Ao mesmo tempo em que a tragédia causada pelas enchentes parece não dar trégua e revela a cada dia novas nuances do caos, a esperança de retomada da normalidade se alimenta da solidariedade de milhares de pessoas que destinam seu tempo, dinheiro ou doações de suprimentos, num propósito de aliviar os atingidos do sofrimento. São muitos os exemplos vindos de todas as partes do país e do mundo. Seja partindo de voluntários, individualmente, de ONGs, ou agentes públicos, essa cadeia de união será, ainda, muito necessária pra reerguer cidades destruídas, que, das pequenas às grandes, além das muitas vítimas, registram perdas estruturais enormes.
Para ajudar nessa reconstrução, partiu da região norte do Rio Grande do Sul nessa terça-feira (14) um comboio formado por 28 caminhões e máquinas pesadas, de diferentes prefeituras, rumo a Encantado, Roca Sales e Muçum. Esses três pequenos municípios, mais uma vez, foram arrasados pela cheia do Rio Taquari. “O cenário é de muita destruição”, resumiu o presidente da Associação dos Municípios do Planalto Médio (AMPLA), e prefeito de São Domingos do Sul, Fernando Perin, que se deslocou junto com o comboio. “Decidimos em conjunto com os 21 municípios da AMPLA, aqueles que tinham a possibilidade, por nos reunir e partir de Casca às 6h30, levando, além dos veículos, muitos mantimentos e mais de 50 voluntários, integrantes das nossas comunidades”.
Conforme conta, a ação tem como objetivo ajudar, principalmente, na limpeza geral, incluindo a desobstrução de ruas, organização nas áreas de comércio, residências, e no restabelecimento de serviços essenciais. Num primeiro momento, 13 prefeituras cederam os veículos e as equipes necessárias para a operação de, por exemplo, caminhões-pipa, retroescavadeiras, carregadeiras, escavadeiras hidráulicas, dentre outros equipamentos. Os custos de operação, como combustível, também são arcados por esses municípios que estão auxiliando, e, segundo adianta Perin, mais prefeituras integrantes da AMPLA destinarão ajuda semelhante nos próximos dias.
Cidades enfrentam constantes alagamentos
A trégua na chuva na semana passada resultou num breve período de alívio às comunidades do Vale do Taquari. Alguns voltaram para casa, começaram a juntar o que havia sobrado e deram início a limpeza. No fim de semana, entretanto, voltou a chover, e os rios que cruzam a região mais uma vez tomaram ruas e residências nos bairros ribeirinhos.
No município de Muçum, a população enfrenta a quarta inundação em oito meses. De acordo com a Prefeitura, no dia 12 de maio, 11 dias após o último evento de inundação, os Rios Taquari e Guaporé novamente invadiram a cidade.
No domingo (12), conforme a Prefeitura de Roca Sales, o nível do Rio Taquari chegou a 20,60 metros e também alagou vias locais. Em função da retirada preventiva das doações colocadas em um ginásio, a fim de evitar possível alagamento, a distribuição de donativos foi prejudicada na segunda-feira, sendo normalizada no dia seguinte.
Com o passar dos dias, mesmo com a redução no nível do Rio Taquari, a Prefeitura de Encantado solicitou que os moradores ribeirinhos não retornem para as suas casas por enquanto, motivada pela previsão de chuva para os próximos dias.
Por onde esteve, relata o presidente da AMPLA, as comunidades ainda enfrentam, em alguns locais, restrições no abastamento de energia elétrica e água. “É uma situação devastadora, com muitos estragos, são cidades destruídas. Ainda precisa de muita ajuda para limpar, restabelecer as estradas”, finaliza Fernando Perin, ao solicitar a contribuição de mais voluntários, que podem procurar as prefeituras de suas cidades, que, por sua vez, poderão direcionar o apoio aos locais necessitados.