uma rede de serviços e profissionais que não apenas aqueles envolvidos com as causas e políticas indigenistas”, explica.

“As situações graves de insegurança alimentar e vulnerabilidade social mostram a necessidade de atrelar a prevenção e promoção da saúde à responsabilidade dos gestores de saúde com esses povos ao papel fundamental das lideranças indígenas, como protagonistas para que as ações sejam efetivadas”, salienta Jéssica. “É necessário observar a lógica de vida coletiva das comunidades, os ciclos familiares que não se restringem a pai, mãe e filho.”

Ela ainda alerta sobre os riscos da proximidade das moradias em grande parte das aldeias e o uso cotidiano de áreas comuns e meios de geração de renda e subsistência que normalmente envolve a saída da aldeia, como é o caso da venda do artesanato, impossibilitada nesse período.


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