A beleza dos cílios e a saúde dos olhos

(*) Dra. Gabrielle Senter

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Foto: Bessi/PixabayFoto: Bessi/Pixabay
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Ao passarmos um olhar atento na timeline de uma rede social, folhear revistas ou mesmo encontrando conhecidos no dia-a-dia, não é difícil percebermos o aumento do número de pessoas, especialmente mulheres, buscando realçar a beleza do olhar com a ajuda das mais diversas intervenções da estética e cosmética. Na busca desse realce da beleza dos olhos, alcançar cílios mais longos, curvados ou volumosos, e os tratamentos e intervenções que prometem esse resultado, há tempos ganham atenção e adeptos em todo o mundo. Na última década, vem se popularizando mundialmente a técnica de extensão de cílios, para ganhar volume e comprimento de maneira mais duradoura e de aparência mais natural quando comparada ao uso dos já tradicionais cílios postiços. Com este procedimento, fios sintéticos são colados, um a um, aos cílios naturais, podendo alcançar uma duração de 2 a 3 semanas.


Atendimentos médicos

Estudos em diversos países vem mostrado nos últimos anos, um aumento no número de atendimentos médicos oftalmológicos por queixas relacionadas aos cílios, concomitantemente ao crescimento no número de adeptos da técnica de extensão. As colas que contém substâncias orgânicas aplicadas muito próximas aos olhos, têm sido responsabilizadas pelas mais variadas condições oculares incidentes nestes pacientes. Estudos também mostram que o nível e o modelo de formação dos profissionais responsáveis pela aplicação dos cílios não são padronizados ou certificados por entidade reguladora única, para a qual os profissionais poderiam reportar e notificar suas complicações. Entre os tratamentos não-médicos de beleza na região dos olhos, a extensão de cílios é a que mais causa consultas oftalmológicas.


Distúrbios

Um estudo japonês fez uma análise sobre os distúrbios oculares provocados pela extensão de cílios. Foram analisados casos de 107 mulheres, com idades entre 21-60 anos, que procuraram clínicas oftalmológicas com sintomas decorrentes de extensões de cílios. Nenhuma tinha histórico de doença ocular prévia. Os pesquisadores também visitaram salões de beleza, acompanharam os procedimentos e analisaram ingredientes de 3 colas de diferentes marcas, usadas nesses salões. As causas de procura por consultas oftalmológicas foram: - Ceratoconjuntivite (64 casos), trata-se de inflamação da conjuntiva e da córnea pela invasão da cola ou dos agentes removedores para dentro da superfície dos olhos; Blefarite alérgica (42 casos), se caracteriza por uma inflamação da margem palpebral causada pelas colas; Erosão de conjuntiva (03 casos), devido as fitas adesivas fixadas nos cílios; Hemorragia subconjuntival (01 caso), por compressão do globo ocular durante processo de remoção dos cílios. Em alguns os sintomas oculares e palpebrais iniciaram logo após a aplicação, porém, em outros, pode levar horas ou dias para terem início.


Agentes causadores

Como principal agente no surgimento dos problemas, responsabilizou-se o nível de formaldeído encontrado nas diversas colas utilizadas, um produto que causa ceratoconjuntivite. Os pesquisadores também detectaram chumbo e ácido benzoico na composição dessas colas, embora em níveis improváveis de causar problemas aos olhos. Além das colas, outras causas foram os ingredientes dos agentes de remoção da cola, feridas que surgiram em função da fixação de fitas adesivas nas pálpebras ou da pressão demasiada a sobre o olho durante a remoção da extensão.


Recomendações

Para minimizar as complicações oftalmológicas do procedimento, além de capacitação adequada e materiais de qualidade, os estudos recomendam que estejam atentos ao período de solidificação completa da cola, que é de pelo menos 5-6 horas. Mesmo que não tenha entrado em contato direto com os olhos, sua posterior vaporização com umidade e temperaturas corporais altas, ou mesmo dissolução durante a lavagem do rosto, podem só causar lesões oculares. É importante também que a extensão de cílios não seja usada em pacientes com histórico de alergias. Colas de cianoacrilato se mostraram parcialmente mais seguras do que as que contém formaldeído. Além disso, mãos e dedos do profissional, assim como materiais usados devem ser sempre desinfectados, e orientações sobre a solidificação da cola e sobre sinais de alerta devem sempre ser compartilhadas com os clientes. Ao buscar recursos como este na beleza dos seus cílios, procure um profissional capacitado, garanta que seus produtos sejam de qualidade e sempre procure seu oftalmologista, ele é o profissional mais preparado para cuidar com segurança da saúde dos seus olhos. (Com base em estudo publicado na revista The Journal of Cornea and External Diseases)

(*) Dra. Gabrielle Senter é Oftalmologista Especialista em Uveítes e Retina atua no Hospital da Visão em Passo Fundo.


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