Menos de 20% das pessoas que sofrem algum tipo de fratura têm suas causas investigadas e tratadas. Infelizmente, dados como esse mostram o quanto a osteoporose ainda é uma doença invisível aos olhos do mundo. Em Passo Fundo, o Hospital São Vicente de Paulo e a Clínica IOT desenvolvem um sistema, chamado de Osteotrati, que busca mudar as estatísticas. O objetivo é identificar, junto aos atendimentos dos hospitais, os casos de fraturas por trauma de baixo impacto (queda da própria altura, após erguer objeto do chão, entre outros) e acompanhar esses pacientes para evitar que eles apresentem novas fraturas por osteoporose.
Tratamento integrado
O Osteotrati é o único serviço de tratamento integrado de osteoporose do Rio Grande do Sul certificado com padrão Ouro pelo programa Capture the Fracture da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF). O Dr. Vinícius Kuhn, ortopedista e cirurgião de joelho responsável por coordenar as atividades nas instituições, diz que a sociedade precisa ser educada em relação à osteoporose. “Primeiro que ninguém procura ajuda para algo que desconhece. Em segundo lugar, é dever do profissional de saúde investigar a doença de acordo com a necessidade individual de cada pessoa. O alerta chega com uma queda simples, que resulta em uma fratura por um trauma pequeno. Se nada for feito, fatalmente, ali na frente teremos mais problemas”.
Diagnóstico
A osteoporose é uma doença silenciosa, sem sintomas ou dores, que atinge cerca de 10 milhões de brasileiros. De acordo com o especialista, o diagnóstico é mais comum após os 50 anos, quando uma a cada três mulheres e um a cada cinco homens apresentam uma fratura. O risco destas mulheres terem uma fratura é maior do que o risco de se ter câncer de mama, ovário e útero, somados. Para os homens é maior o risco de fraturas do que o de câncer de próstata. Além da idade ser um fator de risco importante para osteoporose, a presença de maus hábitos de vida, como sedentarismo, tabagismo, alcoolismo e má nutrição também podem piorar a qualidade óssea. Doenças crônicas e seus tratamentos são outras causas conhecidas de perda de massa óssea, por isso é essencial a completa investigação por um profissional habilitado”. O médico destaca que o envelhecimento da população serve de alerta para que o mundo deixe de negligenciar a osteoporose. “De 2012 a 2019, o número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil aumentou 29,5%. É estimado que até 2050, mais de 30% da população brasileira tenha mais de 60 anos. Para se ter uma ideia, essa população representava 9,2% do total, em 2018. Esses números vão levar ao absurdo de termos uma fratura de quadril a cada 2,6 minutos no Brasil. A osteoporose não dá sinais até que uma fratura aconteça. Portanto, serviços como do Osteotrati são fundamentais para a investigação e o tratamento preventivo.”
Individualidades
A osteoporose não deve ser vista como um problema que tem uma receita padrão para todas as pessoas. Cada indivíduo possui individualidades, histórias e suas necessidades. É necessário que o profissional da saúde tenha um arsenal terapêutico vasto e investigue profundamente as causas de perda óssea. Segundo o ortopedista e cirurgião, não se deve fornecer suplementos alimentares aleatoriamente às pessoas. “Qualquer complementação vitamínica ou mineral é indicada apenas quando e na dose que a pessoa em questão necessita. Sustentar a ideia de que após tal idade todos precisam usar suplementos, em certa dose, é completamente equivocada”. Um outro agravante da doença é que a grande maioria da população não recebe tratamento adequado, ou seja, mais de 80% das pessoas que já tiveram uma fratura não foram investigadas para evitar novas fraturas. “Precisamos que se fale mais sobre osteoporose, que tenhamos campanhas dos órgãos competentes para atuar de forma contundente nisto, pois com o tratamento adequado conseguiremos diminuir em pelo menos 50% a incidência de novas fraturas. O impacto desta redução seria enorme, porque as fraturas, mesmo que possam ser corrigidas, deixam sequelas que diminuem a qualidade de vida. Fraturas podem levar a dor crônica, perda de mobilidade, e até à morte. Então, se temos como evitar que isso aconteça, devemos agir e trabalhar com prevenção”, alerta Vinícius Kuhn.