O envelhecimento dos doadores de sangue: uma preocupação global

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Foto: Fernando FrazãoFoto: Fernando Frazão
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(*) Dra. Cristiane da Silva Rodrigues de Araújo


A doação de sangue é um ato fundamental para o sistema de saúde, já que os pacientes que necessitam de transfusão dependem exclusivamente da solidariedade da comunidade. Estimativas do Ministério da Saúde apontam que 1,6% da população brasileira é doadora e que 42% desses são jovens da faixa etária entre 18 a 29 anos. A partir disso, reforça-se a necessidade de focar ações de marketing social orientadas à captação e fidelização desses indivíduos. Com o avanço da medicina, aumento da expectativa de vida do brasileiro, o MS ampliou a faixa etária de doadores de sangue no país de 67 anos para 69 anos. Sabe-se que hoje há no Brasil aproximadamente 20 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos e que, em 2025, esse número chegará a 32 milhões. Com o aumento da expectativa de vida para 75 anos, mostra-se imprescindível a viabilidade de futuras modificações na política vigente. Por exemplo, nos Estados Unidos, até 1978, a idade limite de doação de sangue era de 65 anos de idade. Hoje a maioria dos serviços de doação não estipula idade limite e a maioria dos idosos doadores possui entre 71 a 76 anos, com um grande número de idosos acima de 80 anos. A Alemanha alterou a política de doação de sangue em 2005, com mudança nos limites de 65 para 68 anos. Além disso, o Serviço de Sangue da Cruz Vermelha da Alemanha admite doadores de sangue sem limite de idade.


Fidelizar doadores

Sendo assim é de extrema importância o desenvolvimento de estratégias que atraiam e fidelizem doadores de todas as faixas etárias, estabilizando as coletas de sangue durante todas as épocas do ano. Na Faculdade de Medicina da UPF, destaca-se o Trote Solidário, promovido pelo Sindicato Médico do RS, e o Intramed, evento esportivo com uma prova social envolvendo a doação de sangue. Nesse contexto, foi realizado um trabalho de Extensão da UPF em parceria com o Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo em 2019 e teve como objetivo avaliar essas ações sociais e seus impactos no número de doadores de sangue. De um total de 109 jovens cadastrados, com média de 20,7 anos de idade, sendo 49 doadores de primeira vez e 60 de repetição. Como conclusões do estudo destacaram-se: não restam dúvidas quando ao impacto positivo das ações de marketing social universitárias sobre o número absoluto de doadores de sangue. O elemento de alerta dessa análise volta-se as causas de inaptidão clínica dos jovens, como comportamento de risco e uso de drogas. Dessa forma, mostra-se a importância da orientação sobre as contraindicações da doação e retomar a sensibilização da população jovem sobre as formas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST).


Doadores do Amanhã

Em 2018 foi criado o Projeto de Extensão “Doadores do Amanhã” com o intuito de sensibilizar os futuros doadores de sangue, por meio de ações de Extensão da UPF realizados por acadêmicos de medicina, jornalismo e funcionários do hospital São Vicente de Paulo juntamente com a Secretaria de Educação, Câmara de Vereadores, Academia Passo-Fundense de Letras, direcionadas as crianças e jovens estudantes das escolas municipais de Passo Fundo. O objetivo do projeto Doadores do Amanhã foi sensibilizar futuros jovens doadores sobre a importância da doação de sangue, por meio da educação e profissionalização de educadores das Escolas Municipais de Passo Fundo/RS e realizar a perpetuação destas ações através da lei criada sobre o tema. Deste projeto foram elaborados dois livros. Estas duas obras foram desenvolvidas com o objetivo de explicar o projeto e servir como um manual, dando um norte de como as escolas desenvolverão esta temática a partir das experiências das escolas piloto. E para que fosse possível a concretização da Lei, contamos com o apoio direção do HSVP e da UPF, e em especial do Vereador Saul Spinelli, na época e hoje o Secretário de Cidadania e Assistência Social do Município de Passo Fundo.


Doadores conscientes

Como médica e professora sinto-me muito honrada e orgulhosa em contribuir para a educação brasileira, como, também, para a saúde pública. Os livros e as demais atividades realizadas no projeto contribuirão na formação de futuros médicos e demais profissionais de forma humanizada além de, se tornarem captadores e disseminadores de informações relevantes sobre a doação de sangue contribuindo com a manutenção dos estoques de sangue em Passo Fundo. As atividades realizadas pelos educadores nas escolas irão contribuir para doadores de sangue conscientes. Acredito que este é um trabalho que proporcionará frutos de curto, médio e longo prazo. Diante de tantos desafios que a pandemia trouxe, é de extrema importância ter um olhar para todos os públicos, tanto os jovens que terão ao longo de todas suas vidas para fazer esse gesto nobre da doação de sangue, assim como os doadores acima de 60 anos e desta forma desenvolver a consciência do seu papel social da responsabilidade de salvar vidas através da doação de sangue.


(*) Dra. Cristiane da Silva Rodrigues de Araújo é especialista em Hematologia e Hemoterapia, Mestre e Doutoranda em Envelhecimento Humano-UPF, professora da Faculdade de Medicina UPF, gestora e Responsável Técnica do Serviço de Hemoterapia do HSVP.



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