Iniciando o quarto ano de atividade, o Programa Gaúcho para Qualidade e a Valorização da Erva-mate, (Pgmate/RS), da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), que é executado pela Emater/RS-Ascar, em parceria como setor ervateiro, encerrou o ano de 2020 com os resultados do “Diagnóstico da fertilidade do solo e estado nutricional dos ervais do RS”. Trata-se de um projeto inédito realizado nos cinco polos ervateiros do Estado e verifica a situação nutricional da erva-mate, árvore símbolo do RS, e o manejo adotado pelos produtores rurais na condução da atividade.
Os cinco polos ervateiros no Estado contam com 205 municípios e estão identificados por Missões/Celeiro (Palmeira das Missões), Alto Uruguai (Erechim), Nordeste Gaúcho (Machadinho), Alto Taquari (Ilópolis) e Região dos Vales (Venâncio Aires). No total, nos cinco polos a área alcança 31,6 mil hectares e uma produção de 277 mil toneladas de folha, segundo dados do último levantamento realizado em 2020, considerando as perdas pela estiagem sofrida na safra.
O diagnóstico, iniciado no ano passado, é um trabalho conjunto realizado pela Emater/RS-Ascar e o Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Seapdr, que tem como objetivo principal a geração de informações relacionadas com as condições de fertilidade do solo e nutrição vegetal dos ervais do RS. Além dessa prática, um questionário também foi aplicado junto aos produtores para reunir informações ligadas ao manejo dos ervais e condições socioeconômicas das famílias.
De acordo com o Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Seapdr, na primeira fase do projeto foram coletadas amostras em 128 propriedades, sendo observada uma produtividade média 746@/ha (arrobas por hectare). “Este valor pode ser considerado baixo, tendo em vista que o potencial produtivo da cultura é mais que o dobro desta produtividade”, apontou o pesquisador Bruno Brito Lisboa. Cerca de 30% dos ervais apresentaram produtividade abaixo de 500@/ha, enquanto outros 30% colhem mais de mil arrobas por hectare. Segundo o pesquisador, este contraste em termos de produtividade é o responsável pela baixa média geral do Estado, que, de maneira geral, são semelhantes nos cinco polos ervateiros.
“Estamos buscando identificar os fatores relacionados à fertilidade do solo e nutrição vegetal que possam estar limitando a produtividade dos ervais gaúchos. Os resultados das análises de solo indicam que, de maneira geral, existe uma deficiência de P (fósforo) nos solos, o que é uma condição comum no RS, e também a ocorrência frequente de baixa disponibilidade de Ca (cálcio). Por outro lado, o K (potássio) encontra-se em teores adequados na grande maioria dos ervais, bem como os níveis de matéria orgânica, a qual, entre outras funções, está ligada à disponibilidade de N (nitrogênio) para as plantas. Em relação à acidez do solo, como o esperado, o pH médio das amostras foi de 4,9. Para a maioria das culturas, este valor seria limitante para a produtividade, porém, no caso da erva-mate, uma planta nativa adaptada a esta condição, isto não é um problema, mas pode gerar dificuldade para o manejo de plantas de cobertura do solo que não possuem a mesma tolerância para solos ácidos”, explicou Lisboa.
O pesquisador salientou ainda que é necessário conhecer como as condições da fertilidade do solo estão impactando a nutrição das plantas. Nesse sentido, a análise foliar é uma ferramenta para auxiliar no diagnóstico das condições nutricionais das plantas, porém, ainda não existem valores de referência de teores foliares de nutrientes para a erva-mate.
Por essa razão, um dos objetivos desse projeto é a geração de informação e indicadores. “Até o momento, já foi possível a elaboração de algumas aproximações que indicam, por exemplo, que apesar da baixa disponibilidade de P (fósforo) nos solos dos ervais, este fator não está sendo limitante para a obtenção de elevadas produtividades. Esse tipo de informação é importante, pois permite saber se a baixa produtividade do erval está ligada a questões relacionadas somente a fertilidade do solo ou se também é em função de práticas de manejo, como poda, cobertura do solo ou outras”, completou Lisboa.
O trabalho de diagnóstico nutricional dos ervais gaúchos segue em andamento. A segunda fase do projeto será iniciada em breve e contemplará a coleta de novas amostras em, pelo menos, mais cem propriedades. Esta nova fase tem como propósito o aumento da representatividade dos resultados.
Do ponto de vista da extensão rural, o projeto representa um novo cenário no tema nutrição da erva-mate, visto não se ter ainda no RS uma análise tão especifica e completa como a que se está buscando. “A interpretação do diagnóstico e o balanço nutricional adequado para cada erval, em cada situação, além de melhorar a viabilidade econômica do empreendimento irá garantir melhor qualidade na matéria prima, maior longevidade das erveiras e um equilíbrio no sistema produtivo, com aportes de maior sustentabilidade”, afirmou o extensionista rural da Emater/RS-Ascar, Ilvandro Barreto de Melo.
Segundo Melo, outro fator importante que resultará deste trabalho é a compreensão da relação entre as práticas tecnológicas adotadas comparadas à prática específica de adubação, “visto haver no Estado uma enorme amplitude entre diferentes produtividades, que vão desde 150 arrobas por hectare até produtividades superiores a duas mil arrobas por hectare. Algo está errado, precisamos compreender o porquê e corrigir essa distorção”, enfatizou o extensionista.
Essa é uma das razões, de acordo com Melo, que justificam a importância do Pgmate/RS na efetivação de ações conjuntas entre os participantes da cadeia produtiva ervateira, da mesma forma que traz benefícios diretos ao consumidor, melhorando a qualidade dos produtos mate, independente das formas de uso ou de consumo, que são variáveis e com muitas opções.
As entidades e lideranças que trabalham junto à cadeia produtiva da erva-mate reconhecem esse trabalho como um impulsionador para a atividade, que trará qualificação para toda a cadeia produtiva. “O diagnóstico nutricional dos ervais vem consolidar o reconhecimento pelo setor ervateiro do RS, esta que é a segunda maior cultura permanente do nosso Estado em termos de área. Esse é mais um passo dentro do Pgmate/RS. Há muito a ser feito em busca do aumento da produtividade e isso passa pela nutrição dos ervais. Este diagnóstico vem mostrar a realidade das nossas plantas e, assim, ações poderão ser planejadas para fomentar ainda mais a atividade, influenciando os produtores a investir na cultura como alternativa de renda, regular e atrativa”, destaca o presidente da Associação dos Ervateiros do Polo Celeiro/Missões, Paulo Lima.
Segundo Lima, da mesma forma como foram realizadas ações envolvendo as Boas Práticas de Fabricação (BPF), que resultaram em melhorias expressivas para o setor, esse também se tornará um marco divisor para a cadeia produtiva, especialmente pelas Boas Práticas de Produção. “Isso fortalece o setor, fortalece o associativismo, valorizando os produtores e as associações, entidades que compõem a cadeia produtiva da erva-mate”, frisou.