O ritmo de crescimento da prevalência de coronavírus no Rio Grande do Sul está desacelerando de acordo com a última etapa do estudo Epidemiologia da Covid-19 no RS (Epicovid-RS). A pesquisa é do governo do Estado e coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Os resultados foram divulgados pela coordenadora do Comitê de Dados, Leany Lemos, e pelo reitor da UFPel, Pedro Hallal, por meio de transmissão ao vivo na quinta-feira (10/9).
A oitava etapa da pesquisa estima que a proporção de pessoas com anticorpos para a Covid-19 é de 1,38% no Estado (de 1,06% a 1,76%, pela margem de erro), o que corresponde a um total de 156.753 (variação de 120.362 a 200.559) pessoas que têm ou já tiveram coronavírus na população gaúcha. A proporção é de um caso real de infecção por coronavírus a cada 72 habitantes do RS. Na testagem anterior, havia um caso positivo a cada 82 gaúchos.
Os resultados apontam crescimento menor da proporção de casos em relação ao registrado entre as fases anteriores de coleta de dados. A prevalência estimada pela pesquisa saltou de 0,47%, em junho, para 0,96%, em julho, atingiu 1,22%, em agosto, e teve o menor aumento relativo registrado na etapa realizada neste final de semana, com percentual de 1,38%. "Temos uma desaceleração da pandemia, que continua avançando no Estado, mas em um ritmo menor do que enxergamos em outro momento, especialmente durante o mês de julho", acrescentou Leany Lemos.
Para a coleta dos dados, profissionais da área da saúde realizaram 4,5 mil entrevistas e testes rápidos para o coronavírus, entre os dias 4 e 7 de setembro, em nove cidades. Os pesquisadores chamam a atenção para a concentração de casos em Canoas – dos 62 testes com resultado positivo, 19 são do município da Região Metropolitana.
Passo Fundo
Dez dos 62 casos confirmados foram encontrados em Passo Fundo, que é a segunda cidade com mais testes positivos nesta fase do estudo. Na cidade diminuiu o número de pessoas que ficam o tempo todo em casa. Na fase anterior eram 14,4% dos entrevistados, o número caiu para 11,8% nesta fase. Por outro lado, subiu o número de pessoas que saem diariamente de 40,4% para 43,8%. O número de pessoas que saem apenas para atividades essenciais passou de 45,2% para 44,4%.
Análise
"Com a evolução dos estudos sobre o coronavírus, pudemos interpretar de outra forma esse resultado. Antes, tínhamos a sensação de que essa testagem captaria as pessoas que foram expostas ao vírus em qualquer momento. A ciência descobriu que os anticorpos não duram tanto assim em uma intensidade capaz de ser detectada pelo teste. Na prática, uma pessoa que foi exposta em março ou abril pode dar resultado negativo, porque a quantidade de anticorpos não é suficiente para aparecer no teste. É um resultado novo da literatura. Não vemos mais como o total de pessoas que teve exposição ao vírus, e sim como o total de pessoas que teve exposição recente ou grave o suficiente para manter anticorpos detectáveis até hoje", detalhou o reitor.
Para o reitor, os resultados da oitava etapa reforçam que a ampliação da testagem no Estado reduziu a quantidade de casos não notificados pelas estatísticas oficiais. Para cada caso real de infecção, a pesquisa estima que exista 1,1 não registrado oficialmente.
"Podemos dizer com tranquilidade que o RS é o lugar que mais tem acompanhamento epidemiológico do coronavírus em todo o mundo. A prevalência no Estado já passou de 1%, estamos em 1,4%, e recomendamos a ampliação da testagem, com busca ativa das pessoas positivas", lembrou o reitor. Hallal destacou como preocupante a situação da cidade de Canoas nesta oitava fase.
A oitava etapa do Epicovid19-RS é a quarta e última da segunda fase de aplicação de testes rápidos que estabeleceu um intervalo maior entre uma rodada e outra. A pesquisa seguiu com a mesma metodologia das etapas anteriores.
O governo do Estado – por meio das secretarias de Planejamento, Governança e Gestão e da Saúde – está em tratativas para que a pesquisa seja renovada para pelo menos mais duas etapas.
Distanciamento Controlado
Quando comparados à sétima etapa da pesquisa, os dados da oitava etapa mostram que o número de pessoas que está seguindo as orientações de distanciamento social apresentou leve queda: 12,7% informou estar sempre em casa. No final de agosto, eram 12,8% dos entrevistados.
O número de pessoas que saem diariamente cresceu. Eram 32,6% dos entrevistados no final de agosto e, agora, foram 33,2%. A quantidade de pessoas que sai para cumprir atividades essenciais, porém, diminuiu: 54,1% dos entrevistados saem com essa finalidade. No final de agosto, eram 54,6% dos entrevistados.
Em retrospecto, o período em que os entrevistados se mantiveram em casa foi quando do resultado da primeira etapa da pesquisa, no começo de abril: 21,1% dos entrevistados alegaram estar sempre em casa. A partir daí, foi possível observar uma tendência de queda na permanência no lar. O inverso ocorreu com as pessoas que alegavam sair diariamente: eram 20,6% no começo de abril. Já a quantidade de pessoas que saíam para atividades essenciais diminuiu: eram 58,3% em abril.