REDE ESTADUAL: Expectativa e protestos contra o retorno às aulas presenciais

Marcada para a próxima terça-feira (20) ensino se dará de forma híbrida

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Luciano Breitkreitz/ON Luciano Breitkreitz/ON
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Em meio à retomada gradativa da normalidade, devido à atual redução dos índices do novo coronavírus no Rio Grande do Sul, o governo do Estado divulgou o cronograma e protocolos para o retorno das atividades escolares presenciais, ainda que de forma híbrida, para a rede estadual. A volta ocorrerá a partir da próxima terça-feira (20) e terá início pelo Ensino Médio e Técnico. No dia 28 de outubro, está previsto o retorno dos anos finais do Ensino Fundamental, enquanto em 12 de novembro, deverá ocorrer a retomada presencial dos anos iniciais do Fundamental.

Neste momento, as escolas estão trabalhando em regime de plantão para receber os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) necessários. De acordo com a coordenadora da 7ª Coordenadoria Regional de Educação (7ª CRE), Carine Weber, os EPIs começaram a ser entregues no início dessa semana. “As escolas já receberam uma certa quantidade de álcool, produtos de limpeza, papel toalha, mas outros itens estão chegando amanhã e na próxima semana”, aponta. Segundo ela, as máscaras serão garantidas para todos os alunos e professores. Dentre os equipamentos que ainda faltam ser entregues, estão termômetros, tapetes sanitizantes, mais uma quantidade de álcool em gel e uma série de itens de limpeza.

“As escolas só serão autorizadas a retornar quando receberem todos os itens”, afirma a responsável pela 7ª CRE, que abrange 32 municípios, incluindo Passo Fundo. Ainda a respeito da questão, Carine indica que a quantidade licitada de EPIs dá conta da finalização deste ano letivo. “À medida que forem acabando, tanto pode haver outra compra do Estado, como as escolas também podem fazer a reposição com os recursos da autonomia financeira, que elas recebem mensalmente para manutenções e aquisições de itens necessários”, comenta. Além da entrega dos EPIs, os protocolos também preveem mudanças na estrutura das escolas. Nas salas de aula, por exemplo, para realizar o distanciamento entre os alunos, haverá um limite de 50% de estudantes por sala. Também visando evitar aglomerações e maior contato entre os alunos, será realizado o isolamento de algumas áreas comuns, tais como quadras esportivas.


Índice de autorizações para retorno

O regime de plantão das escolas também está sendo realizado para a conclusão do levantamento do índice de famílias que não autorizaram o retorno de seus filhos às aulas presenciais. Conforme Weber, a divulgação deve ser feita na próxima semana. “O termo de manifestação de desejo da família é preenchido naquele momento, mas o pai que hoje não desejou a volta, amanhã pode manifestar-se positivamente. Então vai ser um dado muito cambiante”, ressalta. Entretanto, independentemente do número de alunos que deixem de retornar presencialmente, as escolas estaduais estarão abertas para atender os estudantes ali presentes.

Segundo a diretora do EENAV, Phélly Camargo, o levantamento ainda não foi concluído pelo colégio. Isso também é o que aponta o diretor do Instituto Estadual Cecy Leite Costa, Rodrigo Rodrigues. Porém, conforme estimativa do diretor, a grande maioria dos familiares rejeita o retorno neste momento. “Entre 80% e 90%”, prevê.


Ensino híbrido

Mesmo com o retorno das atividades escolares presenciais, uma parcela de alunos seguirá recebendo as aulas de forma online. A intenção por trás da volta presencial é, segundo Carine, focar nos alunos com maior dificuldade. “As escolas estão reabrindo, iniciando pelo Ensino Médio, para atender principalmente aqueles alunos que estão com mais dificuldade e que não estão acompanhando as aulas remotas”, explica. No caso de alunos que não possuem condições de acesso ao ensino remoto, realidade presente na rede pública, suas atividades seguirão sendo entregues de forma impressa.

Junto ao retorno presencial, haverá também um escalonamento das aulas, tanto para alunos, quanto para professores. Sendo assim, os estudantes que decidirem voltar presencialmente, alternarão entre uma semana presencial e outra de forma online. “O retorno é escalonado e gradativo”, comenta Weber.


Merenda

Conforme a coordenadora da 7ª CRE, existem cenários diferentes para a disponibilização da merenda escolar, devido ao fato de algumas escolas não terem refeitório em sua estrutura. “Está sendo estudada a possibilidade de servir marmitex aos alunos”, indica. Porém, segundo o diretor do Cecy Leite Costa, as orientações a respeito da merenda ainda não foram passadas para a escola. “Há a possibilidade das aulas voltarem sem a merenda em um momento inicial”, diz Rodrigo.


Sindicato

O iminente retorno das atividades escolares presenciais vem sendo alvo de protestos no Estado. Em Passo Fundo, não foi diferente. Na tarde dessa quinta-feira (15), o CPERS Sindicato realizou um ato simbólico em frente à 7ª CRE para protestar quanto à decisão. Para o diretor-geral do sindicato no município, Orlando Marcelino, a abertura das escolas “significa o caminho da morte para a categoria e comunidade”, afirma. Na ação, os manifestantes vestiram-se de preto para caracterizar a morte.

Segundo ele, o posicionamento do sindicato é em defesa da vida. “Nosso entendimento é que agora somos contra, porque a reabertura das escolas vai impulsionar ainda mais a pandemia e isso vai botar em risco a vida das pessoas, também podendo gerar uma segunda onda de contágio, que prejudicaria, inclusive, a economia, preocupação de muitos”, atesta Orlando. Nos próximos dias, o CPERS poderá retomar a discussão sobre a ‘greve sanitária em defesa da vida’. “O trabalhador não compareceria ao trabalho, para defender sua vida. A nossa proposta era não comparecer ao trabalho, mas continuaríamos com o trabalho online. Não é uma greve por salário, direitos trabalhistas, mas sim em defesa da vida”, elucida sobre o que se trata a discussão.

O retorno dos professores às atividades presenciais é um dos temas que está sendo discutido pelo CPERS Sindicato. “Estamos com o calendário para se encerrar em janeiro, então por que botar em risco a vida de todo mundo por dois meses de aula se pode continuar online? Acho que é uma medida completamente equivocada, que além de botar em risco de vida os trabalhadores e famílias dos estudantes, também poderá voltar ao aumento da pandemia”, conclui.


Nota oficial

Outra entidade do município a se posicionar contrária à volta das aulas na rede estadual no momento foi o Comitê Popular por Saúde, Democracia e Direitos. Em nota oficial, lançada na última quinta-feira, a entidade manifestou a sua preocupação a respeito da decisão. A posição do comitê, segundo o coordenador, Paulo Carbonari, é de que o retorno às escolas representa produzir um risco excessivamente grave e sobre o qual ainda existem poucas alternativas de garantia que haja segurança. “O que temos visto em outros lugares do mundo que já chegaram a curvas bem mais satisfatórias de contenção [da doença], com reduções drásticas, é que quando foram reabertas as escolas, em poucas semanas tiveram que fechar”, reitera Carbonari.


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